Em quase três horas de depoimento nesta sexta-feira (29), o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu admitiu ao juiz Sergio Moro que Milton Pascowitch, lobista e colaborador da Operação Lava Jato , realmente pagou a reforma de sua casa, em Vinhedo, no interior de São Paulo.
As melhorias no imóvel custaram R$ 1,8 milhão e os investigadores acreditam que ela foi paga com propina oriunda de desvios de contratos públicos da Petrobras. Milton Pascowitch atuava em nome da empreiteira Engevix. Outra reforma apontada pelos investigadores como pagamento de propina foi realizada no apartamento em nome do irmão do ex-ministro, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, que teria custado R$ 388 mil.
De acordo com o advogado de Dirceu, Roberto Podval, o ex-ministro admitiu “pecados”. “Ninguém aqui é santo. Ele está assumindo suas culpas”, disse o defensor.
De acordo com Dirceu, como iria receber pagamentos de Milton Pascowitch por seu trabalho de consultoria, resolveu incluir o trabalho e pediu para que ele pagasse diretamente os fornecedores dos materiais de construção.
Dirceu disse ter ciência de que Pascowitch podia usar seu nome em negociatas ilegais, mas negou que fosse o mentor do esquema de corrupção. “O que aconteceu foi o José Dirceu se permitir ser usado por terceiros, e terceiros ganharam milhões as custas de José Dirceu. E os milhões estão ali, os caras delataram, estão rindo e andando por aí e o José Dirceu está preso. É ridículo”, criticou Podval.
Para o advogado, Pascowitch lucrou com a amizade com José Dirceu. “O Milton se aproveita da situação porque o Milton vende ele [Dirceu]”, disse o advogado, afirmando que o operador usava a influência do nome do ex-ministro para fechar outros negócios. “Ele [José Dirceu] não é o chefe de uma quadrilha. Se você for olhar dentro desse processo ele foi mais usado do que qualquer coisa”, garante o advogado.
Outra forma de pagamento de propina denunciado pelo MPF foi o uso de jatinhos. Segundo o lobista Julio Camargo, colaborador da Lava Jato, Dirceu usou 113 vezes uma aeronave cedida por ele entre 2010 e 2011 para acertar o pagamento de R$ 1 milhão em propina. Dirceu disse que usou a aeronave, mas que nunca foi cobrado.
A força-tarefa da Lava Jato sustenta que a JD Consultoria, empresa do ex-ministro, era uma fachada para o recebimento de propinas de empreiteiras. No total, Dirceu teria recebido R$ 11 milhões. Segundo Podval, todos os serviços foram efetivamente prestados pela empresa do ex-ministro. “Ele trabalhou e ganhou pelo trabalho”, disse.
Indicação de Duque
No seu depoimento, Dirceu negou que tenha sido o responsável pela indicação política do ex-diretor da Petrobras Renato Duque - também réu da Lava Jato. Segundo Podval, o ex-ministro disse que todas as indicações passavam por ele na Casa Civil, mas Dirceu negou conhecer e ter um interesse especial na indicação de Duque.
“Havia um pedido do PSDB para indicação de alguém absolutamente legítimo e eles já tinham dado uma indicação para o PSDB por conta de Minas Gerais e acharam que não era o caso. E tinha uma outra pessoa que estava sendo indicada por um grupo do PT. E ele preferiu indicar o PT porque já tinha indicado alguém do PSDB para Furnas”, disse Podval.
O caso
José Dirceu e outros 16 réus foram denunciados em setembro pelo Ministério Público Federal. O ex-ministro foi preso na deflagração da 17ª fase da Lava Jato, batizada de Pixuleco. Nesta sexta-feira (29), Moro interrogou dois réus do processo - Dirceu e o executivo da Engevix Gerson Almada.
Do lado de fora da Justiça Federal, manifestantes acompanharam a movimentação. Ao deixar a sede da Justiça, Almada foi hostilizado pelos manifestantes, que gritavam palavras de ordem. Um dos manifestantes, mais exaltado, chegou a bater no carro em que o executivo entrou.
Os manifestantes passaram a tarde em frente à Justiça, gritando palavras de ordem, como “Desembucha José Dirceu” e “Entrega o chefe do esquema”. Os manifestantes trouxeram faixas e cartazes. Em uma delas, se lê “Chegamos na meta (José Dirceu), agora vamos dobrar a meta (Lula e Dilma).
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