Brasília (AE) Às vésperas da provável sessão de votação de seu pedido de cassação, o deputado José Dirceu (PT-SP) mostrou-se ontem esperançoso com a possibilidade de escapar da degola. Pesquisa publicada pelo jornal "O Estado de S. Paulo" no domingo mostra que 55% dos deputados são favoráveis à cassação do ex-chefe da Casa Civil. Na avaliação de partidários do petista, o quadro pode ser revertido, além de ser melhor do que o inicialmente esperado.
Dirceu passou rapidamente pela Câmara ontem. Pouco antes das 17h30, apressado, foi até o plenário registrar presença. Mas saiu segundos depois, alegando estar com pressa em razão de uma consulta médica. O desespero do deputado era apenas com o compromisso pessoal. "Não posso perder o médico de jeito nenhum. Estou desesperado porque, se a gente falta, tem de pagar a consulta mesmo assim", afirmou.
Também ontem, Dirceu recebeu uma manifestação de apoio, que ele afirmou ser de um militante petista. Próximo ao Aeroporto de Brasília, uma mensagem em um outdoor dizia: "Um líder oposicionista sintetiza a situação. Ele (Dirceu) perdeu a batalha da opinião pública. Vai ser cassado injustamente como um símbolo de que a Casa não foi omissa diante da crise". O ex-ministro gostou.
Em nota, Dirceu comentou ainda as declarações do relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), que afirmou no domingo que irá propor seu indiciamento. Para o ex-chefe da Casa Civil, trata-se de "perseguição política".
"Ao anunciar que irá propor meu indiciamento, o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio, revela uma perseguição política. De forma precipitada, sem considerar as provas em contrário, ele propôs que eu fosse submetido a processo disciplinar porque teriam me apontado como avalista dos empréstimos feitos pelo senhor Marcos Valério. Agora, ele afirma que os empréstimos não existem e irá indiciar o ex-presidente do PT José Genoíno por falsidade ideológica por causa disso", disse o petista no texto enviado à imprensa. E acrescentou, observando que "essa é uma entre várias contradições desse processo".
Sem apresentar uma única evidência concreta, disse Dirceu, o deputado "me acusa de chefiar um esquema para comprar deputados, mas o relator da CPI da Compra de Votos (Mensalão), Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), concluiu que não existem provas de que parlamentares receberam dinheiro para votar a favor do governo". Dirceu insistiu que Serraglio "tirou conclusões precipitadas."
Lance decisivo
Enquanto articula nos bastidores para garantir apoio no plenário, Dirceu pode ganhar tempo para defesa em decisão que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) deve tomar hoje. Se for aprovado o parecer do deputado Sérgio Miranda (PDT-MG) favorável ao recurso dele que questiona a conclusão do processo conduzido pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Casa, Dirceu terá mais uma semana. Isso porque a Mesa Diretora terá de repetir procedimentos regimentais, adiando a votação para o dia 30.