Gazeta do Povo – Por que os brasileiros devem votar "sim" no dia 23 de outubro?

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Renan Calheiros – Porque precisamos dar um basta na atual escalada de violência, que faz com que o Brasil ostente um dos maiores índices de mortes por armas de fogo no mundo. São cerca de 40 mil mortes por ano – 108 a cada dia – causadas por armas de fogo no país. E boa parte desses crimes poderia ser evitada se o acesso a essas armas não fosse tão fácil. É ilusão achar que arma de fogo protege alguém. Arma de fogo mata. E não é só bandido que mata. Muitos crimes são cometidos por pessoas sem antecedentes criminais, num momento de destempero emocional, numa briga de bar, de trânsito, numa discussão doméstica.

A proibição da venda de armas não fere o direito individual de o cidadão portar armas?

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O porte de armas já foi bastante reduzido com o Estatuto do Desarmamento, em 2003. E é a consciência de que arma de fogo representa muito mais um risco do que proteção que levou a população a aderir, maciçamente, à Campanha do Desarmamento. Em um ano, a campanha já tirou mais de 400 mil armas de circulação. A proibição da venda de armas será definida pelo referendo. E não existe mecanismo mais democrático do que uma consulta popular.

É possível que a lei atinja somente os cidadãos de bem, sendo descumprida por aqueles de comportamento, digamos assim, mais "irresponsável"?

É claro que a proibição do comércio de armas não vai acabar com a violência no país, mas é um passo importante para reduzir o número de mortes por armas de fogo e para se começar a criar uma cultura de paz no Brasil. O combate à violência e ao crime organizado exige, outras medidas, entre as quais a revisão de nossa legislação penal e um investimento efetivo na área social e de segurança pública.

Há experiências concretas de redução de violência em outros países que adotaram o desarmamento?

Países como a Austrália, o Japão, Zimbábue, Inglaterra e Holanda também adotaram uma série de restrições à circulação de armas de fogo. Não temos números precisos sobre os resultados obtidos em cada um desses países, mas, de modo geral, todos comemoram a redução da criminalidade com o controle mais rigoroso das armas de fogo.

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Como será a campanha pelo desarmamento nos próximos meses?

Ainda não temos todos os passos da campanha fechados, até porque ela está aberta à participação de entidades e organizações que sempre estiveram engajadas na luta contra a violência e que têm enorme contribuição a dar nesse debate. O certo é que essa é uma oportunidade de ouro para que questões tão importantes como a violência e o desarmamento sejam debatidas a fundo por toda a sociedade brasileira, não só através da propaganda eleitoral, mas também nas escolas, nas ruas, nas igrejas, em associações comunitárias, em seminários e palestras de norte a sul do país.

Renan Calheiros - Senador (PMDB-AL), presidente da Frente Parlamentar "Por um Brasil sem Armas".