A repetição do roteiro de crise que assola a gestão Dilma Rousseff (PT) colocou o governador Beto Richa (PSDB) no foco da política nacional. Dificuldades financeiras, ajustes fiscais impopulares e denúncias de corrupção são pontos em comum nas comparações negativas das duas administrações. Desde a repressão policial que acabou com 213 feridos no Centro Cívico, dia 29 de abril, Richa virou peça-chave do xadrez político que opõe petistas e tucanos.
Richa critica o PT e diz que “não há foco na greve” dos servidores
Na linha de crítica aos petistas, o governador Beto Richa (PSDB) disse nesta quarta-feira (20) em Brasília que “não há foco na greve no Paraná”. “Os sindicatos são instrumentalizados pelo PT. Petista fala bem com petista”, afirmou o tucano, em uma comparação com o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT).
“Lá [no Paraná] há uma articulação de um braço sindical do PT, que tenta o tempo todo o confronto, o desgaste político”, declarou. Richa falou que precisa “ser responsável com as finanças do estado”. “O dinheiro não é meu, é do contribuinte. Se eu exagerar demais em um lugar, vai faltar dinheiro em obras de hospitais, escolas, de estradas de qualidade, infraestrutura urbana.”
Richa também afirmou que “seria muito mais confortável dizer amém” para todas as demandas corporativas. “Mas eu estaria sendo irresponsável com a sociedade paranaense, com aqueles que pagam com dificuldades os seus impostos.” (AG)
A nacionalização da crise forçou o governador a tentar uma reação em Brasília. Em busca de agendas positivas e de espaço para defesa, passou terça (19) e quarta-feira (20) no Congresso Nacional. Encontrou-se com líderes do PSDB, governadores de outros estados, os presidentes do Senado e da Câmara e concedeu entrevistas para os principais veículos nacionais (como os jornais O Globo e Folha de S. Paulo , o portal UOL, e a Rede Globo).
Na terça, na reunião mais importante, conversou com o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o líder do partido no Senado, Cassio Cunha Lima (PB), e o senador Tasso Jereissati (CE). “É evidente que o assunto veio, mas eu fiz uma visita a eles para pedir apoio ao [Luiz Edson] Fachin”, disse Richa. Mais tarde, comemorou dentro do plenário a aprovação do jurista paranaense, por 52 votos a 27, para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Em uma declaração de 15 segundos à Gazeta do Povo sobre a situação de Richa, Aécio disse que o partido apoia o paranaense. “Todos nós lamentamos os episódios que ocorreram e eu tenho a confiança de que o governador Beto Richa vai superar as dificuldades. O partido confia na sua capacidade e na sua correção”, afirmou o senador mineiro.
Aécio e Richa foram alvo das mesmas críticas veladas do ex-presidente Lula na segunda-feira (18). Ao elogiar o compromisso do governador de Minas Gerais, F ernando Pimentel (PT), de elevar o salário dos professores da rede pública mineira para o piso nacional até 2017, o petista escreveu em sua página no Facebook que “educação se constrói com diálogo, não com violência”. E também atacou as gestões anteriores de Aécio e Antonio Anastasia no estado.
Antes, em pronunciamento realizado no dia 1.º de maio, Dilma também abordou o confronto do dia 29 de abril. “Temos que nos acostumar às vozes das ruas, aos pleitos dos trabalhadores, reconhecer como legítimas as reivindicações de todos os segmentos sociais da população, sem violência e sem repressão”, declarou a presidente.
Nesta quarta, o presidente nacional do PT, Ruy Falcão, emitiu nota criticando a mais recente propaganda partidária do PSDB, que ataca a corrupção no governo Dilma, e citou novamente o Paraná. “Não bastassem os escândalos do mensalão mineiro, do bilionário cartel do ‘trensalão’ do governo de São Paulo, da denunciada propina de R$ 10 milhões para um ex-presidente do partido, os tucanos tentam desviar a atenção de sua mazela mais recente: a do governador que, acusado de receber propina, massacra os professores e aterroriza a população.”
Do outro lado, Richa afirmou que “não há dúvida” de que a crise que ele enfrenta no Paraná é movida por interesses políticos do PT. “O Lula falar mal de mim vai constar do meu currículo. As pessoas deviam estar preocupadas se ele me elogiasse. Gozado que ele não aparece para falar do petrolão, da última denúncia da Rosemary [Noronha, ex-secretária de Lula], do BNDES, do mensalão.”
Questionado sobre as denúncias que envolvem a Receita Estadual do Paraná, no entanto, Richa disse que “vai se posicionar em breve”.