O Palácio do Planalto decidiu politizar a defesa formal da presidente Dilma Rousseff, a ser apresentada nesta segunda-feira (4) na comissão especial da Câmara que analisa o processo de impeachment. O tom será dado pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que poderá falar por duas horas. A estratégia será explorar argumentos de que, além de não ter cometido crime de responsabilidade, Dilma tomou uma decisão que ajudou a preservar importantes programas sociais, como o Bolsa Família. O Planalto sustenta que a estratégia contábil, classificada de “pedalada fiscal” pelos acusadores da presidente, foi um mecanismo da relação entre o Tesouro e os bancos previsto em regras contratuais.
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A avaliação é que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, foi muito bem na explanação da semana passada, mas ela foi muito técnica. A própria presidente concluiu, em conversa com ministros mais próximos, que é necessário dar um tom mais prático à defesa contra as “pedaladas” e não apenas se resumir a aspectos jurídicos e legais de que não houve crime de responsabilidade. “O Cardozo é um homem de tribuna. Ele vai misturar improvisos com o que está escrito na defesa”, disse o deputado Wadih Damous (PT-RJ), aliado do ex-presidente Lula nas articulações.
O presidente da comissão especial, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), disse que abrirá a reunião às 14 horas. Acrescentou que a defesa de Dilma deverá ser entregue às 16h30, e Cardozo falará das 17 horas às 19 horas. A participação de Cardozo na comissão especial foi articulada pelo deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Reforma ministerial
Em paralelo, as negociações da reforma ministerial também serão intensificadas, com encontros com dirigentes do PP e do PR. Dilma pediu a vários ministros, inclusive os do PMDB, que tenham confiança na condução da reforma que ela está promovendo. Uma das armas do Planalto é explorar o desgaste da imagem do vice-presidente Michel Temer. O próprio Lula criticou-o abertamente, em evento realizado em Fortaleza, no sábado (2).
No plano das negociações, o Planalto está colocando três das seis pastas do PMDB. Deve manter o ministro Helder Barbalho, filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que se reuniu com o próprio Lula na última quarta-feira (30). Os ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Marco Castro (Saúde) também devem ser mantidos. Até mesmo o PMDB do Senado, aliado de Dilma, acredita que isso garantiria alguns votos na Câmara de peemedebistas ligados ao líder do partido na Casa, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ).
Amigo de Dilma, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), já disse à presidente que pode dispor de seu cargo. Braga poderá voltar ao Senado, reassumindo o mandato de comum acordo, e cuidar de seus planos para concorrer ao governo do Amazonas. O Ministério de Minas e Energia é importante na negociação e na busca de votos. Petistas também querem que a presidente desaloje a amiga Kátia Abreu, porque o Ministério da Agricultura é sempre cobiçado, e a ministra não tem votos. O PMDB já não contabiliza Kátia Abreu como ministra do partido, e ela já busca nova filiação.
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