Prefeito diz que derrota não abalou seu grupo
Foi um mandato curto. Dois anos a frente da prefeitura de Curitiba. Porém isso não impede que Luciano Ducci (PSB) cite com orgulho seus feitos
60%
Segundo o cientista político Emerson Cervi, da UFPR, esse é o índice mínimo que um prefeito precisa ter para ser reeleito. Abaixo disso, as chances são bastante pequenas. Entretanto, ele frisa que não se trata de uma ciência exata: as chances dependem, também, da força política dos concorrentes.
Derrotado nas eleições municipais, o prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), deve deixar seu cargo em baixa no final do ano. Segundo levantamento do instituto Paraná Pesquisas, 42% dos eleitores curitibanos reprovam sua gestão enquanto 53% aprovam e 5% não souberam ou não opinaram. Isso representa uma queda de 14 pontos porcentuais no índice de aprovação de sua gestão em apenas um ano e, o mais grave para o prefeito, em um ano eleitoral. Falta de conexão com a população, desgaste durante a campanha e má avaliação da saúde contribuem para esse quadro.
Em abril de 2011, um ano depois de assumir a prefeitura em definitivo no lugar de Beto Richa (PSDB), Ducci era aprovado por 69% dos curitibanos. Esse índice oscilou dentro da margem de erro para 67%, em dezembro do mesmo ano e caiu para 53% nesta última pesquisa. Já a reprovação, pelo contrário, saltou de 26% para 42% o número de eleitores que não respondeu à pesquisa oscilou entre 5% e 6% nos três levantamentos.
INFOGRÁFICO: Índice da gestão Ducci é um dos baixos da história recente da prefeitura
A pesquisa foi realizada com eleitores maiores de 16 anos no município de Curitiba, entre os dias 13 e 16 de dezembro. Foram entrevistadas 682 pessoas. A margem de erro é de quatro pontos porcentuais, para mais ou para menos.
Desgaste
Segundo o cientista político Emerson Cervi, da Universidade Federal do Paraná, 53% é um índice de aprovação baixo para Curitiba. De acordo com ele, esse índice é próximo da avaliação de Cassio Taniguchi no final de seu segundo mandato uma das gestões mais mal avaliadas da história recente do município.
Cervi avalia que Ducci teve dificuldades de conexão com a população e com a opinião pública, além de ser um prefeito que pouco aparecia durante a gestão. Além disso, problemas na gestão da saúde e o excesso de obras durante o período eleitoral, que causaram transtornos à população, ajudaram a derrubar esse índice.
Já o diretor do instituto Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, avalia que os números mostram que o processo eleitoral causou um desgaste na imagem de Ducci. "A aprovação caiu bastante, mas isso tem muito a ver com o período eleitoral, quando sua gestão passou por um processo de desconstrução pelos outros candidatos", afirma. O atual prefeito foi apenas o terceiro colocado no primeiro turno, com 26,77% dos votos válidos.
Defesa
Apesar dos números mostrarem uma queda, o prefeito avalia o levantamento como positivo. "A pesquisa mostra que mais da metade da população aprova nossa gestão. No processo eleitoral, a cidade foi alvo de muitas críticas, o que refletiu na nossa aprovação", afirma Ducci. "Mas as pessoas começam a ver agora que Curitiba sofreu uma grande transformação urbana e social e é uma cidade bem diferente daquela mostrada pelos adversários", afirma ele.
O que fica?
A Gazeta do Povo faz um balanço geral da gestão que se encerra no dia 1.º de janeiro, focando algumas áreas da gestão pública.
Educação: O município conseguiu manter os bons indicadores de avaliação da educação infantil. Desde que teve início o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2005, a cidade aparece em primeiro lugar dentre as capitais. A taxa de analfabetismo baixou na última década segundo o Censo, passou de 3,4% em 2000 para 2,1% em 2010. O atual prefeito enfrentou dois problemas durante sua gestão: as reivindicações de professores, que pedem um Plano de Cargos e Salários atualizado e outras melhorias nas condições de trabalho, e a demanda por vagas na educação infantil. Com a inauguração de mais oito creches nos últimos meses, o prefeito vai fechar o acordo que fez com o Ministério Público e abrir 9,3 mil vagas até o final deste ano, que era a demanda estimada em 2008. Mas a prefeitura prevê a necessidade de abertura de mais 15 mil vagas. "O orçamento do município fechará este ano com perto de 27% para a educação", diz Ducci.
Saúde: Luciano Ducci ganhou força na prefeitura como secretário de Saúde, pasta em que desenvolveu o premiado programa Mãe Curitibana. Mas foi justamente esta área um dos principais calos do prefeito no seu último ano como administrador. A alta demanda nas unidades de Urgência e Emergência ficou ainda mais problemática com a mudança no sistema de contratação, em maio deste ano. A prefeitura repassou essa função para a Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde de Curitiba (Feaes), um órgão da administração indireta criado em 2010. O declínio no modelo de gestão dos centros de urgência ocorreu próximo ao encerramento do convênio, quando médicos, já sabendo do fim do contrato, começaram a descumprir seus horários. Novos profissionais da saúde foram contratados, mas os médicos continuam reclamando de contratos precários e de salários pouco atrativos. Ducci diz que está entregando a gestão com a construção iniciada de cinco unidades de saúde.
Transporte: O ligeirão azul, com uma terceira faixa na canaleta que permite ultrapassagem e diminui o tempo de viagem, foi uma das inovações da atual gestão. Além disso, Ducci implementou nos últimos meses o ônibus híbrido, que roda com energia elétrica e biodiesel e que está em cinco linhas convencionais, além do Interbairros I. Mas não conseguiu iniciar o projeto que pretendia ser a inovação para a área. A construção do metrô, que tem recursos do governo federal garantidos, será decidida por Gustavo Fruet. "Tem muita gente que apoiou o Gustavo [Fruet] que é contra o metrô. A cidade espera há muito tempo para ter um projeto de metrô consistente, para ter viabilidade, e quem apresentou esse projeto viável fomos nós", defende o prefeito.
Obras
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