Enquanto o Brasil aperta os cintos num momento em que a palavra de ordem é ajuste fiscal, do outro lado do Atlântico, a Europa mergulha numa discussão que até bem pouco tempo atrás assustava analistas e os próprios governos dos países ricos: será que a austeridade é mesmo a saída para o crescimento? Sob a ameaça iminente de um período prolongado de deflação, o velho continente agora busca maneiras de estimular as economias e garantir a boa saúde dos 18 países da zona do euro – e isso depois de o Banco Central Europeu (BCE) anunciar uma injeção de 1 trilhão de euros no mercado.
Mas nem todos os países estariam prontos para afrouxar os cintos. E o grande debate será exatamente decidir quem – e como – poderá fazê-lo. O tema ganhou espaço desde a eleição do partido de extrema-esquerda Syriza na Grécia, com seu discurso em favor da renegociação da dívida e do fim do ajuste fiscal para garantir investimentos e empregos.
RECUPERAÇÃO
Depois de seis anos de desaceleração, o PIB da Grécia cresceu 1,7% no ano passado. Mas o país está muito longe do patamar de antes da crise de 2008. Em 2013, a economia encolheu quase 4%, após os tombos de 6,6% e 8,9% nos dois anos anteriores. O desemprego passou de 7,7% em 2008 para cerca de 25% atualmente.
Uma agenda que não agrada em nada a Alemanha – maior credor do bloco europeu e feroz defensora da austeridade como fator de credibilidade e exemplo para os outros países em situação delicada. Na sexta-feira, o Eurogrupo, que reúne os ministros de Economia e Finanças da zona do euro, anunciou um acordo para ampliar a ajuda financeira à Grécia por quatro meses, mediante a apresentação de um “programa de reformas mais amplo”, que o país terá de apresentar segunda-feira.
Segundo o economista Aris Trantidis, da King’s College, desde a crise de 2008, os céticos e os críticos estão mais vocais quanto ao paradigma econômico. Em 2014, os 28 países da UE cresceram 1,4%, enquanto os da zona do euro, 0,9%. Com um crescimento bem acima do esperado pelo mercado no último trimestre, a Alemanha voltou a ser a locomotiva do bloco, com um aumento do PIB de 1,5% no ano passado. Mas a Itália voltou a encolher (0,4%) e outros países mantiveram-se praticamente no mesmo patamar. “A zona do euro será uma fonte de incertezas daqui por diante. Talvez este seja o momento mais difícil da UE desde os anos 1990, mas certamente não será o último nem o pior dos anos que estão por vir”, alertou.
O presidente do Banco da Inglaterra já afirmou que a incapacidade dos países ricos de ajudar os mais pobres é uma ameaça capaz de jogar a zona do euro em “outra década perdida”. Afinal, de 2005 a 2014 o crescimento na área ficou praticamente estagnado – e muitos países ainda não conseguiram voltar aos níveis pré-crise de 2008.
Discurso contrário
Fora da zona do euro, o Reino Unido cresceu invejáveis 2,7% no ano passado, superando as expectativas. Mas, nos últimos cinco anos, o governo conservador promoveu um intenso ajuste fiscal capaz de custar importantes cadeiras ao Partido Conservador no Parlamento.
Esse panorama serve para incendiar cada vez mais o discurso de partidos nacionalistas do bloco europeu, como em Espanha, Irlanda, Portugal e Itália, cujas economias continuam patinando na velha e dolorosa cartilha da austeridade fiscal.
A preocupação vai além das fronteiras na Europa. Na última reunião do G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo celebrou o afrouxamento monetário do BCE e afirmou que os países do grupo deviam “manter a política fiscal flexível para refletir realidades econômicas de curto prazo”.
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