Brasília (AG) Com o cerco se fechando ao seu redor, o ex-ministro da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP) comparece hoje ao Conselho de Ética para depor como testemunha no processo de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sem o apoio da tropa de choque petista que sempre lhe deu sustentação.
Tanto Jefferson quanto Dirceu passaram os últimos dias se municiando para o confronto anunciado desde o início de junho. Interlocutores do petebista revelam que ele está animadíssimo e vai com tudo para cima de Dirceu. Interlocutores de Dirceu dizem que ele está desanimado com a desarticulação do PT, mas tem recebido muitos documentos de pessoas ligadas à área de informação e tem conversado com seus advogados. A direção do PT já avisou que não vai ajudá-lo.
"O Zé é um leão, mas se ressente dessa desarticulação do PT. Ele sempre foi acostumado a trabalhar com muita gente. Está articulando sua defesa com os advogados e tem recebido muita coisa de pessoas ligadas à área de informação. Tem batido muito na tecla de que, se alguém tivesse alguma coisa contra ele, já tinha caído na época do Waldomiro", conta o advogado e amigo Antônio Carlos de Oliveira Castro, o Cacay, que não integra a equipe de defesa de Dirceu, mas tem conversado com ele diariamente.
"Eu ir lá ajudar a defendê-lo? Não tem necessidade não, ele é muito competente. Ele não fez tudo sozinho até agora? Com essas novas revelações, o Zé Dirceu se iguala aos outros, ao João Paulo, ao Luizinho... a água está chegando no nariz dele, né?", disse o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ), diz que vai ser muito difícil José Dirceu explicar e justificar todo o processo, porque ele sempre teve uma importância muito grande no partido e no governo.
"O Roberto Jefferson é aquela figura que não tem nada a perder e deverá tornar esse depoimento um inferno para José Dirceu, com conseqüências ainda mais sérias para o governo e para o PT, que já foi ferido de morte", afirma Biscaia.
Jefferson passou os últimos dias em Petrópolis, sua terra natal, se preparando para a acareação informal. No domingo retornou a Brasília.
"O encontro com Dirceu era tudo que o Roberto sempre quis", diz o deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), que conversa com ele quase diariamente.
Em reportagem na edição desta semana, a revista Veja informa que um documento apreendido pela Polícia Federal numa agência do Banco Rural lista o nome de um amigo e assessor informal de Dirceu como autorizado a sacar um cheque de R$ 50 mil da empresa SMP&B Comunicação.
A autorização é para Roberto Marques, mesmo nome do amigo do ex-ministro conhecido como Bob. No documento, no entanto, não há o número da carteira de identidade do autorizado a fazer o saque. Simone Vasconcelos, gerente da SMP&B, confirmou no domingo, em nota da assessoria de Valério à imprensa, ter autorizado Roberto Marques a fazer o saque na conta da agência.
Dirceu se diz vítima de uma armação e alega que o Roberto Marques em questão não é o amigo dele.
Roberto Marques, o Bob, divulgou ontem uma nota oficial dizendo que não sacou dinheiro no Banco Rural e não conhece a Corretora Bônus Banval, nem Luiz Carlos Mazano, que teria feito o saque de R$ 50 mil em seu nome. Bob diz é assessor especial do gabinete de um deputado estadual do PT de São Paulo, Fausto Figueira, e funcionário da Assembléia Legislativa de São Paulo há 20 anos, mas nega que seja assessor do deputado José Dirceu.
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