Pesquisa da Fundação Perseu Abramo divulgada há poucos dias mostra que os moradores da periferia de São Paulo admiram três figuras públicas que, no entendimento deles, venceram na vida por mérito próprio: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o apresentador de tevê e empresário Silvio Santos, e o também empresário e hoje prefeito paulistano João Doria (PSDB).
Silvio chegou a ser favorito na eleição presidencial de 1989 – só não disputou o pleito porque sua candidatura foi cassada pela Justiça Eleitoral. Parece não ter mais vontade de tentar de novo. Já o petista foi duas vezes presidente e quer disputar o cargo novamente em 2018; hoje Lula lidera as pesquisas para o Planalto. Doria diz que não. Mas cada vez mais dá sinais de que sim; de que cogita ser candidato a presidente e que, para viabilizar seu nome nacionalmente, está assumindo o papel do “anti-Lula” – depois de encarnar na eleição de 2016 o perfil do “antipolítico”.
Doria venceria eleição para presidente no estado de São Paulo, diz pesquisa
Tucanos de bico vermelho
Nem sempre os tucanos que hoje pleiteiam a candidatura à Presidência adotaram uma posição firme contra Lula e o PT. Geraldo Alckmin foi governador de São Paulo durante as gestões de Lula e Dilma Rousseff. E manteve com eles, nesses períodos, uma relação cordial. José Serra, quando disputou a Presidência contra Dilma, em 2010, chegou a usar em sua propaganda eleitoral a imagem dele se abraçando com Lula, chamado pelo narrador de um “líder experiente”. Era o auge da popularidade do petista. E Aécio Neves, quando governou Minas Gerais, se aliou ao PT. Além disso, foi duramente criticado em 2010 dentro do PSDB por supostamente não ter se empenhado na campanha de Serra contra Dilma.
Trampolim
A pesquisa da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, não é eleitoral. Tampouco tem abrangência nacional. Mas São Paulo sempre teve um peso fundamental nas eleições presidenciais e costuma ser um trampolim para o Planalto. Além disso, o levantamento buscou mapear o que se passa na cabeça de cidadãos que, embora sejam paulistanos, se encaixam no perfil da maior parte do eleitorado do país: pessoas com renda familiar de até cinco salários mínimos (R$ 4.685).
Veja a íntegra da pesquisa da Fundação Perseu Abramo
E, justamente pelo fato de o levantamento ser de uma entidade ligada ao Partido dos Trabalhadores, tem o mérito de reconhecer a popularidade de um possível adversário na disputa pelo Planalto.
Doria também parece reconhecer, ainda que por vias tortas, o potencial de Lula e do PT – não apenas como possíveis oponentes eleitorais, mas também como “escada” para seu projeto político.
Como prefeito, seria de se esperar que o tucano voltaria suas críticas a supostos erros de seu antecessor na gestão municipal de São Paulo, Fernando Haddad (PT), como forma de justificar as dificuldades administrativas que enfrenta. Mas não é o que o tucano tem feito, até mesmo porque a transição entre as duas gestões foi cordial. O prefeito acabou então virando sua metralhadora verbal para outros alvos: Lula e o PT. Com isso, ganha espaço na mídia nacional.
Cara de pau
No domingo passado (26), Doria chamou Lula de o “maior cara de pau do Brasil” por querer ser presidente novamente. E justificou: “Como brasileiro, tenho o direito de me manifestar contra os mentirosos, os falsos, os populistas que, agora, depois de terem destruído o Brasil, têm a cara de pau de dizer que vão voltar para resgatar o país”.
Poucos dias depois, na quarta (29), Doria bateu boca com um simpatizante do PT que o acusou de ser “golpista” numa solenidade de entrega de unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida. Disse para o manifestante “procurar sua turma em Curitiba” – numa referência aos presos pela Lava Jato, alguns deles petistas. E complementou: “Golpista é quem rouba o dinheiro público”.
O tucano já havia feito uma alusão a Curitiba e alfinetado o ex-presidente um dia depois de ter sido eleito, em outubro do ano passado. “O Lula sabe que em algum momento vou visitá-lo em Curitiba”, disse Doria. Era uma resposta ao comentário do petista que, no dia da votação, havia “alertado” os paulistanos sobre o risco de eleger um “aventureiro”, um novo Fernando Collor.
Análise
“As críticas que o Doria vem fazendo ao Lula e ao PT podem ser sim uma estratégia para ele se manter em evidência e para que seja uma alternativa do PSDB [na eleição de 2018]”, diz a cientista política Vera Chaia, professora da PUC-SP.
Ela lembra que os outros principais nomes do partido para a sucessão presidencial – o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e os senadores Aécio Neves e José Serra – foram citados na Lava Jato e podem chegar a 2018 sem viabilidade eleitoral. Assim, os tucanos podem precisar de outro nome. E Doria seria uma possível opção, ainda que hoje a possibilidade de ele ser o concorrente do partido cause ciúmes dentro do ninho tucano. Oficialmente, porém, o prefeito apoia a candidatura de Alckmin ao Planalto.
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