A disputa pelo comando da liderança do PMDB na Câmara dos Deputados evidenciou a divisão da bancada do partido na Casa, uma faceta menos visível nos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff.

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Três deputados --Sandro Mabel (GO), Eduardo Cunha (RJ) e Osmar Terra (RS)-- concorrem ao cargo de líder da bancada, ocupado atualmente pelo deputado Henrique Eduardo Alves (RN), que disputa a presidência da Câmara.

A divisão é acompanhada de perto pela cúpula do partido, em especial pelo vice-presidente da República Michel Temer, que tenta a todo custo evitar que, após o resultado, as forças derrotadas formem blocos independentes, causando transtornos para o governo no Congresso.

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Desde a semana passada, Temer reuniu-se com todos os candidatos e outros peemedebistas influentes e deu um recado claro. "A divisão da bancada não traz resultados para ninguém e o prejuízo é dividido por todos", relatou um membro do partido à Reuters sob condição de anonimato.

Neste momento, porém, pregar a união parece ineficaz, pois os três postulantes estão em busca de votos e para isso não têm poupado ataques e prometido que tornarão a bancada mais independente do governo do que na gestão de Alves.

Os três candidatos dizem ter votos para chegar ao segundo turno da disputa, mas evitam declarar que serão vitoriosos. E como a votação marcada para 3 de fevereiro, um domingo, será secreta, há deputados prometendo o voto para os três candidatos.

Segundo o peemedebista ouvido pela Reuters, não há como apontar um favorito na disputa por enquanto.

O deputado Eduardo Cunha lançou sua candidatura antes dos demais, mas sofre resistências no governo e por parte dos deputados peemedebistas que querem uma nova fórmula de divisão dos royalties de petróleo, cujos recursos são destinados majoritariamente para o Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo.

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Cunha já declarou que sua posição é contrária a uma nova divisão que prejudique seu Estado, mas avisou que não privilegiará sua posição pessoal sobre os interesses da bancada, tentando não perder votos dos deputados de Estados não-produtores.

O parlamentar fluminense disse à Reuters que a disputa na bancada "é boa" e "faz bem ao partido".

Cunha é visto por integrantes do governo como parlamentar difícil de negociar e, por vezes, chegou a ser acusado de chantagear o Palácio do Planalto em temas importantes. Ele rejeita essas acusações e diz que trabalhará pelos interesses do Executivo se comandar a bancada.

Mabel, que voltou ao PMDB em 2011 depois de sair do PR, diz não acreditar que a disputa resultará num racha permanente na bancada e promete trabalhar pela união dos liderados se vencer.

No discurso aos colegas eleitores, no entanto, tem dito que será "duro" com o governo e defenderá os interesses da bancada.

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"Serei intransigente com espaço (no governo) e emendas", disse à Reuters.

Mabel reforça ainda que focará sua atuação nos interesses da bancada e não usará a liderança do partido para travar disputas internas. "O Eduardo (Cunha) tem um projeto de poder", disse sobre o adversário, indicando que Cunha tentará voos mais altos se chegar à liderança.

Os três candidatos estão do mesmo lado ao encampar o descontentamento dentro da legenda com o espaço ocupado pelo PMDB no primeiro escalão do governo.

O partido comanda cinco ministérios (Turismo, Minas e Energia, Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, Previdência e Agricultura), acha pouco e essa presença é alvo de reclamações recorrentes dos deputados e senadores.

O gaúcho Osmar Terra, que desde 2011 é um dos líderes de uma corrente interna chamada Afirmação Democrática, que prega maior independência do partido em relação a algumas posições do governo, rechaça que sua candidatura represente um risco para o Executivo.

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Ele admite que a suposta desconfiança de alguns é alimentada por ter apoiado a candidatura do tucano José Serra em 2010 contra a presidente Dilma Rousseff. Mas diz que isso não quer dizer que trabalhará contra o governo se liderar a bancada.

"Mas temos que mudar o jeito de fazer política. Temos que propor mais, não só homologar (o que o governo quer)", disse à Reuters.

Terra lembra, porém, que se realmente houvesse uma resistência do Executivo contra ele o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), não o teria convidado para ser um dos vice-líderes governistas na Casa.

"Se eu fosse contra o governo não me candidataria", afirmou.

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