O lançamento da candidatura do vencedor do Big Brother Brasil 15, Cézar Lima (PV), à Câmara de Curitiba joga luz sobre um possível “efeito Tiririca” nas eleições municipais de 2016. Em 2010, o palhaço concorreu à Câmara Federal em São Paulo e recebeu 1,35 milhão de votos, garantindo não só a sua cadeira no parlamento, mas trazendo a reboque mais três candidatos da coligação. À parte a imprevisibilidade da performance eleitoral do ex-BBB paranaense, a história política de Curitiba mostra que a capital não tem tradição de “puxadores de voto” capazes de conquistar, sozinhos, cadeiras no parlamento para si e para colegas de chapa.
A última vez que um candidato a vereador na cidade conseguiu mais votos que o quociente eleitoral – número necessário para garantir à chapa uma nova cadeira no legislativo – foi em 1996, quando Íris Simões obteve mais de 26 mil votos. Este resultado garantiu a cadeira de Simões, mas para que ele, sozinho, levasse um colega de chapa para à Câmara seriam necessários cerca de 20 mil votos a mais.
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Leia a matéria completaUma pesquisa feita pelo cientista político Márcio Carlomagno (a íntegra pode ser acessada aqui), doutorando da Universidade Federal do Paraná (UFPR), aponta que os puxadores de voto são, de fato, “pontos fora da curva”. O estudo analisou dados de todos os candidatos de seis pleitos eleitorais: o de vereadores em 2008 e 2012 e o de deputados estaduais e federais em 2010 e 2014.
“Quando acontece esse fenômeno, é muito mais provável que aconteça em lugares com mais vagas, um distrito de magnitude maior, como São Paulo, por exemplo. Ainda assim, no caso dos vereadores, é a esfera de representação onde isso menos ocorre”, diz Carlomagno.
Para o pesquisador, o “efeito Tiririca” é um fenômeno residual. “Temos alguns casos excepcionais, como Tiririca, [Celso] Russomano e Enéas [Carneiro] que acabam ganhando muita atenção. Falamos muito sobre as exceções e criamos o imaginário de que isso é a regra, mas não é”, afirma.
A pesquisa de Carlomagno aponta que no caso das eleições municipais cerca de 88% dos candidatos eleitos integram o grupo de mais votados. Além disso, o cientista político mostra que aqueles que foram eleitos com “ajuda da legenda”, ou seja, os que não integraram o ranking dos mais votados, não tiveram votações muito baixas.
“A quase totalidade dos eleitos esteve a uma distância máxima do dobro de vagas existente”, afirma o artigo final da pesquisa. Segundo o estudo, apenas sete casos, entre os 51.896 eleitos em 2008, e três casos, entre 57.427 eleitos em todo o Brasil em 2012, foram de candidatos realmente mal votados, que ficaram em uma posição abaixo do triplo de vagas existentes na Câmara Municipal.
Para Carlomagno, esses dados podem ajudar o eleitor a decidir sobre seu voto com mais consciência. “Um eleitorado melhor informado sobre este aspecto do sistema eleitoral não só poderá tomar melhores decisões, como também poderá, potencialmente, se sentir menos injustiçado pelo sistema a respeito de suas escolhas. A insatisfação da opinião pública com este aspecto do sistema eleitoral brasileiro é que, na verdade, está infundada”, afirma.
Quociente eleitoral
Para ser eleito para os cargos de vereador ou deputado, o candidato, além de obter votos para si depende também dos votos que serão dados ao partido ou a coligação a que ele pertence. Ao contrário dos cargos majoritários, na eleição proporcional o candidato mais votado nem sempre é eleito. A vitória depende do quociente eleitoral, que define quais partidos têm direito a ocupar as vagas em disputa. O quociente é o resultado da divisão do número de votos válidos pela quantidade de assentos nos parlamentos. Em Curitiba, nas eleições municipais de 2012, por exemplo, o cálculo foi de 23,9 mil votos. Ou seja, para que um partido obtivesse uma vaga na Câmara Municipal, era necessário atingir esse número de votos.
“Quando o eleitor vota no candidato X, ele está votando, na verdade, no partido/coligação e apenas ordenando, dentro do partido/coligação, sua preferência – mas o voto foi dado ao partido/coligação, ainda que as pessoas não compreendam isso”, afirma, em um artigo, o cientista político Márcio Carlomagno.
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