| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Há um ano, a artilharia da Operação Lava Jato atingia pela primeira vez o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O lobista Julio Camargo contou ao juiz Sergio Moro, em 16 de julho do ano passado, que o então presidente da Câmara era o destinatário de propina de US$ 5 milhões desviada da Petrobras. De lá para cá, o deputado despencou do céu ao inferno, a ponto de estar agora diante de um processo que pode resultar na cassação de seu mandato e até na sua prisão, já pedida pelo Ministério Público Federal (MPF).

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Em decorrência dos desdobramentos da Lava Jato, Cunha já é réu em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal (STF), tem pelo menos seis inquéritos policiais vasculhando cada passo de sua vida e pode ser alvo de novos inquéritos sobre esquemas de corrupção no setor elétrico e na Caixa Econômica Federal. A prisão do deputado, pedida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, está pendente de análise pelo ministro Teori Zavascki, do STF.

O 16 de julho de 2015 dificilmente será esquecido por Cunha. As palavras de Julio Camargo, reveladas pelo Globo, marcaram o início do calvário que levou Cunha a enfrentar problemas nas esferas política e criminal. Em depoimento a Moro, em Curitiba, o lobista disse que foi pressionado por Cunha a liberar propina relativa a um contrato de sondas assinado com a Petrobras. Ao juiz, Camargo disse: “O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva”.

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Naquele mesmo dia, a agressividade de Cunha viria à tona. O deputado sentiu o golpe e partiu para o ataque. Escolheu a presidente Dilma Rousseff (PT) como alvo e anunciou seu rompimento com o governo. Publicamente, acusou a petista de orientar as investigações da Lava Jato contra ele.

Derrotas em série

Dois meses depois, em 17 de setembro, Cunha aceitou o pedido de impeachment contra Dilma, fazendo questão de receber em seu gabinete o jurista Miguel Reale Júnior. O deputado posava para fotos com líderes de movimento contrários a petista, e manobrou para acelerar a cassação.

Enquanto isso, Cunha viu seu poder ruir nos últimos 12 meses. Perdeu a batalha contra a sua cassação tanto no Conselho de Ética da Câmara quanto na Comissão de Constituição e Justiça. Teve que engolir, quase calado, o voto da deputada Tia Eron, que, incisiva, afirmou que ia resolver o que os homens não resolviam: “Eu não posso aqui absolver o representado nesta tarde. Eu não posso. Eu voto sim”, disse ela dando o voto decisivo no seu processo de cassação.

Com direito a lágrimas de Cunha, as derrotas levaram a um pedido de renúncia da presidência de uma Casa que, até pouco tempo, todos diziam estar sob seu domínio.

As investigações contra ele arrastaram a mulher, a jornalista Cláudia Cruz, e sua filha à Lava Jato. Os investigadores revelaram uma vida de luxo paga com recursos desviados da Petrobras. A jornalista virou ré, acusada de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. A filha ainda está sendo investigada pelo MPF.

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A base política do deputado também desmoronou. Cunha, que chegou a se vangloriar a um aliado de ter um terço do Congresso em suas mãos, não conseguiu fazer o sucessor na Presidência da Casa. Viu seu pupilo Rogério Rosso ser derrotado, na semana passada, pelo deputado Rodrigo Maia. A derrota pode abreviar ainda mais sua quarta passagem pela Câmara. A expectativa é que Maia ponha sua cassação em votação assim que acabar o recesso Legislativo, no início de agosto.

Cunha deverá ter seu futuro julgado no mesmo mês em que Dilma saberá se sofrerá o impeachment.