No embate mais esperado da política nacional dos últimos tempos, os deputados José Dirceu (PT-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ), antigos aliados e hoje inimigos, ficaram no dito pelo não dito. De um lado, Dirceu negou todas as acusações de Jefferson, que, por sua vez, reafirmou tudo. Os dois se encararam várias vezes, olho no olho, e fizeram questão o tempo todo de demonstrar que não baixariam a guarda. Jefferson se valeu, principalmente, da ironia e do domínio da oratória como advogado criminal. Dirceu usou como armas a serenidade e a firmeza nas respostas. O ex-chefe da Casa Civil prestou depoimento nesta terça-feira no Conselho de Ética da Câmara como testemunha no processo em que Jefferson é acusado de quebra de decoro parlamentar por ter levantados suspeitas sem provas de envolvimento de deputados do PL e do PP no mensalão.
- Foi o maior tráfico de influência, a maior corrupção pública, a maior corrupção política de um partido. O PT não poderia agir sozinho se não tivesse um braço no governo. Volto a afirmar que, infelizmente, esse braço é Vossa Excelência - atacou Jefferson, voltando-se a Dirceu.
O ex-ministro negou ponto a ponto todas as acusações feitas por Jefferson desde o início do escândalo. E se disse estarrecido com a denúncia de que seria responsável por comandar o suposto esquema de pagamento de propinas a deputados:
- Jefferson não me acusa apenas de ter conhecimento do mensalão, mas de ser operador, o administrador, de ter criado o mensalão. Isso é uma coisa estarrecedora. Fico me perguntando que pais é este, como diz a música (da banda Legião Urbana).
Chamado de "professor da escola de mentiras" pelo petebista, o ex-chefe da Casa Civil rebateu lembrando contradições do rival.
- O deputado Roberto Jefferson tenta passar para a nação que eu sou o homem que mente e ele é o homem que não mente. Mas ele mente, sim - disse Dirceu, argumentando que Jefferson apresentou mais de uma versão sobre o que fez com o dinheiro que teria recebido do PT na campanha de 2002.
Diante de Dirceu, Jefferson reafirmou várias vezes as denúncias feitas contra o ex-ministro.
- Tudo o que eu disse e que ele desmentiu aqui eu reitero, eu reafirmo - garantiu o deputado do PTB.
Dirceu argumentou que o governo agiu certo e mandou apurar nos órgãos públicos as denúncias de corrupção que foram feitas, tendo acionado a Polícia Federal e o Ministério Público.
- Não sou investigado, ao contrário de Roberto Jefferson, que é réu confesso - disse, referindo-se ao fato de o deputado do PTB ter admitido publicamente que recebeu doação de campanha para o partido sem declarar à Justiça eleitoral.
Jefferson ironizou a estratégia de defesa de Dirceu, que negou ter tido conhecimento das operações financeiras do empresário Marcos Valério (suspeito de ser financiador do mensalão).
- O ex-ministro José Dirceu vem humildemente dizer a este plenário que não sabia das movimentações financeiras do senhor Marcos Valério, dos saques no BMG, no Banco Rural e no Banco do Brasil. Quer dizer que ele não sabia nada disso? A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) não contou para ele, ele não lia os relatórios? A Polícia Federal não contou para ele, milhões de reais viajando em malas e a Polícia Federal não contava para o homem mais importante do governo?
Os ataques e contra-ataques foram também no campo pessoal. Sempre irônico, Jefferson deu parabéns a Dirceu por se apresentar no Conselho de Ética "despido da arrogância e da empáfia" dos tempos de chefe da Casa Civil.
- O senhor me acusa de ser arrogante, mas o senhor exerce aqui uma satisfação e uma arrogância. Eu nunca fui arrogante quando fui ministro - respondeu Dirceu, que provocou gargalhadas debochadas de outros deputados que acompanhavam o duelo e mostraram discordar do ex-ministro.
A "satisfação" citada por Dirceu foi admitida antes por Jefferson e talvez tenha sido o único ponto em que os dois concordaram:
- Vossa Excelência amendronta as pessoas. Muitos temem esse enfrentamento com Vossa Excelência, mas eu não. Eu não. Pelo contrário, ele gera em mim uma grande satisfação - disse o deputado do PTB.
Mas, em seguida, Jefferson admitiu, com sua habitual ironia, sentir medo de Dirceu:
- Tenho medo de Vossa Execelência, porque Vossa Excelência desperta em mim os instintos mais primitivos. Tenho medo das conseqüências.
Veja os principais pontos do depoimento de José Dirceu
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