Os 500 policiais militares que participaram da megaoperação no Complexo do Alemão, no dia 27 de junho, poderão ser chamados a prestar esclarecimentos, de acordo com a reportagem do jornal "O Globo" desta segunda-feira. O comandante-geral da PM, coronel Ubiratan Ângelo, garantiu neste domingo que será feita uma apuração rigorosa do suposto desvio de 12 fuzis investigado pela Polícia Federal. A suspeita é de que essas armas, apreendidas durante a operação, tenham sido revendidas por policiais a integrantes da própria quadrilha do Alemão.
- Vamos solicitar as gravações da Polícia Federal (em que traficantes conversam sobre o desvio). Quero saber se há algum PM envolvido. Se for necessário, vou chamar todos os policiais militares que participaram da operação, até os que estavam emprestados para a Polícia Civil afirmou o coronel.
O comandante do 16 BPM (Olaria), coronel Marcus Jardim, disse, no sábado que merece fuzilamento o policial que desvia ou vende armas a traficantes.
- Jardim trabalha com o coração e verbaliza com a emoção, mas concordo com ele. Se um policial tiver feito isso, deve ser considerado um traidor da pátria. Assim que recebermos as informações da Polícia Federal, vamos abrir um procedimento apuratório. Em nome dos policiais militares, civis, federais e da Força Nacional de Segurança que trabalharam na operação, além dos feridos e dos agentes atacados pelo tráfico, não podemos abrir mão dessa investigação - afirma Ubiratan.
O comandante da PM disse esperar que a denúncia não tenha fundamento. Ele acrescentou que, se tiver ocorrido o desvio de armas, o caso poderá ser considerado crime militar.
Informalmente, um oficial da PM disse que ninguém está sendo acusado diretamente nas investigações da Polícia Federal, que teria apenas indícios do desvio. Como participavam da operação policiais civis e militares de várias unidades, o oficial considerou leviano culpar PMs agora. Ele afirmou que se investigações confirmarem a culpa de algum policial militar, ele será preso e expulso.
- Quem faz isso é mais bandido do que o próprio bandido - queixou-se.
Negando a acusação feita por um policial civil, o oficial disse que os PMs também apresentaram várias armas apreendidas durante a operação. O armamento recolhido no Complexo do Alemão no dia 27 foi, em sua maior parte, registrado pela Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (Drae) e uma pequena parte, pela Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC). O delegado titular da Drae, Carlos Oliveira, espera que a Polícia Federal aprofunde suas investigações e esclareça a suspeita de desvio:
- As apreensões foram feitas em conjunto, com todas as equipes de polícia que participaram da operação. É preciso que tudo seja esclarecido.
O coordenador das delegacias especializadas de Polícia Civil, Allan Turnowski, também disse que ainda não há provas do desvio.
- Se houvesse como provar, prenderia o culpado - garantiu Turnowski.
O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que vem acompanhando as denúncias de moradores sobre abusos de policiais durante as operações no Complexo do Alemão, afirmou que a Secretaria de Segurança precisa apurar com rigor a suspeita.
- É preciso enfrentar o problema. É muito cômodo acreditar que a interceptação telefônica da conversa de dois traficantes é válida quando o assunto é localização de quadrilha, mas não é válida quando eles falam sobre corrupção policial - disse o deputado.
Freixo defendeu uma mudança estrutural na política de segurança pública do estado:
- Todos os países desenvolvidos investiram em controle externo da polícia. Além disso, a Secretaria de Segurança, que tanto usa seu serviço de inteligência para localizar traficantes, precisa investigar quem fornece o armamento. É claro que, nas últimas duas semanas, os traficantes conseguiram repor armas. Resta saber como.
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