A menos de cem dias da abertura oficial, a Olimpíada chega ao Brasil em meio a um conturbado momento político, com o possível impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), em processo no Senado Federal.
Nesta terça-feira (3), a cerimônia de entrega da tocha olímpica ao governo brasileiro marca o início da reta final de preparação para os Jogos do Rio e também uma ocasião para Dilma reiterar o discurso contra a ação política.
PLACAR: Veja como os senadores devem votar o impeachment de Dilma
Confira o mapa com o percurso da tocha olímpica no Brasil
Leia a matéria completaCom a atenção internacional voltada para o Brasil, Dilma deve aproveitar o evento como uma oportunidade de tentar reverter o processo no Senado, já que ainda não se sabe se a petista participará da abertura oficial da Olimpíada como chefe do Executivo.
Se ela sofrer o afastamento pela Casa, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) deve assumir interinamente a cadeira presidencial por 180 dias, o que coincide com o início dos Jogos.
Para o cientista político da UFPI, Vitor Sandes, assim como ocorreu durante a realização da Copa do Mundo 2014 no Brasil, há um grande processo interno de desconfiança política, o que deve gerar um descrédito internacional.
“Mas, agora, diferentemente do que ocorreu na Copa, há um foco maior no próprio processo de impeachment e nos rumos que o país pode tomar do que na crítica à organização e aos gastos com o evento”, contrapõe.
Dilma também sofreu com a crítica durante a Copa das Confederações, um ano antes da Copa do Mundo. Em ambos os jogos de abertura, ela foi hostilizada pelo público presente nos estádios – um efeito dos protestos de rua, que iniciaram em junho de 2013 e se estenderam até 2014.
As manifestações começaram como reação ao aumento do preço das passagens de ônibus, mas logo tomaram como foco os abusos no gasto de dinheiro público.
Para Marcio Coimbra, coordenador do MBA de relações institucionais do Ibmec, a candidatura do Brasil para sediar esses eventos esportivos, como tentativa de melhorar a imagem do país mundo afora, foi “um tiro que saiu pela culatra”. “A estratégia de organização dos eventos foi totalmente equivocada e, com a atenção internacional voltada para nós, qualquer erro pode representar um ‘golpe mortal’ na imagem do país”, diz.
Coimbra explica ainda que, quando da escolha do Brasil como sede das Copas e dos Jogos Olímpicos – em 2007 e 2009, respectivamente –, o momento econômico vivido pelo país era totalmente diferente do atual. “O que deu errado de lá para cá foi basicamente a gestão econômica. Até quando houve a escolha do Brasil para sediar os eventos, ainda existia equilíbrio fiscal. Agora, abriu-se espaço para a crítica sobre os gastos com os jogos”, aponta.
Para Sandes, é cedo para apontar qual crítica política vai prevalecer durante a realização das Olimpíadas no Brasil. Isso dependerá, segundo ele, do agendamento da mídia sobre o evento. Para ele, porém, o afastamento da presidente deve gerar um clima de maior “normalidade”. “Cito o exemplo da Rússia, que sediou as Olimpíadas de Inverno com normalidade, mesmo com várias críticas da imprensa internacional sobre a política do país”, acredita.
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