O discurso de posse do governador Roberto Requião deu o tom do que será o seu terceiro mandato: assim como o primeiro e o segundo, continuará marcado pela arrogância do seu temperamento e pela presunção permanente de que, como um novo Zeus, desceu do Olimpo com a espada da justiça vingadora e com o lança-chamas da verdade absoluta de que se acha possuidor.
Por isso o discurso inegavelmente belo na forma acabou pobre no conteúdo, pois que não aduziu nenhuma novidade a tudo o que já foi dito e repetido à exaustão, especialmente nos palanques da última campanha.
Bem ao seu estilo, posou de vítima. Associou o suposto processo de martirização a que estaria submetido à defesa implacável de tudo aquilo, que a seu modo e de acordo com a sua radical onisciência, considera como sendo do interesse público. Tudo o mais que não coincida com o seu modo de agir e de pensar é contra o interesse público.
A favor do interesse público, por exemplo, é o seu alinhamento à mal ajambrada esquerda representada pelo coronel Hugo Chávez e pelo cocalero boliviano Evo Morales aos quais apontou como inspiradores de sua opção.
A favor do interesse público, no seu entendimento, é o mal disfarçado intuito de colocar-se como neotitular nacional da esquerda órfã de Lula, do velho PT, de Brizola... E de situar-se como opção central das correntes supostamente simpáticas ao populismo renascente na América do Sul, sobre as quais acredita que poderá alicerçar seu projeto presidencial de 2010 um sonho que nunca deixou de sonhar.
Olho vivo
Saúde 1 Em seu discurso de posse, Requião voltou a afirmar que "saneamento é saúde". Ninguém duvida: como diz a ONU, cada real investido no setor economiza quatro em saúde. Perfeito. O que não pode, porém, segundo os Tribunais de Contas, é contabilizar despesas com saneamento para perfazer os 12% da receita orçamentária exigidos pela Constituição para aplicação em saúde, como faz Requião.
Saúde 2 Mas não foi Requião que inaugurou esta prática. No governo Lerner também já se fazia isso. De 2000 a 2002, por exemplo, o estado ficou "devendo" R$ 675 milhões para a saúde pública. No atual governo, com dados apenas de 2003 e 2004, a dívida ficou em R$ 697 milhões, conforme auditoria do Ministério da Saúde concluída em janeiro de 2006.
Mais Crea 1 O presidente do Crea/PR, Álvaro Cabrini, continua inconformado com o que lê nesta coluna a respeito da atuação da entidade em relação ao Porto de Paranaguá. Em nova carta, Cabrini desmente ter engavetado por 200 dias as denúncias feitas por engenheiros do porto contra irregularidades no terminal. Diz ele que "os desdobramentos foram rigorosamente seguidos dentro da nossa competência legal" e se nada parece ter sido feito "é porque nosso poder de ação é limitado pela própria lei."
Mais Crea 2 O presidente do Crea diz ainda que outras conseqüências que sejam estranhas ao seu âmbito de ação têm de ser encaminhadas pelo Ministério Público, que pode agir com poder de polícia. Diz que "nada além da comissão [de Controle Social do Porto] poderíamos fazer em razão ao inconsistente documento". Com a palavra, agora, os engenheiros do porto que, segundo Cabrini, produziram um documento inconsistente.
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"PELA PRIMEIRA VEZ, EM TANTAS DÉCADAS, A MÍDIA FOI COLOCADA SOB SUSPEITA. E CRITICADA, COISA QUE ELA DETESTA MAIS QUE O SATANÁS DA ÁGUA BENTA."
Do governador Roberto Requião, no discurso de posse, ontem, reclamando do tratamento que recebe da mídia e dando lições de maneirismo e cordialidade com que ela precisa se comportar.
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