O deputado José Dirceu (PT-SP) negou qualquer tipo de envolvimento com a máfia do INSS. Em nota, Dirceu disse ter ficado indignado de ver seu nome mencionado pela imprensa em conversa interceptada de pessoas investigadas pela Polícia Federal. O petista disse ainda que não conhece as tais pessoas e que estão tentando envolvê-lo em crimes para desmoralizá-lo, uma vez que as investigações em curso não teriam encontrado nenhuma prova de seu envolvimento em irregularidades. O ex-ministro disse ainda que nos 30 meses em que participou do governo Lula não fez nada do que possa se envergonhar.
"Não tenho nada a ver com a máfia do INSS a não ser o fato de ter mandado investigá-la. Tentam me vincular a tais ilícitos em busca de argumentos para me desmoralizar, tendo em vista que as investigações em curso no Congresso Nacional não encontraram nada que me incriminasse. Pelo contrário, todos os depoentes me isentaram de qualquer participação nos atos denunciados. Isso porque, em 30 meses de governo, não fiz nada que possa me envergonhar", diz o texto.
Um relatório reservado do Ministério Público Federal mostra integrantes da organização do argentino César de la Cruz Arrieta, especializada em fraudes contra a Previdência e a Receita Federal, conversando sobre a formação de caixinha para a compra de apoio político na Câmara. Além de Dirceu, nas conversas telefônicas eles citam o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) e o ex-tesoureiro do PR Delúbio Soares. Os integrantes da Máfia da Previdência também fazem referência ao Banco Rural e citam os nomes de outros políticos.
O conteúdo do relatório, que será encaminhado ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e depois à CPI dos Correios, é considerado explosivo. As conversas do grupo de Arrieta, transcritas no documento, foram gravadas com autorização judicial em janeiro deste ano. Ou seja, seis meses antes de estourarem as denúncias do mensalão do PT para parlamentares da base governista virem à tona. Os diálogos mais comprometedores são de Márcio Pavan, braço-direito de Arrieta, com dois interlocutores identificados como Marcelo, contato da organização em Brasília, e Dênis.
Numa impressionante demonstração de conhecimento do bastidores do mundo político, o grupo trata até da arrecadação dos R$ 10 milhões que o PT teria pago ao PTB de Jefferson. Numa conversa de sete minutos com Dênis no dia 26 de janeiro, Pavan faz a primeira citação sobre os R$ 10 milhões que o PT estaria arrecadando para dar ao PTB. Pavan cita o Banco Rural e pergunta, em linguagem cifrada, sobre uma determinada conta. "É da Câmara dos Deputados, do 001 que tem de levantar dez (milhões) para fechar com o trabalhista e os outros lá, que é encomenda do 001, só que está faltando R$ 70 mil e que já mandou R$ 50 mil de um outro negócio que estão conduzindo pra gente", responde Dênis.
Pavan quer saber se quem está fazendo o pedido do dinheiro é "o Zé". "Não tem nada a ver, é o próprio, o tesoureiro", reage Dênis numa suposta citação de Delúbio. O pedido também teria sido endereçado a um cliente de Dênis interessado num financiamento do BNDES. Mais adiante Pavan quer saber quanto eles terão que desembolsar. "É 70 mil para fechar os dez milhões na segunda-feira", responde Dênis.
Pavan concorda, mas pede explicações sobre a contrapartida que o grupo vai receber. "Vai dar o aval da CPR, lógico que ele vai cobrar mais depois. Mas querem travar ele para poderem defender ele lá em cima que vai ter que ir pro Ricardo", responde Dênis de forma cifrada. "É f... dar dinheiro na frente. Depois, pra atender, vai ser um parto", reclama Pavan. Mais adiante, na mesma conversa, Pavan e Dênis mencionam uma manobra na Prefeitura de Goiânia para abrir uma vaga na Câmara para um irmão de Delúbio, suplente de vereador.
Numa segunda conversa, gravada no dia 27 de janeiro, Pavan informa a Marcelo como estão as negociações entre Dênis e o então tesoureiro do PT. "Ele (Dênis) pediu ajuda para acertar o negócio com o Delúbio, que no miolo é Tarcísio e Aucelis. O Delúbio precisa fazer uma caixinha perto dos rolos que ele fez, quer 70 mil reais". Marcelo responde que o "homem forte está precisando de troco, está fazendo caixa para o PTB para ganhar a eleição da Câmara". Pavan diz, então, que o dinheiro sai depois do "milagre" e, logo em seguida, cita o "milagre do BVA", um banco cuja sede se localiza no Rio de Janeiro.
Numa segunda conversa, no mesmo dia 27 de janeiro, Pavan diz a Marcelo que está aguardando uma reunião com José Dirceu, naquele período o todo-poderoso chefe da Casa Civil. "Estou no aguardo de uma conversa com o próprio Zé Dirceu, assunto do Goiabeira. Ficou de marcar até o fim da semana. Hoje teve uma explicação com o assessor. Ele designou uma pessoa, o primo dele". Marcelo sustenta ainda que, se tiver abertura, vai levar "um pergaminho de coisas".
No dia 9 de fevereiro, Pavan e Marcelo voltam a conversar sobre a arrecadação de dinheiro para a compra de apoio político. "O cara tá querendo uma grana. Está apoiando o Virgílio para presidente da Câmara". Mais adiante diz que o deputado, tratado como "o cara", precisa de 50 mil. Pavan comenta, então, que tiveram que dispensar o Delúbio. "Esse Delúbio juntou R$ 10 milhões para o PTB. Esse dinheiro é para o Ricardo (sic) Jefferson para ele acomodar a gurizada dele na Câmara".
As conversas entre Pavan, Marcelo e Dênis foram gravadas durante uma investigação do Ministério Público Federal sobre supostas fraudes da organização de Arrieta contra a Receita Federal. No início de abril, depois de uma longa apuração, a Polícia Federal deflagrou a Operação Tango e prendeu todos os integrantes do grupo. Arrieta e Pavan estão presos deste então. Os dois respondem processo por um dos maiores esquemas de vendas fraudulentas de títulos vencidos do Tesouro Nacional.
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais