O Brasil precisa cortar gastos ruins de custeio da máquina pública e de uma reforma tributária fatiada, mas sem perder conquistas sociais ou reduzir direitos trabalhistas, disse o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos. Para ele, isso depende fundamentalmente de uma mudança na governança política. O socialista de 48 anos defendeu também, em entrevista exclusiva à Reuters nesta quinta-feira (17) em São Paulo, que a Petrobras tenha uma política clara e que seja pública de reajustes de combustíveis a exemplo do que ocorre com tarifas de energia e telefonia.
"Nós vamos conter a inflação, nós vamos fazer o Brasil crescer, nós vamos alavancar os investimentos no Brasil, nós vamos conter o gasto ruim, nós vamos fazer o dever de casa que precisa ser feito", prometeu. "Não vamos fazer isso perdendo conquistas sociais, não vamos fazer isso sacrificando o direito dos trabalhadores. Vamos fazer isso com uma governança inteligente, passando confiança aos investidores, tendo coragem de fazer os cortes que a máquina pública precisa."
Tudo isso, na visão de Campos, só será possível com a mudança na relação política, considerada por ele a barreira mais importante a ser vencida. "Agora é um novo ciclo, o padrão político brasileiro está vencido, o padrão de governança do Estado está vencido", disse ele, que luta para vencer o desconhecimento do eleitorado e quebrar a polarização de PT e PSDB, que governam o país há 19 anos. "Quem falar isso para o Brasil vai encantar a vida brasileira e vai ter o apoio da sociedade para fazer mudanças", disse o pernambucano, que anunciou na semana passada a chapa com a ex-senadora Marina Silva para disputar a Presidência.
Segundo ele, se o Brasil pôde derrotar a ditadura, não há por que duvidar que é possível vencer "a velha política que está em Brasília". "Essa é a trincheira que tem que ser derrotada para abrir um novo tempo e um novo ciclo (no país)", disse Campos. "Para mim é muito claro o diagnóstico de que a primeira das mudanças... é uma mudança na política", insistiu o ex-governador de Pernambuco, que numa conversa de quase uma hora evitou se comprometer com metas fiscais.
Petrobras
Se eleito, Campos disse que determinará que a Petrobras tenha uma política clara de reajuste para os combustíveis, semelhante ao que ocorre com outros segmentos da economia. "O setor de energia tem uma regra, telefonia tem uma regra, a passagem de ônibus tem uma regra. Há um preço transversal na economia em questão que é o preço do combustível. Ele tem que ter uma regra. E essa regra tem que estar na equação da política macroeconômica", afirmou o pré-candidato. "Não é a política macroeconômica definir a regra (de reajuste dos combustíveis) em função de sua conveniência."
A Petrobras vem enfrentando deterioração de sua saúde financeira nos últimos anos, entre outras razões pela defasagem dos preços dos combustíveis no mercado interno em relação ao valor do petróleo no exterior e diante de um ambicioso plano de investimentos da estatal. Campos também promete profissionalizar a gestão da estatal para blindá-la da ingerência política.
Redução da carga tributária
Campos deseja que a reforma tributária seja feita de forma fatiada e acredita que terá condições de avançar rapidamente com as mudanças, se eleito, porque "já está tudo debatido". Ele pretende enfrentar as resistências estabelecendo mudanças num horizonte de até 12 anos. "Eu acho que simplificando (a cobrança de tributos) e tornando o sistema mais inteligente, temos como reduzir a carga tributária", afirmou, evitando se comprometer com um percentual de redução.
A carga tributária brasileira gira em torno de 37% e é apontada como um dos entraves para o crescimento da economia. Campos disse ainda que, se eleito, vai manter a lógica de conceder reajustes reais ao salário mínimo, mas pretende discutir a atual fórmula.
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