O empresário Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da maior empreiteira do País e preso pela Operação Lava Jato, disse à Polícia Federal, em depoimento no dia 18 de maio, que “não se recorda” de ter recebido solicitação da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para contribuição financeira à campanha da petista em 2010. Mas o empreiteiro fez uma ressalva: “Tal resposta não elimina a possibilidade de que tenha havido tal solicitação ao próprio declarante ou alguém ligado à Odebrecht.”
O empreiteiro depôs nos autos do inquérito que investiga o suposto repasse de R$ 1 milhão para a campanha da petista ao Senado, no pleito de 2010. O delegado Thiago Machado Delabary, que integra o Grupo de Inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF), fez diversas perguntas a Marcelo Odebrecht, praticamente todas sobre a senadora do PT.
Marcelo Odebrecht disse que “não se recorda” de ter recebido de Paulo Bernardo, marido de Gleisi e então ministro do Planejamento, algum pedido de doação à campanha da petista. A senadora é alvo de um inquérito aberto por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria-Geral da República.
O empreiteiro afirmou que ‘não mantinha relação pessoal com Gleisi Hoffmann e que não houve encontro destinado à solicitação para campanha, uma vez que se tivesse ocorrido, o declarante possivelmente se recordaria’. Marcelo falou que “não dispunha do telefone de Gleisi, o que não impede de ter ocorrido contato telefônico a respeito da campanha de 2010”.
Esse depoimento de Marcelo Odebrecht no dia 18 de maio ocorreu na sede da PF em Brasília. Na ocasião, ele estava acompanhado dos advogados criminalistas Dora Cavalcanti, Conrado Donati e Maurício Roberto de Carvalho Ferro.
Segundo o empreiteiro, antes de ir à PF naquele dia 18 de maio, “providenciou pesquisas acerca de doações à campanha de Gleisi Hoffmann na eleição de 2010, não tendo localizado nenhum registro”.
Nessa pesquisa, afirmou o empresário, “foram localizados registros de doação de empresas do Grupo Odebrecht ao Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores, o que dá margem à hipótese de que esse diretório tenha repassado à senadora”.
Marcelo Odebrecht afirmou que “no Grupo não havia uma única pessoa encarregada de concentrar as solicitações de doações de campanha, uma vez que são centenas de empresas que compõem a organização e estas detêm autonomia para decidir sobre essas doações, tendo cada uma delas uma ou mais pessoas responsáveis para tratar do tema”.
Para a Lava Jato, delatores apontaram o nome do diretor de Relações Institucionais da construtora Alexandrino Alencar como responsável pelas doações.
O dono da Odebrecht declarou que “nunca tratou com Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, sobre contribuições financeiras à campanha de Gleisi Hoffmann, em 2010”.
Esclareceu que sua relação com Paulo Roberto Costa “limitava-se a questões afetas ao Conselho de Administração da Braskem, cuja presidência era ocupada pelo declarante, sendo que Paulo Roberto era o vice-presidente do Conselho (nomeado pela Petrobras)”.
Marcelo Odebrecht contou que ele e Costa compuseram o Conselho de Administração da Braskem durante cerca de três anos, de 2010 a 2012, “salvo engano”. “Nunca participou nem tomou conhecimento da realização de ajustes voltados ao direcionamento de licitações no âmbito da Petrobras, tampouco foi convidado a participar de reuniões com esse propósito.”
Ele disse que “nunca participou, tomou conhecimento, ou foi convidado para reuniões voltadas ao estabelecimento ou manutenção de cartel entre empresas contratadas pela Petrobras”. “Nunca tomou conhecimento acerca da existência de pagamentos por parte de empresas do Grupo Odebrecht a diretores de estatais, ligados à Petrobras e suas subsidiárias e a qualquer outra.”
Outro lado
A senadora Gleisi Hoffmann nega categoricamente ter recebido doações ilícitas nas eleições. Desde que seu nome foi citado nos autos da Lava Jato ela tem reiterado que os financiamentos de sua campanha foram todos declarados à Justiça Eleitoral. O ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi, também afasta qualquer hipótese de que tenha pedido R$ 1 milhão para a campanha de sua mulher, em 2010.
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