Corria 1994, quando um jovem governador paranaense sonhou ser o candidato à Presidência da República pelo partido mais representativo do país. Foi arrasado nas prévias. Doze anos após o primeiro fracasso, a esperança de disputar uma eleição nacional volta a motivar Roberto Requião. Dias após garantir seu terceiro mandato no Palácio Iguaçu, vencendo a campanha mais apertada da história do estado, ele já costura alianças para 2010. E cativa o PMDB local, unânime em defendê-lo como presidente.
"Eu pessoalmente acredito que seja possível", defende o vice-governador, Orlando Pessuti. A receita para transformar a ambição em realidade, segundo ele, é fazer o que Requião já está fazendo. Ou seja, procurar líderes peemedebistas de todo o Brasil para conversar e estreitar o relacionamento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Depois de visitar Lula em Brasília no dia 7, ele esteve com governadores do partido em Santa Catarina, na última sexta-feira. Executou o que o Presidente havia solicitado. Ou seja, serviu como ponte da presidência para uma aliança com o PMDB. Tentou mostrar que pode ser um negociador. Esforçou-se para ir além da imagem de político polêmico que criou durante toda a sua trajetória.
"Claro que ele tem chance. É uma liderança reconhecida, com força, principalmente no Senado", afirma o presidente da Assembléia Legislativa, Hermas Brandão (PSDB). Aliado regional de Requião, mesmo contrariando a chefia tucana, o deputado estadual cita o bom relacionamento do governador com o senador José Sarney. O ex-presidente foi outro dos procurados pelo governador para uma conversa pessoal.
Apesar dos esforços para tentar consolidar a caminhada à presidência, o cenário está longe de ser favorável a Requião, segundo o professor do Departamento de Filosofia Política da Unicamp, Roberto Romano. Para ele, há três possibilidades eleitorais que se desenham para 2010 e apenas uma, ainda assim parcialmente, favorece o governador.
A primeira seria uma mudança na legislação que permitisse um terceiro mandato de Lula, o que enterraria as chances do paranaense. A segunda, a saída do PSDB do governador eleito de São Paulo, José Serra. Na opinião de Romano, a mudança acarretaria uma possível transferência do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, do PSDB para o PMDB. "Nesse caso, o mineiro arrasaria Requião em qualquer prévia do partido."
A única hipótese interessante para o governador do Paraná seria a adesão total do PMDB ao governo Lula. Em troca, o petista poderia apoiar algum candidato peemedebista para sua sucessão. "Está muito claro que o presidente não tem qualquer sucessor dentro do seu partido. Nesse sentido, o Requião se encaixaria muito bem, até pela sua visão de esquerda. É nisso que eu acho que ele está apostando com essas conversas que tem mantido após a eleição."
Outro que enxerga o governador como uma possível alternativa esquerdista é o cientista social Adriano Codato, da UFPR. Para ele, Requião consegue se encaixar nos anseios do empresariado nacionalista e está em uma trajetória ascendente. "Quem vai suceder o Lula? O Eduardo Suplicy, a Marta? Quem é o cara mais de esquerda do Brasil? É o Requião", aponta Codato.
A simples intenção de buscar alianças, no entanto, não será suficiente para o governador superar as fronteiras do estado e ganhar o espaço necessário dentro do partido. Segundo Romano, ele ocupa uma posição peculiar que o prejudica dentro do PMDB. "O Requião não se encaixa no PMDB governista, não é conciliador, nem negociador. E também não tem o embasamento regional do PMDB que faz oposição. Não tem audiência em São Paulo, muito menos no Rio de Janeiro. É até conhecido nacionalmente, mas por ser polêmico, não exatamente por produzir unanimidades", sintetiza.
A dificuldade para conseguir apoios foi um dos fatores que prejudicaram Requião em 1994. Nesse ano, ele disputou sozinho a prévia do PMDB contra o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia. Comprou uma briga pessoal com o rival dentro do partido. No final, o paulista ficou com 82% dos cerca de 20 mil votos em disputa.
Na época, o coordenador de campanha de Requião foi o atual presidente do diretório do partido em Curitiba, Doático Santos. "Aprendemos que temos que nos articular desde cedo, no comitê daqui. Uma candidatura nacional não se faz do dia para a noite", diz.
Essa idéia deve ser refletida na próxima eleição para a direção estadual do PMDB, marcada para o dia 17 de dezembro. Para Doático, o novo presidente estadual terá a missão de encarnar a idéia de Requião como presidente. E mostrar ao Brasil que esse é um sonho possível.