Plenário vazio na Câmara de Ponta Grossa: poucas discussões viraram rotina durante a campanha eleitoral. Sessão durou 13 minutos na última segunda-feira| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Assim como na Câmara Municipal de Curitiba – que tem realizado sessões curtas, com recorde de menos de meia hora –, também no interior do Paraná a campanha eleitoral está influenciando o trabalho dos vereadores. Os reflexos são a mudança no horário dos encontros, a queda no número de projetos discutidos e mesmo a redução no tempo dedicado às sessões. A reportagem da Gazeta do Povo analisou a rotina no Legislativo Municipal de oito cidades paranaenses e constatou o esvaziamento nas Câmaras.

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Às 15 horas de segunda-feira, horário marcado para o início da sessão da Câmara de Ponta Grossa, somente o presidente Valfredo "Laco" Dzázio estava no plenário. Ele esperou mais dez minutos e declarou aberta a sessão, com apenas nove dos 15 vereadores presentes. Exatos 13 minutos depois, os trabalhos foram encerrados: com a aprovação de três denominações de ruas e vários pedidos de obras nos bairros e a derrubada de um veto (que dava nome para uma rua que oficialmente não existe). Dois vereadores chegaram depois que a sessão já havia acabado e os outros dois faltaram – um está internado no hospital e o outro está em campanha para ser prefeito da cidade.

Candidato à reeleição, o vereador George Luiz de Oliveira (PSDB) reconhece que chegou atrasado à sessão e diz que merece "levar falta". Justifica-se, alegando que pediu para o assessor certificar-se de que não havia nada "contundente" na pauta de discussões e decidiu continuar no gabinete.

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Para o analista de sistemas Marcio Miyagi, a redução na carga de trabalho dos vereadores mostra o descomprometimento com a função de representante popular. Na legislatura passada, as sessões eram noturnas. Mas os vereadores mudaram o horário para o início da tarde e um dos motivos alegados foi a tentativa de facilitar a vida dos vereadores-candidatos.

A situação se repete em outras cidades do Paraná. Em Umuarama, os vereadores reduziram o expediente pela metade desde o começo da campanha eleitoral. Agora, a Câmara Municipal fica aberta ao público entre 8 horas e 13h30. O presidente Marcelo Neli (DEM) diz que a redução também tem por finalidade permitir a mudança de endereço – já que a Câmara será transferida para a sede própria até a metade do próximo mês.

Para evitar acusações, Neli afirma que está cumprindo o horário de expediente na Câmara, mas parte do tempo acaba destinando para cuidar de assuntos ligados à campanha eleitoral. Pelos corredores do prédio o que se vê são gabinetes fechados ou eleitores à espera de vereadores para pedir algum tipo de ajuda.

A busca pelos votos também tornou mais rápida a sessão ordinária semanal dos 11 vereadores de Apucarana, na região Norte do estado. Apenas três integrantes da Casa não estão concorrendo à reeleição. Os demais, em tempos de campanha, têm como prioridade a busca de votos dos eleitores. As sessões, realizadas nas noites de segunda-feira, que duravam até três horas, agora têm pouco mais de uma hora.

Em apenas 13 minutos, os oitos vereadores presentes na última sessão ordinária da Câmara de Farol, na região Centro-Oeste do estado, aprovaram o recebimento de um projeto do Executivo autorizando o município a abrir um crédito suplementar no orçamento de 2008, no valor de R$ 23 mil, um convite de uma festa em escola e duas indicações legislativas, além do encaminhamento do projeto para avaliação das comissões da Câmara.

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Em período eleitoral, os vereadores de Paranaguá chegam a alterar o horário regimental das sessões para não prejudicar o trabalho da campanha. As reuniões deixam de ser nas noites das terças e quintas-feiras e passam a ser no início da tarde. O encontro realizado na terça-feira durou apenas 33 minutos – já descontados os 11 minutos de atraso para o início dos trabalhos no plenário.

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Colaboram Osmar Nunes, Maurício Borges, Dirceu Portugal e Anderson Maciel, correspondentes.