Início de ano de eleições municipais é época de candidatos experientes começarem a se articular, de os caciques dos partidos definirem as melhores estratégias em busca dos milhares de votos necessários para conseguir um lugar ao sol no Legislativo ou no Executivo carioca. Mas o começo de 2016 também é a hora de renovação do sonho para quem frequenta o lado B – ou mais precisamente o lado Z – das urnas. E, nessa categoria, uma alagoana, moradora do Morro do Cantagalo, na Zona Sul do Rio, é um exemplo dos mais pitorescos. Shewry Stony da Silva (homenagem feita pelo pai à atriz Sharon Stone, de “Instinto Selvagem”), de 37 anos, acumula três pleitos no currículo. No primeiro, em 2010, concorreu a uma vaga de deputado federal: 64 votos. Em 2012, quis ser vereadora: dois votos. Em 2014, deputada estadual: um voto.
“Nessa última eleição, eu não sei quem votou em mim. Eu não fui. Anulei. Quis me candidatar, mas aí nem fiz campanha, não tive tempo, abandonei. E nem valia nada votar em mim. Mas agora em 2016 vou me dedicar na campanha para vereadora”, garante ela, filiada ao PSB.
Se está longe de ser um exemplo típico de candidato, Shewry tem uma história que não é difícil de ver replicada em muitos eleitores que moram em comunidades cariocas. Viveu até os 22 anos em Maceió (AL), com os pais e cinco irmãos, até receber o convite de uma amiga para vir para o Rio. Primeiro, instalou-se no Morro do Pavão-Pavaozinho. Depois, mudou-se para o vizinho Cantagalo. Cuida sozinha de dois filhos, um de 13 e outro de 3 anos, e ainda tenta completar o ensino médio, num supletivo que cursa à noite numa escola municipal em Copacabana. Durante o dia, trabalha com serviços gerais num apart-hotel próximo à Praia de Ipanema. Mas, e o que exatamente faria como vereadora?
“Não sei muito bem o papel do vereador, é algo que ainda vou ter que pesquisar, estudar nos próximos meses. Mas o que mais o povo está precisando é de Saúde e Educação.”
Shewry afirma não ter muitos em quem se espelhar na política, mas cita dois nomes: o ex-presidente Lula e o deputado federal Tiririca.
“Na época do Lula presidente, a vida melhorou bastante, apesar de nos últimos anos ter piorado de novo com a Dilma. E o caso do Tiririca inspira, porque é uma pessoa humilde, do Nordeste, que chegou lá.”
Apenas a primeira tentativa, quando conseguiu os 64 votos, Shewry diz ter levado realmente a sério. Depois, não conseguiu fazer campanha, tendo que cuidar do filho pequeno. Em 2014, ela teve gastos de R$ 800, basicamente com um contador e um advogado do partido. Não conseguiu entregar a documentação necessária de comprovação e teve as contas reprovadas pelo TRE-RJ, o que espera reverter nos próximos meses.
Mesmo com esperança, Shewry admite que dificilmente terá um grande resultado nas urnas. As perspectivas de conseguir recursos para uma campanha são improváveis. “Quem vive a realidade é o povo daqui (da favela). Mas, se eu morasse lá embaixo, com certeza teria muito mais chance de ser eleita”, completa ela, apontando para os prédios no asfalto.
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