O juiz federal Sergio Moro retomou na manhã desta quarta-feira (30) o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na ação em que ele é acusado de lavagem de dinheiro e recebimento de propina através de um tríplex no Guarujá, litoral norte de São Paulo. Uma das testemunhas de acusação do Ministério Público Federal (MPF), o empreiteiro Armando Magri, disse ter visto a ex-primeira dama Marisa Letícia e o filho Fábio Luís Lula da Silva no imóvel enquanto ele passava por reformas.
Magri é sócio da Talento Engenharia, que foi contratada pela OAS para a reforma do tríplex, que custou R$ 770 mil. Segundo Magri, ele ficou com a impressão de que Marisa nunca tinha ido antes ao tríplex. “Eu fiquei com essa impressão porque ela elogiou demais a vista, mas não posso afirmar que era a primeira vez”, disse o empreiteiro.
Bumlai se nega a falar sobre relação com Lula e MPF desiste de ouvi-lo
Leia a matéria completaNa mesma ocasião em que viu Marisa e Flávio, eles estavam acompanhados pelo engenheiro Paulo Gordilho e pelo presidente da OAS Leo Pinheiro. “Todos circulamos juntos [pelo apartamento]”, disse a testemunha. “Eles ficaram conversando um pouco em uma roda, falando sobre amenidades, falando sobre a eleição que iria ocorrer, doutor Leo Pinheiro contando algumas viagens e depois foram embora”, completou.
Ainda segundo o empreiteiro, ninguém relatou ter encontrado Lula ou Marisa em outras oportunidades durante as obras. Magri também confirmou que, ao visitar o apartamento, não ficou com a impressão de que o imóvel pertencia a Lula e Marisa.
Alberto Ratola de Azevedo, dono da empresa de engenharia terceirizada pela Talento para a realização da obra, também foi ouvido por Moro. Ele negou ter conhecimento sobre o imóvel pertencer a Lula e Marisa. Ele foi o responsável pelo projeto estrutural do elevador privativo do imóvel.
Eduardo Bardavira, que é proprietário de um imóvel no Condomínio Solaris no mesmo bloco do tríplex, também foi arrolado como testemunha de acusação. Bardavira explicou ao MPF que comprou o apartamento 131-A diretamente da construtora por R$ 550 mil e teve que arcar com as reformas necessárias do próprio bolso. Ele negou ter encontrado Lula e Marisa alguma vez no prédio.
O primeiro a ser ouvido foi o pecuarista José Carlos Bumlai. Ao informar que não comentaria sua relação com Lula, foi dispensado por Moro, já que o MPF desistiu da oitiva.
As audiências para ouvir as testemunhas de acusação seguiram durante a tarde. Moro ouviu mais três testemunhas: Carmine de Siervi Neto e Ricardo Marques Imbassahy – diretor superintendente e diretor financeiro da OAS, respectivamente, e o advogado Rodrigo Garcia da Silva.
Quem já foi ouvido
Na semana passada, Moro ouviu 11 testemunhas de acusação, todos delatores da Operação Lava Jato. Foram quatro dias de depoimentos para ouvir o executivo da Toyo Setal Augusto Mendonça, os executivos da Camargo Correa Dalton Avancini e Eduardo Leite, o ex-senador Delcídio do Amaral, os ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, o ex-gerente da estatal Pedro Barusco, o ex-deputado Pedro Correa, o doleiro Alberto Youssef, o lobista Fernando Soares e o operador Milton Pascowitch.
Outro lado
A defesa de Lula, que acompanhou as audiências, disse que até agora os depoimentos foram favoráveis ao ex-presidente. “Das 19 testemunhas arroladas pelo Ministério Público Federal, nenhuma confirma o que está na denúncia”, disse o advogado Cristiano Zanin Martins. Segundo ele, as testemunhas ouvidas nessa quarta-feira reconheceram que a ex-primeira dama tinha apenas uma cota no empreendimento e que Lula esteve no tríplex apenas uma vez.
“Após deixar a Presidência da República, Luiz Inacio Lula da Silva esteve no apartamento do Guarujá (SP) uma única vez, com sua esposa Marisa Leticia, quando expôs a Léo Pinheiro, que os acompanhava, não haver interesse na compra, pois o imóvel não atendia às necessidades da família. D. Marisa retornou ao imóvel mais uma vez, mas as modificações realizadas por decisão da OAS Empreendimentos continuaram a não despertar o interesse da família para a compra”, disse em nota a defesa.
“Lula e seus familiares são vítimas de lawfare, que consiste no uso da lei e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política. Foram abertas diversas investigações e três ações penais contra Lula sem qualquer materialidade, como está ficando claro nos depoimentos que estão sendo colhidos nos últimos dias”, concluiu a defesa.
Entenda o caso
O ex-presidente Lula foi denunciado pelo Ministério Público Federal em setembro por ter recebido R$ 3,7 milhões em propina da empreiteira OAS, uma das beneficiárias do esquema de corrupção na Petrobras. Essa propina, de acordo com a denúncia, foi paga por meio de um apartamento triplex no Guarujá (SP) e pelos custos de armazenamento de bens do ex-presidente depois que ele deixou a Presidência da República.
Outras sete pessoas também foram denunciadas, entre elas a esposa de Lula, Marisa Letícia Lula da Silva, o ex-presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto e executivos da OAS.
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