Curitiba Enquanto a maioria dos brasileiros irá opinar sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munição no Brasil baseada em estatísticas e no pensamento de especialistas sobre o assunto, um incidente ocorrido no Rio de Janeiro em 1998 definiu a resposta que a estudante Camila Magalhães Lima dará à pergunta do referendo de 23 de outubro. Já a decisão da fotógrafa Adriana Tissot é fundamentada em uma tentativa de assalto que aconteceu anos antes, no verão de 1993, na cidade gaúcha de Santa Maria.
O sim
3 de setembro de 1998 era um dia especial para Camila. Era uma das primeiras vezes em que a estudante voltava da escola para casa sem a companhia de seus pais. Ela e suas amigas estavam andando pela calçada, aparentemente em um local seguro, quando a garota, com 12 anos na época, ouviu barulhos de "bombinhas". Sem se dar conta do que estava acontecendo, Camila caiu no chão. "Não senti nada. Não vi nada, mas não perdi a consciência." As "bombinhas" eram balas disparadas em um tiroteio entre um policial civil que fazia "um bico" em uma joalheria e um assaltante que fugia com cerca de R$ 200 recém roubados da loja.
A bala perdida deixou Camila, agora com 19 anos, tetraplégica ao atingir sua coluna cervical (na região do pescoço). Ninguém foi considerado culpado pelo disparo.
Desde então, a rotina de Camila e de sua família mudou. "Eu era uma garota normal: praticava esportes, dança, ginástica olímpica. Hoje preciso de fisioterapia diária, de domingo a domingo. Minha mãe teve de desistir de sua nova carreira para me auxiliar, pois perdi toda a minha independência."
Camila votará sim no dia 23. Segundo ela, as pessoas precisam se conscientizar de que a arma não traz mais segurança. Para a estudante, as armas só geram mais violência, porque, se não matarem, podem ferir e arruinar o futuro de um inocente. "Foi o que aconteceu comigo. Eu não tinha nada a ver com o assalto e pago por isso até hoje."
O não
Aos 22 anos, Adriana morava no segundo andar de uma quitinete em Santa Maria. Sempre que seu marido viajava, ela dormia com uma arma calibre 22 embaixo do travesseiro. No quente verão de 1993, a fotógrafa havia deixado a janela aberta, já que nem supeitava que seria possível alguém entrar por ali. Mas enganou-se. Em uma das vezes em que estava sozinha, Adriana ouviu um barulho e a vizinha gritar. Foi quando percebeu que um homem entrava pela janela. "Eu nem pensei duas vezes. Sabia o que fazer. Peguei a arma e atirei. Não para matar, mas para assustar o bandido. E deu resultado. Ele caiu do segundo andar, mesmo assim conseguiu fugir." A fotógrafa conta que ligou para a polícia, mas quando os policiais chegaram já era tarde demais.
Hoje, Adriana é presidente do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) Seminário, em Curitiba. Ela diz que votará não para a pergunta do referendo das armas. "A pessoa que votar sim estará votando sim para o desarmamento. Só que estão desarmando somente os civis, os cidadãos de bem e, como cidadã, se me disserem que terei de entregar minha arma, eu entregarei. Mas quem me garante que a polícia vai estar aqui na hora em que o ladrão estiver entrando na minha casa?"
A fotógrafa argumenta que não usa a arma para matar o assaltante, mas sim para assustá-lo. "Com a arma de fogo você se defende a distância e não precisa matar a pessoa. Você evita que a pessoa cometa o delito. Ninguém vai enfrentar um bandido com uma faca. Essas situações acontecem muito, mas, como evita que o crime ocorra, não vira notícia."
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião