A distribuição e o tom dos discursos nos dois dias de preparação para a votação do impeachment expõem a dificuldade de defesa da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados. Dos 249 parlamentares inscritos para falar neste sábado (16/4) na tribuna, 170 vão se pronunciar a favor do afastamento e 79 contra. Se a mesma proporção se repetir na sessão definitiva, domingo (17/4), o processo segue para o Senado.
Primeiro round: veja como foi o primeiro dia de debates na Câmara
A situação é agravada pelo resultado de enquetes feitas pelos jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, que passaram a apontar no meio da tarde de sexta-feira (15/4) que mais de 342 deputados (número mínimo necessário) haviam declarado voto a favor do impeachment. Cada vez mais isolados, os petistas foram forçados a conviver com um cenário de festa antecipada da oposição.
Deputados pró-impeachment levaram familiares para acompanhar as sessões. O paranaense Evandro Rogério Roman (PSD-PR) viajou com a mulher, os três filhos, a mãe a sogra para passar o fim de semana em Brasília. Um dos garotos declarou que a votação “é melhor que final de Copa do Mundo”.
Paulinho da Força (SD-SP) distribuiu centenas de fitas verde-amarelas para identificar os colegas favoráveis ao impeachment. Além disso, chegaram ao plenário faixas e cartazes com frases irônicas, como “Tchau, querida” e “Acabou a boquinha”. Como resposta, os governistas levaram cartazes que expunham uma Constituição rasgada e a frase “Não vai ter golpe”.
Num país que tem uma corrupção histórica e estrutural, ter uma presidente da República sem nenhuma imputação grave ser afastada por questões contábeis, que sempre foram feitas por todos os governos, é isso que se quer?
Fitas nos ombros
Primeiro a falar, um dos autores do pedido de impeachment, Miguel Reale Júnior aderiu à moda das fitas sobre os ombros ao subir à tribuna. O jurista se concentrou no combate à argumentação petista de que o processo é um golpe. “Golpe houve quando se mascarou a situação fiscal do país, se continuaram a fazer imensos gastos públicos e tiveram que se valer de empréstimos de entidades financeiras controladas pela União para mascarar a situação falimentar do Tesouro Nacional”, declarou.
Na sequência, foi a vez do advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, fazer a defesa de Dilma. Cardozo voltou a utilizar a estratégia de demarcar diferenças entre a situação da presidente e de outros políticos investigados pela operação Lava Jato, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). “Num país em que temos investigações contra inúmeras pessoas públicas, em que há vários inquéritos em curso, a senhora presidente da República não tem nenhuma investigação contra ela.”
Na sequência, líderes dos 25 partidos com representação na Câmara passaram a discursar. Em diversos momentos, o plenário ficou vazio, com deputados discursando para menos de 40 colegas. A maratona avançou durante a madrugada de sexta para sábado e Cunha chegou a prever a manutenção das sessões de debates, sem interrupção, até às 14 horas de domingo, quando começa a votação.
A decência haverá de se sobrepor a um governo moralmente desonesto. Isso é safadeza. Não tem nada de presidencialismo de coalizão. Vossa Excelência locupletou-se da esperança dos brasileiros, do sonho dos jovens e é com muito orgulho que voto pelo impeachment.
Vivemos um momento de grande aflição no país. Estamos ansiosos, envolvidos em uma longa doença que domina a vida brasileira, queremos ressurgir para a saúde. Senhores deputados, vocês são nossa saúde (...) São os libertadores dessa prisão que vivemos.
Primeiro round
Como foi o primeiro dia de debates para a votação do impeachment pelo plenário da Câmara:
Pontualidade
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) abriu a sessão exatamente no horário previsto, às 8h55. A previsão dele é que as sessões de debate sejam “emendadas” e se estendam até a votação, agendada para as 14 horas de domingo.
Reale x Cardozo
Os dois primeiros discursos reeditaram o debate sobre “golpe” e “não golpe” entre o advogado Miguel Reale Júnior, autor do pedido de impeachment, e do advogado-geral da União, visto durante a comissão especial.
Três contra um
Mais de dez horas de sessão se passaram até que os quatro maiores partidos se posicionassem – pela ordem, PMDB, PSDB, PT, PP e PSD. Quase nenhum parlamentar de fora do PT manifestou voto contrário ao impeachment.
Dureza
Deputados do baixo clero, que falaram graças à cessão de tempo pelos líderes, surpreenderam pelo discurso ainda mais pesado contra Dilma. “O atual governo parece à antessala de animação de um prostíbulo, tem bandeira de bandidos adestrados, desde que aplaudam o governo”, declarou Alceu Moreira (PMDB-RS).
PP adere
Na noite de sexta-feira, o PP, tido como fiel da balança da votação após a debandada do PMDB, anunciou que vai votar fechado a favor do impeachment. A legenda é a quarta maior da Câmara, com 47 cadeiras. A decisão foi comemorada em plenário.
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