O juiz federal Sergio Moro encaminhou nesta terça-feira (25) ao Supremo Tribunal Federal (STF) os indícios de envolvimento da senadora Gleisi Hoffmann (PT) e do ex-ministro Paulo Bernardo (PT) na Operação Lava Jato. Segundo o despacho, parte do dinheiro repassado da Consist ao escritório do advogado Guilherme Gonçalves foi usado para pagar despesas da senadora. Um dos exemplos citados no despacho de Moro é o pagamento do salário de um motorista de Gleisi.
Reportagem da Gazeta do Povo dessa segunda-feira (23) mostrou que documentos e controles apreendidos no escritório de Gonçalves, que foi alvo de mandados de busca e apreensão na 18.ª fase da Operação, mostram repasses da empresa Consist que podem ter ligação com o pagamento de honorários de campanhas da petista.
Segundo os investigadores, Gonçalves era responsável por administrar o “Fundo Consist”. De acordo com o despacho de Moro, uma planilha de fevereiro desse ano apreendida no escritório de Gonçalves revela que no “Fundo Consist, com crédito de R$ 50.078,00, foram efetuados diversos lançamentos de débitos em favor da senadora e de pessoas ligadas a ela”.
Na planilha apreendida estão listados débitos como o pagamento de uma multa relacionada ao nome de Gleisi, no valor de R$ 1,3 mil, e débitos relacionados a Zeno Minuzzo – secretário de finanças do diretório estadual do PT – e Hernany Mascarenhas – motorista.
Segundo os documentos apreendidos, “constam indícios de que o referido Hernany era remunerado pelo Fundo Cosnist administrado por Guilherme Gonçalves desde pelo menos outubro de 2011”.
Fundo Consist
De acordo com os investigadores, a Consist teria iniciado pagamentos de vantagens indevidas depois da celebração de um acordo de cooperação entre o Ministério do Planejamento, a Associação Brasileira dos Bancos (ABBC) e o Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (Sinapp). O objetivo do acordo era a disponibilização, pela internet, de serviços e sistema informatizado de gestão de margem consignável em folha de pagamento.
Segundo Moro, há provas que revelam que “parte expressiva da remuneração da Consist, cerca de 9,6% do faturamento líquido, foi repassada, por solicitação de Alexandre Romano [operador, preso na 18.ª fase da Lava Jato], ao advogado Guilherme Gonçalves, em Curitiba, que, por sua vez, utilizou esses mesmos recursos para pagamentos associados à senadora da República Gleisi Hoffmann [PT]”.
Paulo Bernardo
O ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi, também aparece nas anotações apreendidas no escritório de Gonçalves. De acordo com o despacho de Moro, em um dos documentos apreendidos consta uma anotação de que “do pagamento de R$ 50 mil de honorários pela Consist a Guilherme em 29/09/2011, ele teria acertado com o ex-ministro Paulo Bernardo (...) que ficaria, desta feita, com todo o montante”.
Para Moro, a anotação indica que os valores não se tratavam de honorários por serviços prestados por Gonçalves à Consist, já que o advogado “precisaria de concordância de terceiro para lidar com honorários pagos pela Consist”.
Outro lado
Em nota, a senadora Gleisi Hoffman (PT) afirmou que conhece o advogado Guilherme Gonçalves há muito tempo e que em 2008 e 2010 foi advogado das campanhas da senadora. “Em 2014 atuou como advogado das candidaturas proporcionais da coligação pela qual fui candidata. A minha campanha foi atendida pelo Dr. Luiz Fernando Pereira. Todo o trabalho do Dr. Guilherme Gonçalves consta nas minhas prestações de contas, aprovadas pela Justiça Eleitoral”, diz um trecho da nota. A senadora afirmou, ainda, que em relação a campanha de 2014 ainda existe débito com o escritório, o que está a cargo do PT. “Desconheço as relações contratuais que o Dr. Guilherme Gonçalves mantém com outros clientes, assim como desconheço qualquer doação ou repasse de recursos da empresa Consist a minha campanha”, afirmou Gleisi.
O advogado Guilherme Gonçalves informou que liberou acesso a todos os arquivos referentes à empresa Consist e aguarda a decisão do Supremo Tribunal Federal a respeito do assunto. Em nota, o advogado reforçou que prestou serviços jurídicos para a Senadora Gleisi Hoffman e também para a empresa Consist Software, “conforme firmado em contrato e de forma lícita”.
O ex-ministro Paulo Bernardo não foi localizado para comentar o caso.
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