Neste momento de crise da representatividade política, cinco jovens paranaenses vão passar uma semana em Brasília para atuar como se fossem parlamentares na Câmara dos Deputados, propondo e votando projetos sugeridos por eles próprios. As propostas vão da criação do piso nacional dos estagiários à redução da idade mínima para se candidatar a vereador. As votações serão simbólicas, entre os 78 jovens deputados de todo o país. Mas a iniciativa pode ser um bom caminho para que a renovação política flua.
Os estudantes participam do programa Parlamento Jovem 2015, da Câmara dos Deputados, que dá a eles a oportunidade de conhecer e experimentar, durante cinco dias, o trabalho de um parlamentar. A 12.ª edição do programa será realizada de 21 e 25 de setembro. Os selecionados são estudantes do 2.º ou 3.º ano do ensino médio. Para participar, eles elaboraram um projeto de lei para melhorar a realidade do país, com tema livre e impacto nacional. Foram selecionados pelas secretarias de Educação.
Ideias do Paraná
Entre as ideias apresentadas pelos jovens “parlamentares” do Paraná estão a criação de um piso salarial para os estagiários; a redução de 18 para 16 anos da idade para se candidatar a vereador; a proibição de importar e usar ahayuaska no país; a instituição da obrigatoriedade da realização de exames gratuitos para diagnóstico da doença celíaca nos recém-nascidos; e a criação da disciplina obrigatória nas escolas de higiene e conservação de alimentos.
Saúde e solidariedade
Paulo Eduardo Bueno, estudante de 17 anos do Colégio Estadual Albino Feijó, em Londrina, encontrou em uma menina que estuda no mesmo colégio que ele a motivação para escrever o projeto que o leva para o Parlamento Jovem.
“Ela me contou a história dela, sobre tudo que passou com a doença celíaca, a dificuldade que foi para ela se alimentar quando não sabia do problema. Meu projeto é para o amparo dessas pessoas, que não podem ingerir produtos com o glúten [substância presente na farinha de trigo que provoca a doença nas pessoas suscetíveis]”, afirma o estudante.
O projeto que ele propôs torna obrigatório o exame gratuito em todos os recém-nascidos para diagnosticar a doença. Além disso, supermercados terão de agrupar os produtos sem glúten para facilitar a identificação e a indústria teria de estampar nas embalagens se o produto contem glúten.
Aprendendo a limpar
João Brandet, de 16 anos, considera que a participação dos jovens na política vai aumentar a identificação entre políticos e eleitores. “O mundo está precisando de uma educação melhor, de uma saúde melhor. E isso só vai ocorrer caso os jovens comecem a elaborar leis, a se movimentar de modo que os políticos recebam a opinião da sociedade para saber o que precisam fazer”, afirma.
Estudante do Colégio Londrinense, Brandet diz que é de direita e que não participa do movimento estudantil.
A proposta que ele leva ao Parlamento Jovem surgiu de um projeto de iniciação científica: um recipiente para armazenar e evitar a contaminação de alimentos. “Minha ideia é embasada na saúde brasileira e institui a obrigatoriedade da disciplina de higiene e do ensino da maneira correta de armazenar os alimentos, com palestras de profissionais da saúde”, explica.
Para que esperar até os 18 anos?
João Eduardo dos Santos, 16 anos, admite: quer fazer carreira política, disputar eleições e ter um mandato popular para cumprir. Ele dirige o grêmio estudantil do Colégio Luterano Rui Barbosa, de Marechal Cândido Rondon, e preside a Associação Rondonense dos Estudantes Secundaristas. “Tenho vontade, tenho pretensões. Quero seguir carreira política, pretendo ter uma vida pública”, afirma. Ele é filiado ao PMDB e hesita entre a centro-esquerda e o centro.
“Em Brasília, teremos uma jornada fantástica de cinco dias, que nos mostrará como realmente funciona o processo legislativo. Na volta, estarei motivado para a busca de uma solução política. Como? Pelo interesse.”
A proposta que ele apresentou é reduzir para 16 anos a idade mínima para candidaturas a vereador. Segundo Santos, isso sinalizaria aos jovens que eles são importantes na política.
Estagiários do mundo, uni-vos!
Luan Henrique Azevedo da Silva é de Telêmaco Borba, tem 17 anos e há seis anos mora em Curitiba, no Tatuquara, com os avós. O projeto dele cria piso salarial para estagiário e acaba com períodos de testes não remunerados. “O estagiário passa por esse problema hoje. Tem muito jovem fazendo estágio não remunerado, só pela credibilidade da empresa. Só aqui no Tatuquara são 50 mil jovens; uns 30 mil trabalham”, diz.
A ideia de participar do Parlamento Jovem surgiu com o professor de Sociologia Celso Ribas, que o incentivou a escrever o projeto. “Fiz uma boa justificativa, com bom embasamento”, conta.
As articulações começaram antes mesmo da chegada a Brasília. “Estou tentando conversar com a bancada paranaense para que o projeto seja apresentado na Câmara dos Deputados”, adianta Luan, admirador de Leonel Brizola e filiado ao PDT, onde milita no Movimento Reinventando.
É permitido proibir
Lucas Vasco Garcia, de 18 anos, quer ser juiz de Direito. Ele acha que o Parlamento Jovem vai abrir as portas para um mundo novo. “Me interessa essa área, que tem tudo a ver com o Direito, que quero cursar na universidade”, diz ele, que faz o curso técnico de Gás e Petróleo da Universidade Federal do Paraná. Participar do programa é a realização de um sonho. “Conhecer o Congresso, toda essa parte política, tudo concentrado em Brasília, vai ser incrível”, diz .
A proposta que ele apresentou ao programa é de proibir a ahayuaska, um chá alucinógico da Amazônia, usado em rituais religiosos. Teve a ideia assistindo ao noticiário na tevê. “A reportagem mostrava os efeitos muito agressivos ao organismo humano, causando náuseas, alucinações, tremedeiras, sensação de medo e ansiedade. Quando a mulher está grávida e usa, pode causar danos à criança”, diz.
Questionado se não considera autoritário proibir uma substância ritual usada em cultos religiosos e de natureza espiritual dos povos da floresta, ele reafirma o argumento da saúde: “Antes de tudo, essas pessoas estão afetando o organismo delas”.
Lucas não tem militância política. “Meu colégio nem tem grêmio estudantil”, diz. Não se considera de direita, nem de esquerda. “Estou estudando para definir os dois lados”, despista.
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