Eles têm no máximo 1 minuto e 46 segundos do horário eleitoral gratuito para pedir voto, mas prometem fazer de tudo para serem lembrados pelos eleitores. Os candidatos à Prefeitura de São Paulo com menor pontuação nas pesquisas de intenção de voto prometem driblar com criatividade a falta de tempo e dinheiro.
A candidata do PPS, Soninha Francine, vai aproveitar sua familiaridade com as câmeras para, "em uma linguagem simples, passar o máximo possível de informação", explica o coordenador de Comunicação da campanha, Maurício Huertas. "Ela vai falar muito. Vamos nos preocupar menos com a forma e mais com o discurso." E, para que a conversa não pare por aí, a candidata convidará os telespectadores a visitar seu site ao final de cada programa.
Como já mostra em seus passeios de bicicleta pela cidade, Soninha deve apostar no tema mobilidade urbana. "A campanha vai centrar fogo na redução das distâncias e no povoamento do centro da cidade", diz Huertas.
Ciro Moura, da coligação Tostão Contra Milhão (PTC e PT do B), não reclama dos 65 segundos diários que terá na televisão. Ele lembra que em anos anteriores, teve 25 segundos a menos. Essa extensão aconteceu por causa da maior representatividade do partido na Câmara, além de a disputa municipal este ano ter menos candidatos.
"O programa será como uma novela, dividido em capítulos", revela Moura, explicando que cada dia um problema da cidade será abordado. O candidato afirma que, para conseguir expor todas as suas idéias num período tão curto, é preciso ter muita capacidade de síntese e didática - além de criatividade.
Ivan Valente, da coligação Alternativa de Esquerda para São Paulo (PSOL e PSTU), deve lançar mão do humor para atrair a atenção do público. O coordenador de campanha de TV do candidato Diogo Rodrigues, explica que haverá animações e toques de ironia. "O programa terá recursos humorísticos para aproximar os eleitores da discussão", diz. Contra a falta de tempo, o candidato convidará os telespectadores a conhecerem suas propostas no seu site.
Os temas centrais abordados por Valente serão transportes, educação e a dívida pública da cidade. O candidato deve questionar o financiamento de campanha de seus adversários. "Mostraremos que nosso candidato não é financiado por banqueiros como os outros", afirma Rodrigues. "A princípio não vamos atacar ninguém, mas fazer debate político.
Renato Reichmann, do PMN, deve priorizar a educação, bandeira de seu partido, de acordo com Marcelo Ferraz, proprietário da produtora que fará os programas do candidato. "Ele deve bater bastante em educação e saúde." Reichmann propõe que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) funcionem 24 horas por dia, e não oito, como acontece atualmente. Ferraz diz que Reichmann deve aproveitar uma diária de estúdio para gravar vários programas de uma vez e depois editá-los.
O candidato do PRTB, Levy Fidélix, pretende usar uma "verba ínfima". Formado em Publicidade e Jornalismo, ele próprio vai dirigir o programa. Para driblar os parcos recursos, ele deve alugar estúdios e equipamentos e reaproveitar fitas de campanhas passadas. "Sou meu próprio Duda Mendonça", brinca, em referência ao ex-marqueteiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Fidélix vai sustentar em seu programa que é o autor de propostas aplicadas por seus adversários. "Vou mostrar para o povo de São Paulo quem é o pai dessas idéias", promete. Ele se diz o "verdadeiro mentor" de projetos como a medida adotada pelo prefeito e candidato à reeleição pelo DEM, Gilberto Kassab, de restringir a circulação de caminhões.
Outras medidas que ele alega terem sido "copiadas" são o Rodoanel e o Fura-Fila - batizado inicialmente por ele de Aerotrem. O primeiro teve sua construção iniciada pelo ex-governador Mario Covas (PSDB) e o segundo, pelo ex-prefeito Celso Pitta. De acordo com Fidélix, as idéias foram registradas em cartório em 1996. "Vou dizer ao povo: já que as idéias são minhas votem em mim.
Ideologia
Edmilson Costa, do PCB, e Anaí Caproni, do PCO, devem usar seus 54 segundos para propagar mais ideologias do que propostas para a cidade.
Costa promete uma campanha combativa, que defenda a "governança comunista". "Confiamos muito nesse quase 1 minuto", diz o candidato. "Vamos colocar o dedo na ferida e buscar soluções para inverter a lógica do capitalismo.
E para provocar os "burgueses", o PCB usará o humor. "Há uma parte do programa em que me perguntam como consigo fazer campanha e continuar trabalhando", conta Costa. "Respondo que devem perguntar aos outros candidatos: se eles não trabalham, quem paga as contas deles?" Enquanto isso, aparecerá na tela a ilustração de um "bon vivant", de "cara bolachuda" em com um charuto na boca. "O típico burguês", explica Costa. O candidato defenderá a municipalização dos transportes, a tarifa zero nos coletivos e a criação de uma televisão pública municipal.
Anaí aproveitará os poucos segundos que tem para atacar justamente a falta de tempo. "A escassez de tempo reflete a forma antidemocrática como as eleições são feitas", informou a equipe de campanha da candidata. "A campanha do PCO abrirá um debate sobre o caráter antidemocrático das eleições." O PCO pretende ainda criticar a repressão política e defender as lutas operárias e estudantis.