Eduardo Cunha tenta ganhar tempo dentro da Câmara para se defender das acusações.| Foto: Luis Macedo/ Câmara dos Deputados

A abertura do processo de cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está na agenda do Conselho de Ética da Casa. Porém, com as manobras regimentais adotadas até o momento, a expectativa é que o processo só chegue ao colegiado na próxima quarta-feira (28). Inicialmente, a primeira sessão na qual será escolhido o relator do caso estava marcada para a próxima terça-feira (27). Agora, a sessão será transferida para o dia 3 de novembro.

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Cunha é apontado com homem de negócios arrojado

Os bancos suíços e americanos conhecem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), melhor que os eleitores do deputado. Os consultores do banco sabiam dos negócios do parlamentar, estimavam o tamanho de seu patrimônio e até eram recebidos em casa por Cunha. Os detalhes dessa relação entre cliente e correntista estão descritos nos documentos enviados pelo Ministério Público da Suíça e que serviram para justificar a abertura de mais um inquérito no Supremo.

Pela papelada, fica-se sabendo que Cunha já foi proprietário de imóveis no Rio e em São Paulo — ele nunca informou ter apartamentos ou casas na capital paulista —, que mantém ou manteve contas no Delta Bank, em Nova York — o que também era desconhecido até agora dos investigadores — e que criou a offshore Netherton Investments, utilizando-se de laranjas internacionais, para aportar novos recursos quando seus negócios “no ramo de energia” evoluíssem.

Na descrição feita por executivos do Merrill Lynch, Cunha é qualificado como um homem de negócios arrojado. Em 25 de julho de 2011, Elisa Mailhos, funcionária do banco, afirma que a fortuna dele está avaliada em US$ 16 milhões, e que ele é um investidor “bem conhecido” no Brasil. Em memorando anterior, de 2007, ela já havia afirmado que a fortuna de Cunha fora obtida por meio de ações e no mercado imobiliário. A executiva afirma que Cunha lucrou investindo em imóveis na Barra da Tijuca, descrita no memorando como uma área afastada da cidade. Ela informa que a offshore Netherton foi aberta para “o novo negócio” na área de energia do deputado, e que havia a expectativa de que o empreendimento começasse a funcionar a partir de 2012. Elisa Mailhos também afirma que visitou Cunha em sua casa, na Barra, e que estimava o imóvel entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões.

Os documentos mostram o fluxograma do dinheiro que saiu de contas do lobista João Augusto Henriques na Suíça para contas de Cunha e seus parentes naquele país, a partir de negócios com a Petrobras. Outra informação que surgiu da papelada dá conta de que o deputado mantém ou manteve relacionamento com o Delta Bank, em Nova York. Na papelada, ao ser questionado sobre por que não abria a conta em seu nome, Cunha alegou que “desejava ter uma trust [empresa utilizada para fazer a administração de bens ou valores de terceiros] para seus filhos”.

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O presidente do Conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), afirmou que, uma vez que seja desencadeado o processo, Cunha terá pouca ingerência sobre o dia a dia do colegiado e instrumentos limitados para tentar postergar uma decisão.

“Em abril desse ano, Cunha fez uma resolução dizendo que os prazos para as comissões poderiam ser contados com todo tipo de sessão: ordinária, extraordinária e até debate. Mas, depois que surgiu o processo contra ele, a Mesa da Câmara interpretou que para o Conselho de Ética essa resolução não valia. A resolução foi contra ele. Se ele tivesse pensado melhor, não teria feito”, afirma Araújo.

O presidente do Conselho disse que a manobra de Cunha “atrasa” em uma semana seu cronograma para concluir o processo, mas diz que, depois disso, não haverá mais como ele interferir.

“Com esse atraso, vamos ter que correr para concluir esse ano. Mas, depois disso, Eduardo não tem mais como intervir para atrasar. As manobras que podem acontecer são dentro do Conselho, com pedido de vistas e inclusão de testemunhas”, diz Araújo, que pretende limitar, no processo, cinco testemunhas de defesa.

Nesta quinta-feira (22), o deputado Silvio Costa (PSB-PE), um dos vice-líderes do governo, protocolou na Procuradoria-Geral da República pedido ao procurador Rodrigo Janot para que afaste imediatamente o peemedebista da presidência da Câmara.

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Costa acusa Cunha de chantagear outros poderes e de usar o cargo para se proteger das acusações. Cunha rebateu: “Isso não dá para levar a sério. Estou evitando, ficando longe de qualquer ato que possa tratar desse assunto. Não tomo nem conhecimento”, afirmou.