Num dia de derrotas no Supremo Tribunal Federal e na Câmara, o deputado José Dirceu (PT-SP) teve o mandato cassado. Acusado de quebra de decoro parlamentar, o petista ficará inelegível por oito anos. Em votação que só terminou no início da madrugada desta quinta-feira, foram 293 votos pela cassação, 192 contra, oito abstenções, um em branco e outro nulo. Quando a contagem registrou os 257 votos necessários para a perda do mandato, não houve qualquer reação no plenário.

CARREGANDO :)

Antes de começar a votação, o relator do processo, deputado Júlio Delgado (PSB-MG), disse, na tribuna, que havia provas contra o petista e negou que ele estivesse sendo cassado por seu passado político. Segundo o relator, Dirceu deveria perder o mandato justamente por ter negado todo o seu passado quando esteve à frente da Casa Civil.

- Ninguém perde o mandato pela sua história. Ninguém perde o mandado pelo seu passado, mas justamente porque, com as suas atitudes na Casa Civil, Vossa Excelência tem negado seu passado e sua história - disse o relator. - Há uma fartura de provas de favorecimento indevido e de abusos da máquina pública. Dirceu é o principal envolvido no escândalo do vazamento de recursos por meio de Marcos Valério para vários partidos e parlamentares - afirmou.

Publicidade

Dirceu afirmara em seu discurso que não tinha medo do julgamento dos seus pares.

- Os deputados e o Brasil me conhecem: fui líder estudantil, vivi na clandestinidade durante a ditadura e nunca fui processado. A Câmara sabe que eu não fui o chefe do mensalão. Não vou assumir aquilo que não fiz. Não fiz e não assumo - disse.

Dirceu pediu que os deputados votassem com consciência e que só queria justiça.

- Não quero misericórdia. Eu quero justiça - afirmou.

O ex-ministro fez uma veemente defesa do governo Lula, afirmando que serviu ao presidente com honra, orgulho e paixão e aproveitou para esclarecer que lutou, dentro do PT, contra a campanha 'Fora FHC'. Dirceu reconheceu que existe corrupção no governo federal, mas assegurou que fez a sua parte para combatê-la, determinando que todas as denúncias que chegassem a seu conhecimento fossem investigadas. Ele disse que jamais participou de negociações escusas para garantir a aprovação de projetos de interesse do Poder Executivo.

Publicidade

- O que houve foi o repasse irregular de recursos de campanha do PT para partidos aliados, mas o PT já está respondendo por isso. Não renunciei ao meu mandato porque, depois de 40 anos de vida pública, não poderia deixar de me defender em todas as instâncias; tenho a obrigação de proteger o direito de qualquer cidadão à presunção da inocência e de preservar o devido processo legal - afirmou.

A sessão foi presidida pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Em outra ocasião, a oposição chegou a questionar a imparcialidade Aldo para presidir a sessão, já que ele foi testemunha de defesa de Dirceu no Conselho de Ética. Na época, Aldo disse que não via problema em presidir o julgamento. O deputado, no entanto, decidiu não votar.

Enquanto os aliados de Dirceu se mobilizavam para conseguir apoio contra a cassação, a Esplanada dos Ministérios amanheceu nesta quarta-feira repleta de faixas de apoio ao petista. Uma das faixas trazia a inscrição "José Dirceu, o guerreiro brasileiro". Outra diz "Vigília pelo estado de direito". Também havia várias bandeiras do PT no gramado da Esplanada.

Mas os próprios cabos eleitorais do petista já se mostravam pessimistas, dizendo que ele deveria ser cassadopor uma margem pequena. Faltariam cerca de 35 a 50 votos que não conseguiu modificar.

DEPOIMENTO RETIRADO. Antes de a Câmara iniciar a sessão, o Supremo Tribunal Federal determinou que seja retirado do relatório de Delgado qualquer referência ao depoimento da presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, que acusou Dirceu de ser um facilitador de negócios do banco com o governo.

Publicidade

Ao saber da decisão, o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), fez rasgados elogios ao STF, que viabilizou a votação no plenário da Câmara do processo de cassação:

- Foi uma vitória do bom senso! Fomos ao Supremo e mostramos como funciona o Conselho de Ética. Ficamos satisfeitos.

O primeiro vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), descartou a possibilidade de novo adiamento do julgamento e fez uma previsão que acabou se concretizando:

- À meia-noite esse episódio já terá virado abóbora - disse o pefelista.

Leia a íntegra do discurso de José Diceu pouco anotes de ser cassado

Publicidade