A campanha eleitoral começa oficialmente neste domingo, quando os candidatos poderão sair às ruas para pedir votos. Muito tempo antes disso, porém, os principais concorrentes na disputa pela Presidência vinham discutindo temas que devem dominar a eleição. Por enquanto, o tom da oposição é de críticas à gestão da presidente Dilma Rousseff (PT) principalmente na área econômica, devido ao baixo crescimento e à inflação persistente. Dilma tem usado os bons índices de emprego como defesa, além de ressaltar os bons resultados na política social. Por outro lado, acusa os adversários de representarem o retrocesso do país. A pedido da reportagem, especialistas da área política elencaram alguns temas que devem ser explorados na disputa pelo Palácio do Planalto e outros assuntos que tendem a ficar de fora dos debates, mas que deveriam ser discutidos. "O que é certo é que vamos ver o governo defendendo o que foi feito e a oposição trazendo os problemas", explica Mário Sérgio Lepre, cientista político da PUCPR. O cientista político Doacir Quadros, do grupo Uninter, alerta, porém, que a Copa do Mundo ainda tem desviado a atenção do debate eleitoral. Ele ressalta que só o início das propagandas eleitorais na tevê e no rádio, em agosto, poderão confirmar os temas da campanha. "O eleitor começa a pensar na eleição a partir da propaganda. Esses temas [elencados na reportagem] trazem indícios de estratégias. Mas só a partir daí são feitos testes para ver se de fato esses assuntos irão alavancar as campanhas."
Inflação e economia
Um dos temas já explorados pela oposição na pré-campanha pode ser considerado o calcanhar de Aquiles da administração de Dilma Rousseff (PT): a economia. Criticada pelo modelo de gestão na área, a petista diz que a inflação está "sob controle", mas já reconheceu que "não está tudo bem". "A oposição vai tentar mostrar que 2015 não vai ser um bom ano para a economia se o PT continuar no poder", diz o filósofo Alcides Schotten, especialista em oratória política. Para o cientista político Fernando Azevedo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), o desafio da oposição será pautar a campanha com esse tema que não é tão próximo do eleitor. "É um debate que contém um nível de complexidade alto. São questões mais abstratas em comparação com os assuntos sociais, por exemplo", diz Azevedo.
Políticas sociais
Enquanto a oposição deve centrar críticas nos pontos em que a administração petista vai mal, Dilma Rousseff tentará mostrar os avanços alcançados na sua gestão, sobretudo na área social Devem ser destacados programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida e o Mais Médicos. "É onde o governo tem o que mostrar", diz o cientista político Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). O cientista político Mario Sérgio Lepre, da PUCPR, afirma que os avanços sociais produziram uma sensação de "bem-estar" na população, o que vai dificultar a campanha dos oposicionistas. "As pessoas estão se sentindo bem porque o desemprego não é alto e as pessoas de baixa renda tiveram acesso a muita coisa. Mesmo assim, há uma sensação de descontentamento com a situação geral do país. Quem conseguir captar esse descontentamento pode pautar a agenda de campanha nesse sentido", afirma Lepre.
Escândalos em baixa
O cientista político da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Fernando Azevedo acredita que as denúncias envolvendo a Petrobras serão citadas durante a campanha, mas não devem fazer parte da pauta permanente dos candidatos. "Há mais uma disputa retórica em torno do assunto. Será um dos pontos [de campanha], mas não o principal", diz. "O eleitor gosta mais de uma campanha propositiva", diz o cientista político da PUCPR Mario Sérgio Lepre. Por isso, afirma ele, diferentemente do que ocorreu em 2010, quando a oposição tentou colar a imagem da presidente Dilma Rousseff ao caso do mensalão, os recentes escândalos envolvendo a administração petista não devem ser muito explorados na campanha. Para ele, nem mesmo os gastos na Copa do Mundo vão ser muito explorados pela oposição. "A Copa, de certa forma, foi positiva para o governo porque não houve o desânimo e o apagão esperados."
Reforma política fora da pauta
Apesar de elencarem a reforma política como um dos temas mais importantes a serem discutidos, os especialistas ouvidos pela reportagem não acreditam que o assunto será pauta da eleição presidencial. "É algo muito abstrato e não tem potencial para se transformar em matéria eleitoral. Mas será alvo de grande discussão na próxima legislatura", diz o cientista político Fernando Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). A discussão da reforma política ganhou força no ano passado, depois dos protestos de junho. Mas, para a especialista em comunicação política Kelly Prudêncio, coordenadora do grupo de pesquisa em comunicação e mobilização política da UFPR, a falta de clareza acabou esvaziando o debate.
Temas morais e religiosos
A campanha presidencial de 2010 ficou marcada pelo posicionamento dos candidatos sobre temas espinhosos, como o aborto. Para as eleições de 2014, o filósofo e especialista em oratória política Alcides Schotten prevê que o assunto deve retornar à pauta. "Não apenas o aborto, mas também a inclusão de grupos minoritários e a liberação das drogas", aposta Schotten. O cientista político da PUCPR Mário Sérgio Lepre também acredita que aspectos morais e religiosos dos candidatos podem ser explorados porque, entre os concorrentes à Presidência, está o Pastor Everaldo (PSC), ligado aos grupos evangélicos. "Não é uma agenda do Executivo, mas é da sociedade", diz Lepre.
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