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Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj): obra era de interesse da Odebrecht e do ex-governador Sérgio Cabral. | Divulgação
Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj): obra era de interesse da Odebrecht e do ex-governador Sérgio Cabral.| Foto: Divulgação

Embora a Odebrecht venha negando participação no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato, documentos e depoimentos reforçam a suspeita de que a cúpula da construtora, que é a maior empreiteira do país, sabia e participava dos desvios na estatal de petróleo. E-mail enviado em outubro de 2007 pelo executivo da Odebrecht Rogério Araújo, preso desde sexta-feira (19 ), para outros quatro executivos fala em “arranjo” em um projeto da Petrobras de interesse da construtora e do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), também investigado por participar do esquema.

Executivo admite relação com o PMDB

  • São Paulo

O presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, preso na 14.ª fase da Operação Lava Jato, na última sexta-feira (18), admitiu em depoimento ter sido procurado por Fernando Baiano para que a empreiteira fizesse doações de campanha ao PMDB.

Esse depoimento foi dado à Polícia Federal (PF) em 19 de maio. Fernando Baiano também está preso e já é réu em ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele é apontado como operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras.

Azevedo, porém, disse que negou repassar o dinheiro diretamente para Baiano, pois a empreiteira tinha “um critério pré-estabelecido de doação para o diretório nacional sem a existência de intermediários”.

Ele ainda declarou que manteve “relação institucional” com pelo menos seis políticos do PMDB: o vice-presidente da República Michel Temer; o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); o ministro da Aviação, Eliseu Padilha; o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes; o ex-governador do Rio Sergio Cabral e Aloisio Vasconcelos. Azevedo não deu mais detalhes sobre o relacionamento institucional que manteve com os políticos, e negou que a Andrade Gutierrez tenha participado do esquema de cartel em obras da Petrobras.

O e-mail diz: “Petrobras/PR vai conversar com o Governador sobre este novo arranjo com a participação da CNO [Construtora Norberto Odebrecht] (é importante o Sérgio Cabral ratificar! e também definir o seu interlocutor neste assunto que atualmente junto à Petrobras e Mitigue é o Eduardo Eugenio).”

No e-mail que cita Cabral, o executivo da Odebrecht trata de uma obra no âmbito do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Ele divide a mensagem em três tópicos. O primeiro menciona o executivo Julio Camargo, apontado pela PF como lobista de multinacionais e operador de pagamentos a ex-dirigentes da Petrobras. A PF suspeita que Araújo estaria se referindo ao empreendimento Unidades de Geração de Vapor e Energia, Tratamento de Água e Efluentes do Comperj. no qual a estatal petrolífera contratou consórcio formado pela Odebrecht, Toyo e UTC.

A PF destaca a ‘orientação’ que a Petrobras teria dado a Julio Camargo e ao empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, para que a parceria com a Odebrecht se concretizasse.

Em comunicado publicado nesta segunda-feira (22), nos principais jornais do país, a Odebrecht nega ter participado de qualquer cartel na Petrobras. “Não há cartel num processo de contratação inteiramente controlado pelos contratantes, como ocorre com a Petrobras, onde a mesma sempre definiu seus próprios orçamentos e critérios de avaliação técnico-financeiro e de performance.”

O ex-governador Sérgio Cabral negou que tenha agido para incluir a Odebrecht no consórcio que fechou contrato de R$ 11,5 bilhões com o Comperj, em Itaboraí, cidade na região metropolitana do Rio de Janeiro.

Carregador de malas

Além do e-mail, o ex-vice-presidente da Braskem e atual presidente institucional da Odebrecht Alexandrino Alencar afirmou em depoimento à Polícia Federal, em 12 de maio, que recebeu “em quatro ou cinco oportunidades” Rafael Ângulo Lopez, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como carregador de malas de dinheiro do doleiro Alberto Youssef, que lavava o dinheiro do esquema.

Alexandrino Alencar, que também foi preso na sexta-feira, contou que se reuniu em pelo menos duas ocasiões em hotéis de São Paulo com o ex-deputado José Janene (PP-PR) – morto em 2010 –, e com o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Segundo o executivo, também participaram dos encontros o doleiro Youssef e o ex-assessor parlamentar José Cláudio Genu, homem de confiança de Janene no Congresso.

Janene é apontado como o mentor do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro desviado da Petrobras, que deu origem à Operação Lava Jato. Com sua morte, Youssef assumiu o comando do esquema. Alexandrino Alencar disse que “conheceu a pessoa de Rafael Ângulo Lopez, o qual se tratava de um assessor/mensageiro do deputado Janene”.

Lava Jato vai ter ajuda dos EUA para investigar Odebrecht

  • brasília

A força-tarefa ad Operação Lava Jato terá ajuda de autoridades dos Estados Unidos para tentar desmontar a engrenagem supostamente usada pela empreiteira Odebrecht para pagamentos de propinas no esquema de desvios de recursos da Petrobras. O sistema teria usado empresas offshore em nome de terceiros e contas secretas no exterior.

Órgãos de investigação dos Estados Unidos atuarão, a pedido dos nove procuradores da República da Lava Jato, na triagem de depósitos de propina feitos em contas do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Primeiro delator da Lava Jato, ele devolveu US$ 23 milhões apreendidos na Suíça. Esses valores, segundo o Ministério Público Federal (MPF), são uma das provas materiais de que a Odebrecht estaria envolvida no esquema. Em setembro, Costa confessou que o dinheiro era propina paga pela empreiteira, que nega a acusação.

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