| Foto: Maurício Lima/AFP

Paraíso fiscal

Assessoria diz que filial do Panamá nunca chegou a ser aberta

A assessoria do ex-ministro José Dirceu divulgou uma nota ontem dizendo que, apesar do pedido feito a partir do Brasil para a abertura de uma filial de sua empresa de consultoria no Panamá, ele não chegou a ser registrado naquele país. Uma filial da JD Assessoria e Consultoria foi aberta em 2008 no mesmo endereço da Truston International, que controlava o Hotel Saint Peter, em Brasília.

No mês passado, o hotel ofereceu um emprego com salário de R$ 20 mil a Dirceu, que abriu mão da oferta após divulgação de que o empresário Paulo Abreu, dono do St. Peter, possuía apenas uma das 500 mil cotas societárias do estabelecimento. As outras cotas estavam em posse da Truston, que tinha um auxiliar de escritório como presidente da companhia, o que levantou a suspeita de se tratar de um laranja.

Investigação

A oposição no Congresso quer investigar a situação da empresa de Dirceu no Panamá. O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), disse que o caso leva a crer que Dirceu é o verdadeiro dono do Hotel Saint Peter. Por isso seria preciso se criar uma comissão de deputados para ir até o paraíso fiscal para obter informações sobre o caso.

"Ninguém sabe quantas empresas, nem onde, e nem quanto o Dirceu tem. Essa situação passa a ser característica de que ele deve ser o proprietário do hotel. E os órgãos que deveriam fiscalizar não fazem isso pois estão aparelhados", disse Caiado. A assessoria de Dirceu nega que ele seja o dono do hotel.

CARREGANDO :)

Preso desde o dia 15 de novembro, o ex-ministro José Dirceu diz já ter se acostumado com a vida no cárcere. "O ambiente entre nós é bom e, apesar da ilegalidade da prisão e do regime fechado, as condições carcerárias são razoáveis. Temos biblioteca e banho de sol, como todos os internos, inclusive acesso a uma cantina", descreveu em bilhete encaminhado por meio dos advogados a uma amiga, publicado ontem no seu blog mantido por assessores.

Sua rotina, segundo relatou, é "fazer muita ginástica e planos". Para o tempo passar diz que está "lendo, estudando e trabalhando". Ele não informou no que está trabalhando dentro do presídio, mas observou: "O estudo e o trabalho contam como remição de pena. Apesar da saudade, da indignação, continuo daquele meu jeito que você também conhece".

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Biblioteca

O Blog do Zé publicou apenas o trecho do bilhete, não o manuscrito. Os presos do mensalão foram obrigados a doar os livros para a biblioteca do Complexo Penitenciário da Papuda e passaram a cumprir horário para leitura.

Como chefe do esquema do mensalão, Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão no regime fechado, mas cumpre pena em regime semiaberto até o julgamento de um último recurso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que deve ocorrer no próximo ano.

Ex-ministro multiplicou negócios após passagem pela Casa Civil

O ex-ministro José Dir­ceu multiplicou sua possibilidade de negócios após sua passagem como ministro-chefe da Casa Civil do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fora do governo e com o mandato de deputado cassado pelo envolvimento no esquema do mensalão, Dirceu alterou cinco vezes a razão social da JD Assessoria e Consultoria e incluiu no seu escopo de atuação a atividade de lobby para diversos setores com interesses no governo federal.

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Fortuna

Ao ampliar o escopo de sua consultoria, Dirceu fez fortuna. Sua última declaração de bens pública, apresentada à Justiça Eleitoral em 2001, informa que ele tinha bens e valores que somavam R$ 172,8 mil em valores da época. Somente a casa em que funcionava sua consultoria, em São Paulo, está avaliada em R$ 5 milhões por corretores. Após sua prisão, o imóvel na Avenida República do Líbano, a 300 metros do Parque do Ibirapuera, foi colocado à venda.

Documentos aos quais o jornal O Estado de S.Paulo teve acesso mostram que, com as alterações na razão social da JD Assessoria e Consultoria, Dirceu se propôs a "viabilizar o relacionamento institucional de particulares com os mais variados setores da administração pública". Atuou, ainda, em favor de clientes dos setores sucroalcooleiro, minero-siderúrgico e termoelétrico junto a órgãos públicos de fiscalização e de meio ambiente, áreas tradicionalmente dominadas pelo PT.