Oposição vai à PGR pedir investigação de denúncia
Aliados do candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, protocolaram uma notícia-crime junto à Procuradoria-Geral da República (PGR) pedindo a abertura de investigação contra a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. PSDB, DEM, Solidariedade, PTB, PTdoB, PMN, PEN, PTC e PTN querem a apuração das informações prestadas em depoimento pelo doleiro Alberto Youssef à Justiça Federal e que foram divulgadas pela revista Veja. No documento apresentado pelos partidos da coligação de Aécio, pede-se prioridade na tramitação da notícia-crime considerando "a proximidade das eleições e a possibilidade de seu impacto político e social". Em nota assinada pelo coordenador jurídico da campanha, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), a coligação ressalta que as informações reveladas são "extremamente graves" e exigem "ações efetivas para uma rápida e eficaz investigação dos fatos".
Estadão Conteúdo
"Não confirmo nem desminto nada", diz advogado
Em entrevista ao site do jornal O Globo, o advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, confirmou que o doleiro prestou depoimento à Polícia Federal de Curitiba na última terça-feira, mas disse não ter conhecimento da informação citada pela revista Veja. "Nunca ouvi nada que confirmasse isso [que Lula e Dilma sabiam do esquema]. Não conheço esse depoimento, não conheço o teor dele. Estou surpreso", afirmou Basto. Ele disse que Youssef prestou muitos depoimentos no mesmo dia e que o doleiro estava acompanhado de advogados de sua equipe. "Conversei com todos da minha equipe e nenhum fala isso." Basto também disse que a defesa não possui cópia do que foi falado por Youssef à Polícia Federal. A Gazeta do Povo entrou em contato com os advogados de Youssef, mas eles preferiram não comentar o assunto. "Nós da defesa estamos mantendo o sigilo do depoimento da delação", disse Adriano Brettas. "Não confirmo nem desminto nada. Esse assunto é sigiloso", disse Antônio Figueiredo Basto.
Katna Baran
Detalhamento
Além de citar Lula e Dilma no depoimento, o doleiro Alberto Youssef teria detalhado outros negócios supostamente fraudulentos envolvendo nomes importantes do PT, conforme a Veja. Confira:
João Vaccari Neto tesoureiro do PT e ex-conselheiro da Usina de Itaipu. No depoimento, Youssef teria confirmado pelo menos duas grandes transferências de recursos para o petista. O dinheiro teria sido repassado a partir de simulações de negócios entre grandes companhias e uma empresa fantasma criada por Vaccari em nome de laranjas, segundo o doleiro. Em depoimento anterior, Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmaram que Vaccari seria o responsável por recolher a propina da Petrobras e distribuir entre os correligionários.
José Sérgio Gabrielli ex-presidente da Petrobras e atual Secretário de Planejamento do governo da Bahia. Youssef teria detalhado que, no final do governo Lula, em 2010, participou de uma reunião com Gabrielli em que o ex-presidente teria pedido ao doleiro que captasse R$ 1 milhão com as empresas envolvidas no esquema. O dinheiro serviria para pagar outra empresa de publicidade que teria ameaçado delatar o esquema depois que teve o contrato reincidido com a estatal.
Gleisi Hoffmann senadora petista, ex-ministra chefe da Casa Civil. Youssef teria dito que recursos desviados da Petrobras teriam financiado a campanha de Gleisi ao Senado em 2010. O doleiro teria detalhado que R$ 1 milhão teria sido repassado em quatro parcelas e que o dinheiro teria sido entregue a intermediários da campanha em um shopping no centro de Curitiba.
"Felipe" Youssef teria contado que, pouco antes de ser preso, em março, recebeu uma ligação de um homem, identificado por "Felipe", que integraria a cúpula da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT). Ele teria pedido ao doleiro que repatriasse R$ 20 milhões para supostamente serem usados no caixa eleitoral da petista. Youssef teria marcado uma reunião para tratar do negócio, que acabou não acontecendo, pois o doleiro foi preso antes.
As denúncias da revista Veja envolvendo a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva causaram ontem a reação imediata de petistas e oposicionistas, e o assunto foi parar no horário eleitoral. Segundo a reportagem, o doleiro Alberto Youssef teria revelado, em depoimento à Polícia Federal de Curitiba na última terça-feira, que Dilma e Lula sabiam do esquema de corrupção na Petrobras. A Veja informa ainda que não foram apresentadas provas do que Youssef disse, mas cita que o doleiro só terá direito aos benefícios da delação premiada se não "falsificar os fatos".
Ontem, líderes da oposição pediram que a Procuradoria-Geral da República investigue as denúncias e que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito da Petrobras (CPI) ouça Lula e Dilma. O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse que os relatos são " extremamente graves". Já os petistas resumiram o assunto como "terrorismo eleitoral".
Horário eleitoral
O possível impacto da reportagem na reta final de campanha fez com a presidente dedicasse praticamente todo horário eleitoral de ontem à tarde para rebater as denúncias. "Não posso me calar frente a este ato de terrorismo eleitoral articulado pela revista Veja", disse a presidente, que classificou o teor da reportagem publicada pela semanal de "barbaridade" e de "infâmia". O assunto também apareceu no programa de Aécio à noite.
Dilma também criticou o fato de a Veja ter antecipado a publicação para sexta-feira a revista normalmente é distribuída aos sábados e alegou que a publicação excedeu "todos os limites da decência e da falta de ética". Dilma informou a interlocutores que irá entrar na Justiça com sete ações contra a revista.
Além da presidente, diversos partidários se manifestaram ontem sobre a reportagem. "Eu não leio a Veja", disse Lula. Ainda ontem, a coligação de Dilma entrou com um pedido no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na tentativa de retirar a publicação do site da revista e do perfil da Veja no Facebook. O ministro Admar Gonzaga, porém, negou o pedido.
Denúncias
Em diálogo transcrito pela revista, Youssef teria dito que Lula e Dilma sabiam do esquema de desvio de dinheiro na Petrobras para financiar campanhas eleitorais e comprar apoio de congressistas. Conforme a publicação, o doleiro também teria aumentado de 30 para 50 o número de políticos citados no esquema e detalhado outras denúncias.
Em depoimento prestado na Justiça Federal de Curitiba no último dia 8, Youssef e o ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, haviam afirmado que 3% dos contratos firmados entre a Petrobras e empresas eram distribuídos entre agentes políticos de três partidos: PT, PMDB e PP.
Na ocasião, ambos detalharam o esquema de pagamento de propina e realização de contratos fraudulentos na estatal, que ocorria pelo menos desde 2005, segundo o doleiro. Youssef e Costa afirmaram que atuavam a mando de "agentes políticos", mas não puderam citar nomes, já que os suspeitos possuem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal.
Citados rebatem denúncias
Katna Baran e Paulo Galvez da Silva, especial para a Gazeta do Povo
A senadora Gleisi Hoffmann (PT) não quis comentar as novas denúncias apontadas pela reportagem da revista Veja. Por meio da assessoria, encaminhou, em nota, a mesma resposta enviada ao jornal O Estado de S.Paulo, primeiro a citar a denúncia de suposto repasse de R$ 1 milhão para a campanha dela ao Senado em 2010. De acordo com a nota, Gleisi não conhece o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa nem o doleiro Alberto Youssef. "O ministro Paulo Bernardo só esteve com Alberto Youssef uma vez na vida, há mais de dez anos, apenas para inquiri-lo na CPI do Banestado", diz o texto.
A senadora afirma ainda que as denúncias dos dois investigados, se realmente ocorreram, buscam "obter ilícita vantagem na barganha da delação premiada". Também diz que todas as doações recebidas na campanha foram declaradas à Justiça Eleitoral. "Se os criminosos Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef eventualmente mencionaram qualquer contribuição de campanha à senadora o que não se pode confirmar , é certo que mentem", diz a nota.
Por meio de nota, o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli negou as informações publicadas pela revista. Ele afirma que não conhece Youssef e nunca fez contato com o doleiro e que a reportagem é uma "tentativa desesperada de interferir no segundo turno das eleições". Conforme a nota, os advogados do ex-presidente analisam medidas judiciais para reparar as acusações.
A reportagem não conseguiu contato com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Na sede do partido, em Brasília, a informação era de que todos estavam participando de uma atividade de campanha e que a posição oficial da legenda era a mesma apresentada por Dilma Rousseff (PT) no programa eleitoral de ontem. A reportagem também entrou em contato com a assessoria da Polícia Federal, mas, até o fechamento desta edição, não recebeu respostas. Já o Ministério Público Federal do Paraná preferiu não se manifestar.