Responsável pela condução da Operação Carne Fraca, deflagrada na última sexta-feira (17), o delegado da Polícia Federal (PF) Maurício Moscardi Grillo virou alvo de críticas nos últimos dias. Os ataques partem do ministro da Agricultura Blairo Maggi, de representantes do setor e até de colegas da corporação e atingem o mesmo ponto: as declarações de Grilo. Durante a coletiva de imprensa concedida na sexta-feira para explicar as investigações da PF, o delegado usou um tom alarmante e algumas das declarações dadas por ele não coincidem com dados técnicos e informações que estão no próprio processo.
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Nesta segunda-feira (20), as críticas vieram da própria corporação. A Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) chamou o caso de “estardalhaço midiático dos delegados federais”. “Maurício Moscardi, por exemplo, não tem a menor condição de ser apresentado como coordenador de qualquer operação. Seu tempo na PF por si só já justifica sua inexperiência para tratar de assuntos delicados como o eventual abalo econômico advindo de uma grande operação como a Carne Fraca”, disse o presidente da federação, Luís Boudens.
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Em coletiva de imprensa concedida neste domingo (19), o ministro Blairo Maggi também partiu para o ataque. Disse que a PF demonstrou falta de conhecimento sobre as regras que regem o setor ao colocar sob suspeita algumas práticas, como uso de ácido ascórbico (vitamina C) no processamento de carnes e de cabeça de porco na confecção de embutidos. O episódio do papelão na carne também foi rebatido por Maggi.
Durante coletiva na sexta-feira, Grillo afirmou que essa informação estaria no áudio de uma conversa telefônica interceptada durante as investigações. Mas os áudios da própria PF indicam que o funcionários flagrado no grampo estava falando em embalar o produto em papelão. O ministro reforçou que houve erro na interpretação da conversa pela Polícia Federal e classificou de “idiotice” imaginar que papelão fosse misturado à carne pelas empresas. “É uma idiotice, uma insanidade, para dizer a verdade”, disse.
O que alegam as empresas investigadas na operação Carne Fraca
Integrantes do setor produtor também saíram em defesa da classe e criticaram “exageros” na atuação da PF. Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ex-ministro da Agricultura e presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, o discurso do delegado Maurício Moscardi Grillo, responsável pela investigação, na coletiva de imprensa na sexta-feira foi “irresponsável”.
Falta de laudos técnicos também fragiliza investigações
A falta de laudos técnicos da PF em relação ao produto oferecido pelas empresas também é alvo de críticas. Em dois anos de investigação, a PF realizou laudos em 40 amostras de carne vendidas em um supermercado de Curitiba, mas todas as amostras eram da mesma empresa, a Peccin Industrial Ltda. Todas as demais suspeitas são baseadas em interceptações telefônicas e depoimentos de funcionários de algumas das empresas e de um fiscal que denunciou o esquema.
Os policiais também não consultaram técnicos que poderiam esclarecer alguns fatos, como o caso da salmonela. A Polícia Federal informou que o grupo BRF teria enviado carne contaminada com a bactéria à Europa. Em nota, a empresa afirmou que existem cerca de 2,6 mil tipos de Salmonella - bactéria comum em produtos alimentícios de origem animal ou vegetal – e que a maioria deles é facilmente eliminados com o cozimento adequado dos alimentos.
“O tipo de Salmonella encontrado em alguns lotes desses quatro contêineres é o Salmonella Saint Paul, que é tolerado pela legislação europeia para carnes in natura e, portanto, não justificaria a proibição de entrada na Itália”, alegou a empresa.
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