Protagonista da cinematográfica fuga do ex-senador oposicionista boliviano Roger Pinto Molina para o Brasil, em 2013, o diplomata Eduardo Saboia foi convidado e aceitou integrar a equipe do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), eleito na terça-feira para presidir a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado. Na época, o diplomata que era encarregado de negócios do Brasil em La Paz irritou profundamente o presidente Evo Morales e acabou criando um incidente diplomático entre o Brasil e a Bolívia.
O diplomata caiu em desgraça no governo por causa do auxílio na fuga de carro, mas argumentou que fora um ato humanitário para salvar a vida do senador. Molina estava há um ano e quatro meses recluso em uma sala da embaixada do Brasil em La Paz, aos cuidados de Saboia. Deprimido, com problemas de saúde e sem resposta para o pedido de asilo para deixar a Bolívia, Molina foi colocado em um carro e trazido para o Brasil escondido.
Condenado por prevaricação, Molina pediu asilo no Brasil alegando sofrer perseguição política por parte de Evo Morales. Saboia disse que “havia risco iminente à vida e à dignidade do senador”. O Itamaraty abriu um processo administrativo contra o diplomata, mas até hoje não houve desfecho. Sem ser indicado para novos postos no exterior, Saboia está lotado desde 2013 no departamento financeiro do Itamaraty, chamado pejorativamente de “departamento de escadas e corredores” .
“O convite é para corrigir uma injustiça e um desperdício. Ele fez o que a grande maioria de seus colegas no Itamaraty acha que é o certo. Mas está sob ameaça de punição. Um desperdício porque é um diplomata de qualificação extraordinária que foi colocado na geladeira. Seus colegas do mais alto nível veem esse convite como um alívio e não deixa de ser uma reparação”, disse o senador Aloysio Nunes.
Para oficializar a cessão do embaixador ao Senado, o senador Aloysio Nunes encaminhará um ofício ao ministério das Relações Exteriores por meio do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). O diplomata assumirá após a liberação ser publicada no Diário Oficial. Eduardo Saboia continua sendo um crítico ácido da política externa do governo da presidente Dilma Rousseff. Há alguns dias publicou em sua página em uma rede social uma dura análise da situação atual:
“É lamentável ver embaixadas e consulados à míngua, sem condições sequer de honrar contratos de luz e água. Isso sem falar das expectativas que o Brasil criou junto a países africanos e caribenhos como prestador de cooperação técnica, especialmente durante o Governo Lula. Hoje, muitos desses projetos estão parados por falta de recursos. Gostemos ou não esses compromissos foram assumidos pelo Estado brasileiro e não por um Governo e muito menos pelo Itamaraty. Deixar de honrá-los tem consequências de longo prazo para nossa atuação internacional”.
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