Uma gerente da Petrobras advertiu a atual diretoria da Petrobras de uma série de irregularidades em contratos da empresa muito antes do início da Operação Lava Jato, segundo reportagem publicada no jornal Valor Econômico desta sexta-feira (12).
De acordo com a publicação, Venina Velosa da Fonseca, que foi subordinada do ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, um dos acusados por desvios na estatal, enviou denúncias por e-mail à presidente da Petrobras, Graça Foster, e ao diretor que substituiu Costa, José Carlos Cosenza.
A Petrobras divulgou nota em que afirma que todas as informações enviadas pela funcionária foram apuradas. A empresa não confirma se Foster e Cosenza receberam os e-mails publicados pelo jornal. Os alertas são referentes a desvios que somam bilhões de reais em três áreas da empresa.
As primeiras denúncias de Venina Fonseca referiam-se a pagamentos de R$ 58 milhões por serviços que não foram realizados na área de comunicação, em 2008. Segundo a gerente, ela procurou Costa para reclamar dos contratos. Este teria apontado uma foto do presidente Lula e questionado Venina se ela queria "derrubar todo mundo", relata a reportagem.
Em 2009, segundo o jornal, a gerente enviou um e-mail a Graça Foster, na época diretora de Gás e Energia, alertando-a sobre a escalada de preços em obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e apresentando sugestões para mitigar o problema.
As obras da refinaria, orçadas em R$ 4 bilhões, chegaram ao custo de R$ 18 bilhões. No mesmo ano, a gerente teria deixado o cargo de gerente na diretoria de Abastecimento e, no ano seguinte, foi enviada para trabalhar na unidade da Petrobras em Cingapura. No país asiático, teria sido orientada a não trabalhar, segundo o jornal.
Em 2011, a gerente teria escrito outro e-mail a Foster dizendo não ver mais alternativas para mudar a situação dos desvios na empresa e sugere apresentar a documentação que possui à então diretora de Gás e Energia. "Gostaria de te ouvir antes de dar o próximo passo", disse Venina na mensagem publicada pelo Valor.
Em março de 2014, Venina teria alertado Cosenza sobre perdas financeiras em operações internacionais da Petrobras, que subiram em até 15% os custos no exterior. Segundo a reportagem, a gerente fez uma apresentação sobre as perdas na sede da Petrobras, no Rio, em maio. Uma última mensagem sobre o assunto teria sido enviada em 17 de novembro.
No dia 19 do mesmo mês, Venina foi afastada de seu cargo junto a vários suspeitos na Operação Lava Jato, apesar de não ter o nome citado em denúncias. "Inferno"
O jornal traz cópia de um e-mail da gerente a Graça Foster um dia após seu afastamento. "Desde 2008, minha vida se tornou um inferno, me deparei com um esquema inicial de desvio de dinheiro, no âmbito da Comunicação do Abastecimento. Ao lutar contra isso, fui ameaçada e assediada. Até arma na minha cabeça e ameaça às minhas filhas eu tive", escreveu Venina.
"Tenho comigo toda a documentação do caso, que nunca ofereci à imprensa em respeito à Petrobras, apesar de todas as tentativas de contato de jornalistas. Levei o assunto às autoridades competentes da empresa, inclusive o Jurídico e a Auditoria, o que foi em vão", continuou.
"Posteriormente, voltei a me opor ao esquema que parecia existir no projeto RNEST", disse, referindo-se a Abreu e Lima. "Novamente, fui exposta a todo tipo de assédio. Ao deixar a função, eu fui expatriada, e o diretor, hoje preso, levantou um brinde, apesar de dizer ser pena não poder me exilar por toda a vida."
"Agora, em Cingapura, me deparei com outros problemas, tais como processos envolvendo a área de bunker e perdas, e mais uma vez agi em favor da empresa (...). Não chegaram ao meu conhecimento ações tomadas no segundo exemplo citado, dando a entender que houve omissão daqueles que foram informados e poderiam agir", conclui.
Outro lado
A Petrobras divulgou nota na noite de quinta (12) em que afirma que a empresa "apurou todas as informações enviadas pela empregada citada na matéria". A estatal diz ter instaurado comissões internas em 2008 e 2009 para averiguar os indícios de irregularidades em contratos e pagamentos da gerência de Comunicação da diretoria de Abastecimento e que o resultado das análises foi "encaminhado às autoridades competentes".
Sobre as denúncias referentes a negócios no exterior, a companhia diz que aprimorou os procedimentos de compra e venda e adotou as providências administrativas e negociais cabíveis. Segundo a Petrobras, a área responsável pela fiscalização pelo controle de perdas de óleo combustível não constatou nenhum problema entre 2012 e 2014.
Por fim, sobre Abreu e Lima, a empresa diz já ter concluído relatório de apurações sobre contratações para a obra e que já encaminhou os resultados para órgãos de controle e autoridades competentes.
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