Integrantes do governo da presidente Dilma Rousseff criticaram, nesta quarta-feira (11), a divulgação de uma cartilha em que o PT ataca o juiz Sergio Moro e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, além de condenar, nominalmente, procuradores e delegados envolvidos na Operação Lava Jato.
Cartilha do PT diz que Lava Jato difunde mentiras para eliminar partido
Leia a matéria completaEntre ministros do governo, o documento foi apontado como “um tiro no pé”, uma vez que o desdobramento das investigações depende desses agentes. Petistas ligados ao governo chegam a lembrar que uma ação de busca e apreensão na casa de Luis Cláudio, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrera depois de o Instituto Lula entrar com uma representação contra um procurador da República.
A elaboração do documento nasceu a pedido de Lula, no fim de junho deste ano. Seguindo orientação do ex-presidente, o PT criou um grupo de trabalho encarregado de produzir um documento que servisse de munição aos militantes.
Carlos Henrique Árabe e Monica Valente foram designados para coordenar sua redação. Antes da divulgação, o texto, de 34 páginas, foi submetido ao Instituto Lula.
A publicação do documento -repleto de ataques à imprensa- ocorreu um dia depois de o titular de Secretaria de Comunicação de Governo, Edinho Silva, se reunir em São Paulo com o comando das Organizações Globo.
Segundo Árabe, o conteúdo do texto foi aprovado pela Executiva Nacional do PT. O documento passará por uma revisão apenas para aprimorar seu acesso via internet. A cartilha está sendo enviada pela presidência do PT a vereadores e deputados estaduais.
Para integrantes do governo, foi um erro confeccionar o documento no momento em que o Judiciário decidirá sobre aplicação de multa ao PT para ressarcimento aos cofres públicos dos recursos que teriam sido desviados na Operação Lava Jato.
O nome de Moro é, por exemplo, citado 19 vezes. “Todos os ex-dirigentes da Petrobras investigados na ‘Operação Lava Jato’ eram altos funcionários da estatal no governo FHC. Mas, como diz o juiz Sergio Moro, ‘isso não vem ao caso’“, acusa o texto que será publicado do site do partido.
Gilmar Mendes é mencionado quatro vezes: “As manobras e declarações antipetistas de Mendes, incompatíveis com a imparcialidade e o recato exigidos de um juiz, não são capazes de mudar a realidade: quem escancarou a influência do poder econômico na vida política brasileira foi o governo do PSDB, o mesmo que corrompeu o Congresso para introduzir a reeleição”, diz.
O texto acusa ainda a procuradoria de engavetar casos referentes à máfia dos trens em São Paulo. “Se não tivesse sido investigado fora do Brasil, esse caso também seria jogado para debaixo do tapete. Com auxílio do procurador Rodrigo de Grandis, o processo estava engavetado”.
A cartilha aborda a relação de Moro com a ministra Rosa Weber. “Moro foi assistente de Rosa Weber na AP 470 (‘Mensalão’)”, diz.
O texto diz ainda que “o juiz Sergio Moro e sua ‘equipe’ de delegados da PF e procuradores do MPF [Ministério Público Federal] do Paraná fazem de tudo (até mesmo anistiar criminosos confessos) para atingir o PT”.
I gor Romário de Paula é acusado de usar as redes sociais durante a campanha eleitoral de 2014 em favor do senador Aécio Neves (MG), candidato do PSDB.
A cartilha condena o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol. Diz que Dallagnol fez uma “pregação” em uma igreja evangélica contra o governo. A cartilha reserva um capítulo só para os ataques à mídia, incluindo textos de blogueiros contra empresas de comunicação. Árabe explica que, ao citar os delegados e procuradores, o PT deseja que se afastem do caso.
Ao falar do que chama de “vícios da Lava Jato”, o PT cita a “condenação sem provas do companheiro João Vaccari Neto”. O petista já foi condenado a 15 anos de prisão e é réu em outros dois processos na Lava Jato, acusado de ter intermediado propina para o partido resultante de contratos na Petrobras. “No fim da linha está o objetivo de cassar o registro do partido, como ocorreu em 1947 com o antigo PCB”, diz o texto da cartilha petista.
Esquerda tenta mudar regra eleitoral para impedir maioria conservadora no Senado após 2026
Falas de ministros do STF revelam pouco caso com princípios democráticos
Sob pressão do mercado e enfraquecido no governo, Haddad atravessa seu pior momento
Síria: o que esperar depois da queda da ditadura de Assad
Deixe sua opinião