Uma reportagem publicada na edição deste fim de semana pela revista "Veja" afirma que os ex-ministros da Casa Civil José Dirceu e Erenice Guerra, aproveitando a influência no poder, fizeram uma parceria que atende empresas e empresários interessados em negócios com o governo federal. Falando em "joint venture do lobby", a matéria diz que Dirceu montou um escritório de advocacia, reuniu uma cartela de clientes da iniciativa privada, principalmente grandes empreiteiras, empresas de telefonia e bancos, e "lucra oferecendo acesso ao poder".
Já Erenice, segundo a revista, teria seu "nicho de atuação nas empresas e fundos de pensão com interesses ligados ao Ministério das Minas e Energia, onde trabalhou". O elo entre os dois seria o analista de sistemas e ex-funcionário da Serpro, serviço de processamento de dados do governo, Júlio César Oliveira Silva, há quatro anos consultor de negócios de Dirceu.
"Veja" cita uma reunião que teria sido agendada por Dirceu no escritório de Erenice Guerra, no início de março, com a presença do empresário Flávio Nunes Rietmann, ex-executivo do Banco Cruzeiro do Sul, liquidado no ano passado pelo Banco Central (BC) e atual dono de uma corretora de valores. Rietmann queria ajuda de Erenice para passar à frente títulos de um fundo de pensão cuja operação poderia chegar a R$ 100 milhões e a comissão, 10% sobre o valor final do negócio. A revista fala que a ex-ministra convocou em seu escritório Fabio Resende, diretor da Previnorte (fundo de pensão dos funcionários da Eletronorte) e teria dado ao último a seguinte ordem: "É para comprar". A revista não soube informar se o negócio foi concretizado.
A Previnorte, diz a reportagem, afirmou que realiza todas as operações do fundo via leilões, "sem ingerência pública". José Dirceu negou a existência da sociedade e Erenice, disse à "Veja" que não comenta nada sobre seus clientes. Resende negou a existência da reunião. Já Rietmann não quis falar.
Ao falar de Júlio César Oliveira Silva, a revista afirma que o analista de sistemas "se aproximou de petistas poderosos" fechando contratos com o setor público quando trabalhou como representante de uma empresa de informática. Lima seria dono da casa onde funciona o escritório de Erenice e também se apresentaria como diretor da companhia espanhola Isolux, que atua no ramo de energia e logística e conta com a ex-ministra em seu quadro de consultores.
Em junho de 2011, segundo a matéria, o governo de Mato Grosso, com dificuldade para receber por vias normais para receber um crédito de R$ 160 milhões devido pela União, recorreu a "Julio do Zé Dirceu" como alternativa. O último disse que o ex-ministro trabalharia para liberar o pagamento, mediante uma comissão de 10%. A reunião teria sido agendada por Antonieta Silva, mulher de Julio César e funcionária da secretaria-Geral da Presidência da República, usando um telefone do gabinete.
A transação foi confirmada à revista pelo lobista Geraldo Rocha, que participou da reunião. Diz a revista que, embora fechado, o acordo foi comprometido pelo julgamento do mensalão, no ano seguinte, que teve Dirceu como um dos réus.