O deputado José Dirceu (PT-SP), ex-chefe da Casa Civil, está prestes a abandonar publicamente a tese que sustentou até agora, a de que não sabia de nada a respeito da operação financeira montada pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e pelo empresário Marcos Valério. Dirceu foi procurado esta semana por uma romaria de petistas que lhe pediam para deixar a chapa do Campo Majoritário que concorre ao diretório nacional. Se isso não ocorrer o presidente do PT, Tarso Genro, renunciará a sua candidatura à presidência nas eleições de 18 de setembro. Nas conversas, Dirceu contou que sabia dos empréstimos e que os recursos destinavam-se a pagar dívidas de campanha do PT e de partidos aliados. Mas deu a entender que ignorava que isso era feito por fora e que envolvia pagamentos no exterior com dinheiro de paraísos fiscais. E disse aos interlocutores que Delúbio passou a agir por conta própria.
- Eu perdi o controle sobre o Delúbio! - teria dito Dirceu.
O apelo para que ele retire seu nome foi feito, nos últimos dias, por inúmeros petistas, entre os quais o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini (SP), o ex-ministro da Saúde Humberto Costa e o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda. Após essas primeiras sondagens, Tarso Genro também se reuniu com Dirceu, na quarta-feira, para explicar a importância de sua saída da chapa para a renovação do partido e a recuperação de sua imagem pública.
Tarso não chegou a dizer a Dirceu que desistiria da candidatura se seu apelo não fosse atendido, e publicamente nega isso. Mas parlamentares petistas asseguram que é isso que vai acontecer. Pois, na visão de Tarso, não há como construir uma nova direção e resgatar o partido se Dirceu e outros envolvidos no escândalo não saírem de cena. A expectativa desse grupo é que Dirceu sirva de exemplo para que outros petistas, como os deputados João Paulo Cunha (SP) e José Mentor (SP), tomem a mesma atitude e peçam para sair da chapa, abrindo caminho para a renovação partidária.
Dirceu tem resistido a todos os apelos, embora tenha afirmado que fará consultas antes de anunciar sua decisão, até segunda-feira. Mas o ex-ministro não gostou da atitude de Tarso Genro e de Ricardo Berzoini de divulgar o apelo. Na avaliação de Dirceu, a partir do momento em que a negociação tornou-se pública, sua saída deixa de ser iniciativa individual, transformando-se no resultado de uma pressão política. Ele repetiu ontem a aliados que não aceita imposições.
Sua atitude está relacionada também ao julgamento pelo Conselho de Ética da Câmara. O ex-ministro está convencido que, nas condições de hoje, seu mandato será cassado. Mesmo sabendo disso, Dirceu fez a opção de cair lutando, pois avalia que sua posição de líder político não era compatível com a renúncia ao mandato.
Uma declaração do ex-ministro à agência de notícias France Presse provocou polêmica ontem. Perguntado por repórteres da agência, Dirceu disse ignorar a quem o presidente Lula se referiu ao dizer que se sente traído. E disse que a pergunta deveria ser feita a Lula. "É o presidente Lula quem tem que responder quem é o traidor", respondeu o deputado por meio de sua assessoria, segundo reprodução da agência de notícias. Dirceu não gostou da repercussão e, no fim da tarde, divulgou nota criticando a conotação dada à declaração. "Respondi, por intermédio de minha assessoria, que a pergunta deveria ser encaminhada ao presidente e não a mim", diz a nota.
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