O ex-deputado José Dirceu disse, nesta quinta-feira, que já cumpriu seu papel e que não espera voltar para a vida política do país. Cassado pela Câmara, o petista se mostrou bem humorado em entrevista coletiva. Disse que a partir de agora debaterá suas idéias pelo país, escreverá um livro e voltará a trabalhar como advogado, ressaltando que dividirá um escritório com a advogada Lilian Ribeiro.
- Nunca olho para trás e nunca volto ao passado. Eu sempre olho para a frente - afirmou.
Dirceu declarou ainda ter consciência de que parte da opinião pública o condena. E afirmou que, a partir de agora, vai reconstruir sua vida com humildade.
- Isso vai me custar anos. Tenho consciência disso. Agora eu tenho que trabalhar, é preciso me sustentar. Vou atuar na luta política do país dentro da minha possibilidade, como advogado, como cidadão.
E continuou:
- Não sou mais um homem público, sou um cidadão brasileiro, coisa que eu fui mesmo proibido pela ditadura. Vou continuar fazendo o que sempre fiz, com muita paixão, muita fé. Não tenho mais nada. Não tenho poder nenhum, nem bens materiais. Só tenho convicções, meus sonhos, aquilo que eu acredito.
Dirceu disse que não pretende recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), apesar de seus advogados ainda analisarem possíveis medidas nesse sentido.
- Não tenho ânimo de ir ao Supremo. Meu ânimo é de trabalhar. Eu não tenho salário, tenho que trabalhar.
Dirceu disse que não vai pedir aposentadoria pela Ao ser indagado se pretendia voltar à vida política daqui a oito anos, Dirceu disse que no momento só está pensando em trabalhar para pagar as contas.
- Quem sou eu pra fazer planos pra daqui a oito anos! Deixa a vida me levar, como disse o nosso presidente Zeca Pagodinho - explicando em seguida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia feito essa afirmação citando o cantor e compositor carioca.
Indagado sobre seu bom humor, respondeu:
- O que me resta, se não o bom humor?
Confira os principais pontos da entrevista coletiva:
CASSAÇÃO: "Não é pouca coisa que eu perdi. Pra mim é como se tivesse perdido minha própria vida. Não pelo cargo, mas pelo simbolismo que tem ser cassado pela Câmara. É uma dor que vocês não podem imaginar. Mas espero ter forças na minha vida para superar isso."
ERROS: "Seguramente cometi muitos grandes erros para chegar a esta condição. Nenhum que me desonre, que me leve a ter vergonha dos cargos que exerci. São erros políticos. Por exemplo, deveria ter saído da Casa Civil na época do escândalo de Waldomiro Diniz."
APOSENTADORIA: "Claro que não. Para quê? Eu vou trabalhar, gente, que isso? Tenho 59 anos e vou me aposentar? Eu vou viver até 90 anos."
PODER: "Nunca tive poder maior ou igual ao presidente, tanto é que ele me demitiu. Respeito a liturgia do cargo da presidência e a hierarquia do governo."
MENSALÃO: "Até agora não se provou o pagamento de mensalão. Afirmo que não houve porque não tem nem provas nem indícios."
ADVERSÁRIOS: "Vou olhar para a frente. Não faltam problemas no Brasil para eu ajudar. Saber quem me apoiou ou deixou de me apoiar não vai fazer diferença agora. Se eu me preocupasse com isso ao longo de minha vida, já teria tido um infarte."
LIVRO: "Vou fazer um livro no limite, tudo o que é necessário relatar da minha passagem pelo governo eu vou relatar. Quero trazer um debate ao país sobre o projeto de desenvolvimento nacional, sobre o funcionamento da máquina pública brasileira, planejamento, sobre educação e infra-estrutura, política econômica e relações com a Câmara e o Senado. Vou fazer um livro para ajudar o Brasil a repensar o Brasil, não com essa pretensão toda. Vou fazer um livro que não será um livro chapa-branca. Não posso revelar segredos de Estado, mas inconfidências políticas eu posso revelar."
VOLTA: "Não tenho nenhuma intenção de participar de qualquer governo. Nem creio que alguém vai me convidar para compor governo."
PALOCCI: "Defendo a permanência dele com tranqüilidade. Minha divergência já expus antes e não é hora de falar. Outros têm esse papel. Não sou dirigente do PT, nem ministro. Palocci é imprescindível. As denúncias sobre o Palocci...bem, eu não vou falar não, porque estou falando demais."
DELÚBIO: "Quero defendê-lo aqui e agora. Delúbio cometeu erros e está pagando por eles. Mas não fez enriquecimento ilícito pessoal."
PÁGINA VIRADA: "Com a minha experiência, não tenho ilusões em relação a determinados personagens da política brasileira. Alguns se comportaram entre a sordidez e a covardia, mas prefiro esquecer isso, virar a página."
VIDA PARLAMENTAR: "Tenho as melhores lembranças dos 11 anos que fui deputado. Exerci meu mandato com muita correção. Inclusive agora, nesses cinco meses, nunca faltei a uma sessão. O povo me paga, paga mal, mas paga em dia, e eu retribuo com trabalho."
RECURSOS: "Não adiei meu processo. Quero que vocês parem de falar isso. É uma violência. Vocês um dia vão precisar recorrer ao Judiciário para defender os seus direitos. Parece coisa de direita. Mas a esquerda precisa defender os direitos individuais também. Nunca tive medo de ser julgado pela Câmara. Não temo investigação nem julgamento."
VÍTIMA: "Tem coisa muito mais grave acontecendo no país, com milhares de pessoas. Não vamos dramatizar muito isso. Não tenho essa importância toda. Vamos tocar a vida. Acho que sofri um fuzilamento político, mas estou vivo, bem de saúde e vou continuar lutando dentro das minhas possibilidades."
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