Em seu depoimento inicial no Conselho de Ética da Câmara, em tom de desabafo, Dirceu (PT-SP) deixou claro que não vai renunciar a seu mandato. O deputado enfatizou que está se apresentando como testemunha e que não há qualquer acusação formal contra ele, embora haja, em sua opinião, um prejulgamento de sua conduta.

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- Não vou renunciar ao meu mandato. Não teria condições de olhar nos olhos do presidente do Conselho, do relator, de todos os aqui, da minha geração de 68, dos meus companheiros de luta contra a ditadura, da militância do PT, de andar de cabeça erguida pelo Brasil. Vou lutar pelo meu mandato até o fim. Só quero justiça - discursou Dirceu.

Durante 30 minutos, o ex-ministro se defendeu das acusações do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser um dos operadores do mensalão. Dirceu disse que paga caro por seu posicionamento, mas ressaltou que não existe acusação formal contra ele:

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- Eu não tinha nem sido citado na CPI, exceto pelo deputado Roberto Jefferson. Não posso aceitar que eu seja prejulgado, tratado como um chefe de quadrilha do maior esquema de corrupção do país, como operador do mensalão. Virei bandido agora?

O deputado disse que não assumirá a responsabilidade pelos empréstimos feitos pelo publicitário Marcos Valério ao PT. Segundo Dirceu, ele não participava das decisões da direção do PT.

- Sou responsável pelos meus atos como ministro-chefe da Casa Civil e como deputado federal, neste meu breve mandato. Mas não faço parte da executiva do PT e não participava das decisões. Não posso assumir pelo que não tenho responsabilidade. Os bancos Rural e BMG já declararam que jamais discuti com eles os empréstimos de Marcos Valério ao PT - afirmou Dirceu.

O deputado também enfatizou que não organizou o mensalão e que nunca permitiria a prática de compra de votos de parlamentares:

- Não organizei, não sou chefe do mensalão. Jamais permitiria a compra de voto e o pagamento a parlamentares. Não é verdade que eu sou o operador do mensalão. Não tenho e nem tive nenhuma responsabilidade por compra de votos. Jamais fiz a qualquer parlamentar qualquer proposta que não fosse lícita, republicana - disse Dirceu, acrescentando que defende a investigação das denúncias de existência de pagamento de mensalão na Câmara dos Deputados.

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Dirceu disse que tem sido alvo de uma campanha em setores da mídia interessados em prejulgá-lo. E acrescentou que essa campanha não vai intimidá-lo e impedi-lo de se defender.

- Por que estou sendo acusado e tratado dessa forma no país? Pelo que fiz de errado? Por crimes de que participei? Por atos ilícitos, pela quebra de decoro? Claro que não, mas pelo que represento na História do país, pelo que represento para a esquerda, para o meu partido, o PT, e na eleição do presidente Lula. É isso que está sendo julgado - disse.

O deputado lembrou sua trajetória no PT, as passagens pelos mandatos como deputado e as três presidências do partido, para reafirmar que o PT é um partido pluralista e que não existe "grupo do Dirceu" na cúpula do partido.

- Não preciso de título de ministro para ser militante do PT. Não aceito ser banido da vida política do país. Vou continuar agindo para preservar o PT. Nós militantes reconhecemos erros e mudamos aquilo que foi errado. Este processo já iniciou e, ao contrário do que dizem, apoiei e continuarei apoiando a transição da presidência do partido. E vou apoiar a nova direção, que saberá corrigir os possíveis erros que o PT cometeu.

Dirceu rechaçou denúncias ou insinuações de que o governo Lula tenha sido conivente com a corrupção.

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- O governo Lula, do qual tenho orgulho e honra de ter participado não é um governo corrupto ou que permite corrupção. Estamos investigando, porque eu sou deputado e estou ajudando a investigar as denúncias de corrupção que surgiram. O governo sempre tomou medidas contra corrupção, sempre atuou ao lado do Ministério Público. Eu disse e repito: esse é um governo que não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção - afirmou Dirceu.