O diretor-geral do Instituto de Criminalística (IC), Daniel Felipetto, mantinha uma sala na sede do órgão em Londrina, no Norte do Paraná, como uma espécie de “depósito particular”.
Na última sexta-feira (5), o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) cumpriu mandado de busca e apreensão na repartição e encontrou malotes de ofícios com pedidos de perícias, diversas armas a serem analisadas pelo instituto e até dinamite. Há indícios de que Felipetto engaveta as solicitações de perícias, prejudicando investigações.
“Ele utilizava a sala dele como um grande depósito particular. Nós estamos checando, agora, se de fato essas perícias não eram realizadas”, disse o promotor do Gaeco, Renato de Lima Castro.
Nesta terça-feira (8), o grupo realizava diligências relacionadas ao caso, por isso, ele preferiu não revelar mais detalhes das investigações.
As dinamites encontradas durante o cumprimento do mandado de busca fizeram com que o Gaeco isolasse a sede do IC em Londrina. O prédio precisou ser evacuado e o esquadrão antibombas de Curitiba foi deslocado à cidade do Norte do Paraná para recolher e apreender os explosivos. Além disso, 23 malotes de documentos e o armamento também foram recolhidos e serão analisados pelos promotores.
A investigação pode ter impacto direto em diversas investigações criminais, entre elas, a Operação Quadro Negro, que apura o suposto desvio de verbas que seriam destinadas à construção e reforma de escolas estaduais no Paraná.
Segundo o Portal da Transparência, Felipetto é perito oficial de carreira e ingressou na instituição em 1993. Desde 2015, ele é diretor-geral do Instituto de Criminalística. Em junho deste ano, a remuneração bruta do servidor foi de R$ 33 mil.
Além disso, Felipetto é psicólogo. Há denúncias de que ele usava sua sala particular no IC para atender pacientes. A informação ainda vai ser apurada pelo Gaeco. Peritos criminais consultados pela reportagem disseram que o diretor-geral do IC costuma ir todas as sextas-feiras a Londrina, para atender pacientes particulares no próprio Instituto.
Ligação gravada
Em uma interceptação telefônica feita com autorização a Justiça, Felipetto pede a um servidor do IC para encaixotar perícias e colocá-las em um depósito e menciona a Operação Quadro Negro.
“Está lá, [Operação] Quadro Negro. Sabe o que é isso, hein? Quadro Negro, está com a gente lá (...) Daqui a pouco, vamos acabar com as perícias, porque como eu não sou bobo nem nada”, disse na ligação, cuja gravação foi relevada pelo telejornal Paraná TV. Felipetto menciona ainda o governador Beto Richa (PSDB) e o presidente da Assembleia Legislativa e o presidente do Tribunal de Contas – estes últimos, sem mencionar quem são.
Mantido no cargo
Até a manhã desta terça-feira (9), Felipetto era mantido no cargo. Por meio de nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) – pasta a que o IC está vinculado – disse que o material apreendido “não tem absolutamente nada a ver com a investigação da Operação Quadro Negro” e que o diretor-geral do órgão “não realizou nenhuma perícia” da operação.
Felipetto se manifestou por meio da nota da Sesp, em que afirma que não tem ciência da ação do Gaeco e que está “à disposição dos promotores para esclarecer eventuais dúvidas”. Ele diz que as perícias envolvendo a Quadro Negro estão sendo concluídas e que o trabalho “só não é mais célere por conta da falta de pessoal – situação que será revertida com a contratação de novos servidores mediante concurso público”.
Ainda em relação a Quadro Negro, a Sesp afirma que 60% das perícias já foram realizadas e encaminhadas à Polícia Civil e ao Ministério Público e que o índice de entrega chegará a 75% até o fim desta semana. As perícias dizem respeito à medição de obras em escolas.
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