Um dia depois de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter anunciado a abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o governo indicou que vai agir para um desfecho rápido da crise. Em reunião com 23 ministros, nesta quinta-feira (3), no Palácio do Planalto, Dilma mostrou confiança na derrota de Cunha, seu algoz. O Planalto articula para que o Congresso suspenda o recesso parlamentar, neste fim do ano, com o objetivo de votar o impeachment.
“Vamos para o enfrentamento. Está chegando ao fim a estratégia de não deixar o governo governar”, afirmou a presidente, segundo relato de participantes da reunião. O ministro-chefe da Casa Civil, J aques Wagner, foi na mesma linha e disse que não faz sentido o Legislativo tirar folga neste momento. “Não me parece razoável que o Parlamento se desligue, já que se abriu um processo de tentativa de votar o impedimento da presidente”, disse ele.
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A notificação do processo de impeachment dirigida a Dilma foi recebida no fim da tarde de quinta, no Planalto, pela Subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência da República. A partir de segunda-feira (7), Dilma terá até dez sessões para apresentar sua defesa formal à comissão especial da Câmara.
Pressão das ruas
O governo tem pressa por avaliar que, em 2016, a oposição pode mobilizar as ruas contra Dilma, uma situação considerada mais difícil no fim do ano. O temor na Esplanada é de que os protestos ganhem força, com a economia em recessão e o país paralisado. Além disso, 2016 é um ano de eleições municipais, o que agravaria ainda mais o cenário para o PT e o Planalto. Os adversários, porém, farão de tudo para prolongar a agonia de Dilma.
“Agora que a faca foi puxada, as coisas ficarão mais claras e vamos ver quem é quem”, comentou Wagner. A estratégia do governo consiste em carimbar Cunha como “chantageador”, que só decidiu deflagrar o impeachment depois que os três deputados do PT no Conselho de Ética anunciaram que votarão contra a sua anistia.
Na noite de ontem, após a reunião com os ministros, Dilma teve uma conversa reservada com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ela aposta na aliança com Renan para conseguir aprovar a convocação extraordinária do Congresso no recesso e segurar o pedido de deposição feito pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal.
A ordem no Planalto é para que todos defendam publicamente o governo e façam um contraponto com Cunha, acusado de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado de contratos da Petrobras.
Dilma precisa de 171 votos no plenário da Câmara para derrotar o impeachment. Embora a base aliada esteja em frangalhos, a presidente avaliou ontem que, se o Congresso aprovou a alteração da meta fiscal na quarta-feira, o governo conseguirá votos para vencer a articulação para afastá-la do cargo.
Justiça
Na conversa com Renan e na reunião com os ministros, Dilma também demonstrou confiança nas ações no Supremo Tribunal Federal para barrar o processo aberto por Cunha. “Mas a entrada na Justiça nada tem a ver com postergação. Nossa decisão é fazer o processo mais rápido possível, combinando legalidade com celeridade”, insistiu Wagner.
Na próxima semana, Dilma deve receber governadores de partidos aliados, que vão lhe manifestar apoio. Em nota divulgada ontem, governadores do Nordeste escreveram que “a decisão de abrir o tal processo de impeachment decorreu de propósitos puramente pessoais, em claro e evidente desvio de finalidade”. O texto termina com um tom nacionalista: “Em vez de golpismos, o Brasil precisa de união, diálogo e de decisões capazes de retomar o crescimento econômico, com distribuição de renda”.
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