O rompimento do PMDB com o governo Dilma Rousseff (PT) não representou uma dissociação completa da imagem do vice-presidente Michel Temer (PMDB) dos problemas que preocupam o Palácio do Planalto.
Pelo contrário: desde o desembarque do partido, o peemedebista passou ser mais visado como alvo de críticas por parte de políticos e da própria população.
Logo que o PMDB anunciou – depois de uma reunião de três minutos – a saída do governo, na última semana, a hashtag #RenunciaTemer ganhou posição de destaque entre os comentários do Twitter. A partir daí, o vice-presidente começou a ser bombardeado de todos os lados.
As críticas parecem amedrontar Temer. Nesta segunda-feira (4), em discurso na tribuna do Senado, o aliado do vice Valdir Raupp (PMDB-RO) propôs a elaboração de uma emenda constitucional para a realização de uma eleição presidencial já em outubro. Ele afirmou que Temer não gostaria de assumir o governo na atual conjuntura política e econômica do país.
“Michel Temer me ligou há uma semana dizendo ‘Raupp, eu não quero ser presidente da República em uma situação dessas’. Repito, ele disse ‘Raupp, eu não quero ser presidente numa situação dessas porque, com impeachment ou sem impeachment, isso não vai acabar bem’”. Raupp afirmou ainda que o vice está recolhido porque tem recebido muitas críticas.
Consequências legais
Caso ocorra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), as ações contra a chapa encabeçada por ela no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devem ter responsabilidade assumida pelo vice Michel Temer.
O peemedebista também já é alvo de pedido de impeachment na Câmara dos Deputados, protocolado pelo ex-governador do Ceará, Cid Gomes. Outros partidos, como a Rede, de Marina Silva, ensaiam formular solicitações de saída do vice caso ele assuma o poder.
Mesmo a imprensa já dá sinais de que um possível governo Temer não terá legitimidade: em editorial publicado no final de semana, o jornal Folha de S.Paulo, por exemplo, pediu a renúncia de Dilma juntamente com o peemedebista.
As “cutucadas” se intensificaram quando, em ato em Fortaleza (CE) neste sábado (2), o ex-presidente Lula disse que Temer deveria “aprender sobre as eleições”.
“O Temer é um professor de direito e sabe que o que estão fazendo é um golpe. E isso, ele sabe que vão cobrar é dos filhos dele, é do neto dele, amanhã. Porque a forma mais vergonhosa de chegar ao poder é tentar derrubar um mandato legal”, declarou.
A assessoria de imprensa do vice-presidente rebateu a crítica com uma nota afirmando que “justamente por ser professor de direito constitucional, Michel Temer tem ciência de que não há golpe em curso no Brasil”. A resposta ácida do peemedebista, porém, não baixou as armas do contra-ataque governamental.
Investidas
Outra investida partiu do advogado-geral da União José Eduardo Cardozo que, em sessão da comissão do impeachment nesta segunda, afirmou que um possível governo Temer não teria condições de governar. “Pouco importa se são bons ou se são maus ou se são probos ou não [os que vão assumir o governo]. A verdade é que um governo precisa ter legitimidade”, disse.
O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) citou, no plenário da Casa, uma “união” de Temer e do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em torno do impeachment, apelidando a dupla de “chapa do golpe”. “Se o Temer assumir, o Cunha vira o segundo da linha sucessória. Há uma chapa do golpe aqui”, disse.
O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), também criticou o vice. “Se Cunha assumisse, seria uma noite de terror”, afirmou.
Análise
Para o cientista político Adriano Gianturco, na atual situação política brasileira, é natural que, além da cúpula petista, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) vire alvo de “ataques de todos os lados”. “O PMDB participou do governo, é difícil se dissociar tão rápido”, avalia.
Ele faz uma comparação das consequências da operação Mãos Limpas, na Itália, que resultou na dissolução de diversos partidos, com o processo brasileiro. “Aqui deve ocorrer a mesma coisa, mas em menor escala: mais de um partido e mais de uma pessoa devem sair machucados”, aponta.
Segundo Gianturco, essa consequência só será evitada por Temer se o peemedebista obter o “divórcio” governista a partir de negociações internas com partidos que poderão formar base de um novo governo e com o reforço do discurso no “novo”. “Apesar de tudo, os interesses em jogo querem um governo de união nacional”, acredita.
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