Duas drag queens prometem animar bastante a disputa por uma vaga na Assembléia Legislativa de São Paulo. Salete Campari é pré-candidata a deputada estadual pelo PDT e Léo Aquilla, pelo PSC. As duas trabalham na noite paulistana fazendo shows e apresentações. Léo é também repórter de uma emissora de televisão e já conseguiu uma licença de três meses para cuidar da campanha, caso consiga a aprovação do partido para sua candidatura.

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As coincidências não param por aí. As plataformas eleitorais são bem parecidas. As duas pretendem defender os interesses da comunidade GLS. Altos investimentos em campanha? Elas dizem que não.

- Vai ser uma campanha discreta com uma votação avassaladora - brinca Léo.

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As duas drags contam com os amigos para promover uma campanha - algo que não deve ser difícil, considerando que apenas a Parada do Orgulho Gay, marcada para junho, espera reunir 2,5 milhões de pessoas na capital.

- Já me considero uma vitoriosa pelo espaço que o partido abriu. É uma vitória contra o preconceito - afirma Salete que, se for confirmada como candidata, deverá apoiar o candidato do PDT ao governo Carlos Apolinário (o mesmo que prega a instituição do Dia do Orgulho Hétero).

- Fui muito bem recebida por todos os membros do partido. Foi um deles que recomendou a minha filiação, depois de ver todo o meu trabalho à frente da Banda do Fuxico e como militante da Parada Gay - conta.

No caso de Léo, foi ela quem procurou a filiação no Partido Social Cristão.

- Procurei alguns partidos e, quando vi o PSC, pensei: 'se eles são cristãos, vão ter de me aceitar como filho de Deus' - diz Léo, que promete, se eleita, ser o deputado da gravata rosa.

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- Não faz sentido ir todos os dias montada para a Assembléia. É inviável - afirma.

A única promessa de Salete, se eleita, é aparecer na Assembléia completamente montada, de "tailleur chiquérrimo", no dia da posse. Nos demais dias, ela deve comparecer como Francisco Sales de Rodrigues, seu nome verdadeiro.

- E ainda vou levar um monte de amigas - diz, acrescentando que não quer prometer nada, mas que gostaria de, além de defender os interesses de gays, lésbicas e transgêneros, se envolver com temas ligados à moradia e à educação.

- Morei cinco anos em favela e sei muito bem como isso é triste. Quero fazer alguma coisa para melhorar a situação dessas pessoas. Outra coisa é trabalhar em prol dos professores. Sou formado em Matemática e não segui a profissão porque o salário é muito ruim - diz.

Léo promete trabalhar em prol da cultura, tema que a motivou a entrar na vida política.

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- Apresentei um projeto de lei para alguns deputados para incentivar atividades culturais de grupos GLBT. Fui bem recebida e bem tratada. Mas sai da sala um momento e, quando voltei, eles estavam rasgando o meu projeto. Percebi que, se quisesse fazer alguma coisa, teria de me candidatar - conta.

O grande projeto das duas drags, no entanto, é mesmo derrubar o preconceito e abrir caminho para outros militantes do movimento gay dentro da vida política.

- Tem espaço para todo mundo, para mim e para a Léo na Assembléia. Só imagino como será bom, daqui dois anos, ter 10 drags candidatas a vagas na Câmara Municipal - afirma Salete.