Nem mesmo as festas de fim de ano foram suficientes para esfriar as articulações pela liderança do PMDB na Câmara. O maior partido da base aliada do governo definirá em fevereiro se o comando da bancada permanecerá nas mãos de um aliado da presidente Dilma Rousseff durante o processo de impeachment, ou se será entregue ao grupo dissidente que defende o afastamento do partido do Palácio do Planalto.
Há pressão da cúpula da legenda para que Leonardo Picciani (PMDB-RJ) fique fora da disputa, mas o atual líder, que tem apoio do Planalto, pretende brigar pelo cargo. “Vou ser o candidato e minha proposta é de buscar unidade, respeitar as posições. Sei que nesse momento não há unidade, mas disputarei e tenho a convicção de que unificarei a bancada.”
Já os deputados oposicionistas pressionam Picciani para que marque já a data e decida a forma como a eleição será feita. Para dificultar a recondução do atual líder, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretende cobrar a aplicação de um suposto acordo segundo o qual a recondução só poderá ocorrer por dois terços dos votos da bancada. Picciani nega que exista esse acordo e diz que, para voltar a ocupar a liderança do partido em 2016, basta alcançar a maioria dos votos. No início de 2015, Picciani venceu Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA) por um voto.
Pé na estrada
Sob o risco de perder a presidência do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, vai começar a percorrer o Brasil para impulsionar as campanhas municipais e pavimentar o caminho para que o partido tenha um candidato próprio em 2018, quando, ao que tudo indica, não estará mais ligado ao PT.
Após o episódio da destituição e retomada do posto por Picciani, os peemedebistas anti-Dilma querem emplacar um candidato da bancada de Minas Gerais para a vaga, mas encontram dificuldades porque os sete deputados mineiros têm posições divergentes. O argumento é que, proporcionalmente, Minas foi o estado menos atendido pelo governo na distribuição de cargos relevantes, inclusive na Esplanada dos Ministérios. Entretanto, ainda não há um nome definido, devido a uma disputa interna entre os mineiros.
“Nosso movimento é oferecer a liderança a Minas Gerais. Está na hora de unir o partido, e Picciani não é o nome para unir. Ele desuniu a bancada, colocou os interesses dele e do estado dele acima dos interesses da bancada”, critica Lúcio Vieira Lima.
Possível saída de Eduardo Cunha da presidência da Câmara também é tema de debate interno na legenda
Outro tema que ocupará as discussões internas do PMDB é a sucessão de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) acate a demanda do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que pediu formalmente a saída dele do cargo.
O secretário-geral do partido, ex-ministro Eliseu Padilha, afirma que a legenda não abrirá mão da presidência da Casa, mas que o assunto ainda não está na pauta. “O Cunha ainda está na guerra, não se entregou. O PMDB não abrirá mão da presidência. É uma questão do PMDB, vamos querer resolvê-la no partido.”
Entre os deputados, a ordem é aguardar até que esteja mais claro se Cunha de fato perderá o cargo e de que forma isso ocorrerá. O presidente da Câmara já deu sinais claros de que vai retaliar com as armas que tiver ao alcance aqueles que cobiçarem o lugar que ainda ocupa.
Caso não perca o mandato no processo de cassação de que é alvo no Conselho de Ética e seja apenas afastado da presidência, quem assume o cargo temporariamente é o vice-presidente da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA). Somente quando estiver definida a vacância da presidência os deputados pretendem se expor na disputa pelo posto.
No Palácio do Planalto, o discurso oficial é que o governo não se intrometerá em disputas intrapartidárias e dentro do Legislativo. Mas, além de trabalharem para que Leonado Picciani mantenha a liderança do PMDB, emissários da presidente Dilma avaliam que o sucessor à presidência da Câmara deve ter um perfil menos beligerante que o de Cunha.
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