Em depoimento prestado à Polícia Federal (PF), o diretor da Polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, disse nesta segunda-feira (24) que, a pedido do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), policiais legislativos fizeram uma varredura na residência oficial da Presidência da Câmara à procura de dispositivos de escuta ambiental e telefônica.
Maia diz ter dúvidas se a ação da Polícia Legislativa estava errada
Leia a matéria completaO pente-fino na residência ocupada por Eduardo Cunha ocorreu, segundo ele, depois que a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão no imóvel, em dezembro do ano passado, numa das etapas da Operação Lava Jato.
O diretor foi preso na última sexta-feira (21) na Operação Métis, que apura suposto uso de equipamentos de contrainteligência do Legislativo para blindar políticos de investigações. A suspeita é que os policiais legislativos rastreavam eventuais aparelhos de escuta, implantados pela PF com autorização da Justiça.
A PF deve pedir a prorrogação da prisão temporária do diretor. Ele é apontado como o chefe “da organização criminosa” que atuaria para blindar políticos. Outros três policiais legislativos foram ouvidos e liberados.
O diretor foi perguntado sobre as varreduras nas casas de outros políticos, entre eles o ex-senador e ex-presidente José Sarney (PMDB). Explicou que não questionava as ordens que vinham de senadores. Apenas as recebia e cumpria.
Os pedidos de varredura para Cunha e Sarney, conforme a investigação em curso, não tinham numeração. Para a PF, essa prática foge ao procedimento padrão da Casa.
Polícia Legislativa da Câmara diz desconhecer varredura em residência oficial
A Polícia Legislativa da Câmara disse desconhecer a varredura na residência oficial em Brasília solicitada no ano passado pelo então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aos policiais legislativos do Senado.
Segundo a Polícia da Câmara, a varredura pode ter acontecido sem o conhecimento da instituição porque os policiais que fazem a segurança presidencial não costumam circular pela residência do deputado e não tem o controle das pessoas que entram com o consentimento do parlamentar.
Diferentemente da Polícia Legislativa do Senado, onde o diretor Pedro Ricardo comandava a equipe há 11 anos, na Câmara dos Deputados a diretoria muda, em média, a cada dois anos. Ao assumir a presidência da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trocou todos os diretores, inclusive da Polícia Legislativa.
As mudanças geralmente ocorrem a cada troca de presidente da Câmara, que promove os policiais de sua confiança. O último que ocupou o cargo foi Paulo Marques, que assumiu a função na gestão do então presidente Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em 2013. Com um perfil mais político, Marques conseguiu se manter no cargo durante a gestão do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Fontes dizem que Marques se expôs além do recomendado, recepcionava o presidente pessoalmente na entrada da Câmara e gostava de aparecer sempre ao lado de Cunha. Marques foi substituído há um mês por Paul Deeter, que foi professor de inglês de Maia há 25 anos. “Apenas renovei, nada além disso”, justificou Maia.
A Polícia Legislativa da Câmara tem um efetivo de 260 homens e foi criada por uma resolução de 2003. Não há vínculo administrativo com os colegas do Senado. A essência do trabalho é fazer a segurança nas dependências da Casa, o controle de entrada no prédio e a segurança do presidente da Câmara 24 horas por dia. Em 2014, os policiais chegaram a fazer a escolta de Alves durante sua campanha para governador do Rio Grande do Norte porque o deputado não havia se licenciado do cargo para disputar o governo local.
Os policiais da Câmara já chegaram a reivindicar a compra de um equipamento de varredura parecido com o do Senado, mas a Casa nunca autorizou sua aquisição por se tratar de um equipamento caro. Os agentes são capacitados para fazer apenas a varredura física, mas as solicitações geralmente são formalizadas.
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