Na esteira das campanhas contra a violência à mulher nas redes sociais, as diplomatas do Itamaraty iniciaram um movimento interno, por meio de um grupo fechado no Facebook, para denunciar casos em que foram vítimas de comportamento sexista, chamado por elas de “microviolência” contra a mulher. Nos relatos há até casos de assédio moral e sexual.
As diplomatas denunciam que esses casos são sempre tratados como normais, e providências não são tomadas. Os depoimentos preservaram os atores das histórias, de ambos os lados. Foram compilados 108 casos.
Um dos depoimentos é de uma recém-aprovada no concorrido concurso para o Itamaraty. A jovem diplomata relata que passou a ser perseguida pelo diretor do Instituto Rio Branco, que mandava bilhetes e flores para ela. Resistindo à pressão para que cedesse ao assédio, ela foi lotada numa divisão de pouco prestígio, algo incompatível com as notas que tirou no curso.
No ano seguinte, diz a denunciante, o diretor escolheu outro alvo e repetiu o assédio. Outra mulher diz que todas as vezes que entrava na sala do chefe ele pedia aos servidores uma salva de palmas pela beleza da diplomata. Uma diplomata contou que, durante um debate sobre vestimenta apropriada, em um encontro de trabalho, o chefe tirou a roupa e ficou só de cueca para provar o argumento de que, quando o figurino é pouco, chama a atenção.
Há relatos de mulheres que foram obrigadas a servir cafezinho em reuniões em que colegas com a mesma qualificação participavam do debate. Outros, de que não puderam levar os maridos a eventos em que as mulheres dos diplomatas foram convidadas, e ainda, aconselhadas a não participar de jantares ou recepções porque só haveria diplomatas homens e elas se sentiriam deslocadas ou constrangidas.
Duas diplomatas afirmam que um embaixador passou a mão em suas pernas. Outra, que o chefe a chamou à sua sala, ordenou que ela fechasse a porta e viesse até sua cadeira, e quando ela se aproximou, pegou sua mão e a fez acariciar o seu rosto para “checar” se sua pele estava lisa depois de fazer a barba. Ao ingressar na carreira, uma diplomata conta que foi fazer o exame psicotécnico e uma das perguntas da entrevista era quando ela havia perdido a virgindade. Colegas homens não teriam sido perguntados sobre isso.
Os casos foram levados ao secretário-geral do Itamaraty, Sérgio Danese, que se disse sensibilizado e afirmou que tomaria providências. Procurado, o Itamaraty nega que o machismo seja um comportamento institucionalizado dentro do órgão. Um diplomata que ocupa posto de chefia diz que o Itamaraty está preocupado com os relatos, mas que a instituição não tolera condutas inadequadas.
Após tomar conhecimento das denúncias, a fonte afirmou que o Itamaraty estuda criar uma ouvidoria exclusiva para tratar desses casos, dentro do Comitê de Gênero e Raça do órgão. O Ministério das Relações Exteriores já conta com uma ouvidoria e uma corregedoria, que atualmente investiga um caso de assédio.
“Nossa orientação é para que todos os casos sejam levados adiante para que sejam tomadas providências. Não há indiferença da instituição quanto a isso. Entendemos que não é algo sistemático dentro do Itamaraty, não é algo encorajado”, disse o diplomata.
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