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Gloria Álvarez é diretora do Movimento Cívico Nacional da Guatemala | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Gloria Álvarez é diretora do Movimento Cívico Nacional da Guatemala| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Cientista política, conferencista internacional e radialista, Glória Alvarez, diretora do Movimento Cívico Nacional da Guatemala, falou com a Gazeta do Povo sobre o populismo e as formas de combatê-lo. Especialista no tema, tornou-se conhecida pela divulgação nas redes sociais de uma palestra proferida em Zaragoza (Espanha), no Congresso Mundial Sobre Defesa e Fortalecimento dos Ideais Republicanos, em setembro.

A melhor ferramenta contra o populismo é o cidadão empoderado. A tecnologia te ajuda a empoderar-se, a adquirir as ferramentas que seu governo tradicionalmente não te dá.

Como a sra. acha que a tecnologia pode ajudar a combater o populismo?

A tecnologia do século 21 segue dando poder ao indivíduo de uma forma nunca vista antes. Os jovens têm de se dar conta do potencial que há nessas redes. Primeiro para se educar, porque o que está acontecendo na América Latina é que os governos doutrinam nossa educação e a tem em retrocesso. Se ensina os jovens a memorizar e a processar informações, mas não a serem críticos, não a questionar. Hoje, os jovens não têm mais porque se conformar com a educação estatal. Através da tecnologia, não só se pode querer outros conhecimentos, como há oportunidade para poder se educar com bolsas de estudos em outros países, com cursos de línguas. A melhor ferramenta contra o populismo é o cidadão empoderado. A tecnologia te ajuda a empoderar-se, a adquirir as ferramentas que seu governo tradicionalmente não te dá.

Aqui no Brasil temos muitas bolsas populistas. O que a sra. pensa sobre esse tipo de benefício?

Eu acredito que a ajuda social não é má por si só. O que me preocupa é a roda da corrupção que se forma ao redor dela. Em vez de tirar pessoas da pobreza, a postergam na pobreza. Se primeiro tivéssemos bolsa de um ano, depois passássemos a ter um programa de microcréditos, logo teríamos uma bolsa de estudos, para que se vá estudar. Em sete anos, você sairia de uma situação de dependência a uma de empoderamento, e esses cidadãos começariam a pagar impostos para financiar outros. Hoje passam as décadas, mas não passamos da bolsa.

O que a sra. pensa da qualidade da educação na América Latina?

Acho que temos muitos desafios. Primeiro, reestruturação. Na Guatemala, o Ministério da Educação não mudou desde os anos 1960. Temos a mentalidade que o professor é o facilitador da aula e que as crianças têm que memorizar dados absurdos. Isso não é tão importante quanto aprender o que é justiça, liberdade, solidariedade, república. Precisamos criar gerações que não memorizem e sim que analisem as coisas. Creio que outro problema sejam os sindicatos de professores. O que os sindicatos querem é formar uma cúpula que economicamente se beneficia do subsídio que recebem. Esse subsídio vai ao seu bolso, não vai melhorar a infraestrutura das escolas. Na Guatemala, eu aposto muito no sistema de voucher, que são vales educativos. Esse vale só pode ser trocado por educação, não se está dando dinheiro. Esse pai pode ir a uma escola que ele queira e isso oxigenaria a competitividade entre as escolas, pois cada uma compete para conseguir mais vales e poder trocá-los no fim do ano. Você está premiando a escola com mais mérito.

A sra. acha que a educação também ajuda a combater o populismo?

Não há melhor ferramenta do que empoderar a educação. A mente é o veículo mais importante de qualquer ser humano, é o único recurso inesgotável. A educação é a única coisa que pode fazer com que cada pessoa possa traçar seu próprio destino. Isso é o que falta na América Latina, porque seus líderes populistas causam o pior dano, o psicológico. Fazem as pessoas acreditarem que são tão miseráveis que não podem fazer sozinhas, e as fazem cruelmente crer que esse líder vai se encarregar delas melhor que elas mesmas. E se você acaba com o poder de um cidadão, está acabando com a sua dignidade, sua razão de existir.

Qual o papel do jovem no combate ao populismo?

Se o jovem não combate o populismo, será escravo. Esse é o preço de um regime que não sabe onde pode parar. A lógica populista já foi experimentada em muitos lugares e sempre termina no mesmo resultado: pobreza e ignorância.

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